Trabalhadores dos Correios podem deflagrar greve nesta quinta (12)

Contra o projeto de privatização da empresa e a Reforma Administrativa, ECTistas deliberaram sobre o movimento paredista em assembleia. Caso o indicativo seja aprovado, a categoria cruza os braços em 17/08

0

Encaminhado ao Senado Federal nesta terça-feira (10), o Projeto de Lei n° 591/2021 pode acabar com um sistema que há 358 anos promove a universalização do serviço postal e garante funções sociais, como a entrega de livros didáticos e a emissão de documentos em todo país. Isso porque a proposta apresentada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido), pretende privatizar os Correios, que são, atualmente, a maior empresa de logística da América Latina. Neste sentido, as trabalhadoras e trabalhadores da estatal organizam uma greve geral com o objetivo de travar a movimentação do Projeto no Senado Federal e impedir que mais esse patrimônio do povo brasileiro seja entregue à iniciativa privada. 

“A greve estava prevista, à princípio,  para ser deflagrada no dia 16/08, mas, como vai acontecer o movimento nacional do serviço público contra a Reforma Administrativa no dia 18 de agosto, decidimos adiar um pouco e propor para a categoria deflagrar a greve a partir das 22h do dia 17, para que assim possamos nos incorporar a esse movimento com os demais servidores”, explica a presidenta do Sintect/DF, Amanda Corcino.

Para a sindicalista, o governo está aproveitando esse momento para aprovar projetos impopulares, uma vez que, como o próximo ano será marcado pelas eleições, Bolsonaro pode perder muito apoio no Congresso. “O centrão está com o governo, mas não estará no precipício”, avalia. 

Prejuízos da privatização 

Amanda Corcino esclarece que, caso os Correios sejam privatizados, existem dois tipos de prejuízos para a população: os econômicos e os sociais. No primeiro caso, a sindicalista afirma que, nos países em que os correios foram privatizados, houve aumento nas tarifas e precarização dos serviços prestados. “A gente precisa entender que essa não é uma lógica mundial. Só temos oito correios totalmente privatizados no mundo inteiro e a área desses países não chega ao território do Mato Grosso, por exemplo”, explicou. 

A liderança sindical afirmou ainda que, em países de tamanho continental como o Brasil, é de praxe que esse serviço seja público, justamente para garantir que ele chegue a todas as pessoas. “Temos apenas 324 cidades que dão lucro. O lucro dessas cidades é usado para custear esse serviço em todo o país. As  empresas privadas não vão querer agir dentro desse modelo, porque vão visar apenas o lucro. As experiências que a gente viu nos dois últimos países que adotaram essa lógica privatista, Portugal e Argentina, mostraram que as cidades periféricas, de interior, mais afastadas, não tiveram mais acesso a esses serviços. As unidades de correios que havia nesses lugares foram fechadas porque a iniciativa privada não as considerava lucrativas”, relatou Amanda. 

No que diz respeito aos prejuízos sociais que podem ser ocasionados pela privatização, a sindicalista destacou os serviços que a empresa estatal realiza além das entregas de correspondência ou encomendas. “Os Correios têm serviços sociais como a emissão de documentos, regularização dos mesmos, entrega de kit de antena digital, entre outros. A empresa realiza ainda a entrega dos livros didáticos e, às vezes, um carteiro passa três dias de barco na região amazônica para chegar a uma escola e entregar esse material”, explicou. 

Amanda Corcino ainda afirmou que a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é a maior operação logística do mundo, pois, em um espaço de poucas horas as provas são entregues de forma simultânea em todo o país com a garantia do sigilo. “Eu não vejo o que essa privatização vai trazer de benefício para a nossa população”, analisou.

A luta continua

“Não podemos esperar até 2022. Precisamos ocupar as ruas porque a gente não sabe quem sobreviverá e o que ainda vai estar de pé até o fim desse governo desastroso, um governo que está desmontando todas as áreas, meio ambiente, cultura, educação, estatais, o serviço público. Todos nós temos direitos  que estão sendo atacados por esse governo, só com a nossa unidade vamos pôr fim a essa destruição do estado brasileiro”, concluiu a sindicalista.

O Sintect/DF é um dos sindicatos de servidores públicos que realiza assembleia esta semana para deliberar sobre a participação das categorias no dia nacional de luta contra a reforma administrativa, que acontece no dia 18/08, com paralisações e greves de vários segmentos. Em Brasília, acontecerá uma mobilização, com local e horário ainda a definir.

Assista à entrevista da sindicalista para o CUT-DF Entrevista:

Fonte: CUT-DF