Seminário aprofunda discussão sobre saúde mental dos bancários

0

Sob condução da deputada Erica Kokay (PT-DF) e realização do Sindicato dos Bancários e da Fetec-CUT/CN, ocorreu na quinta-feira (4), na Câmara dos Deputados, o I Seminário “O preço da saúde mental no trabalho bancário”.

Na ocasião, o Sindicato lançou a cartilha “Você não está sozinho! Cuidando da saúde mental do bancário”, que apresenta o perfil do bancário que procurou o atendimento da Clínica do Trabalho nos últimos dois anos. A cartilha orienta o bancário a como proceder quando perceber os sintomas de sofrimento mental.

Clique aqui para baixar a cartilha.

Mônica Holanda, secretária de Saúde do Sindicato, destacou que “na atual conjuntura, em que enfrentamos sérias ameaças aos direitos fundamentais dos trabalhadores, como saúde e previdência, urge ampliarmos o diálogo com a academia e com parlamentares comprometidos com a saúde dos trabalhadores para qualificarmos nossa atuação e intervenção sindicais”.

O tema foi amplamente debatido pelos pesquisadores e acadêmicos Álvaro Roberto Crespo Merlo (Faculdade de Medicina/UFRGS), Ana Magnólia Mendes (Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da UnB) e Fernanda Duarte, responsável pelo serviço de pesquisa e psicologia no Sindicato.

Também contribuíram para a discussão o presidente do Sindicato dos Bancários, Eduardo Araujo; o presidente da Fetec-CUT/CN, José Avelino; as secretárias de Saúde dessas entidades, Mônica Holanda e Conceição Costa; e o bancário Enilson Silva, representando a Contraf-CUT.  

Araújo agradeceu a deputada pela iniciativa. “Apesar de uma agenda negativa que está pautando o país, ela encontrou espaço para discutir esta questão que vai além da categoria bancária, afetando todos os trabalhadores, principalmente na conjuntura atual.”

“Este é um momento de refletirmos sobre a ausência de perspectivas dos trabalhadores, que sofrem com o assédio moral e a ruptura de princípios divinos, quais sejam estabilidade no emprego e promoção por antiguidade”, destacou Erika Kokay.

Encaminhamentos do seminário

Em pauta na Câmara desde o ano passado, o assunto será aprofundado pelas entidades em reunião nos próximos dias. A sistematização das ideias servirá de base para audiência pública a ser realizada em breve e que terá como objetivo formatar propostas legislativas de política nacional para a saúde mental dos trabalhadores.

O trabalho está em constante transformação

Para o professor Álvaro Merlo, o trabalho se transforma permanentemente e é imperioso que se faça uma reflexão sobre a realidade do trabalho bancário hoje e, ao mesmo tempo, que se pense no futuro para que se estabeleçam regras e limites para as novas formas de se trabalhar decorrentes do avanço da tecnologia.

O professor destacou que o trabalho bancário é uma das atividades que mais se transformaram nos últimos 30 anos. Falou das mudanças nos atendimentos na clínica do trabalho que, até 1988, eram basicamente patologias osteomusculares.

“Nos últimos 5 anos, aumentaram os casos de doença mental, mas as pessoas não consultam [o médico] por este motivo. Porém, quando perguntamos como ela se sente no trabalho, a pessoa começa a chorar, denunciando um longo processo de solidão e sofrimento psíquico produzido pelo trabalho que pode levar ao adoecimento e até mesmo ao suicídio.”

Prevenção e diagnósticos precoces

Além de falar sobre o processo de pesquisa dos riscos psicossociais e de acolhimento dos bancários realizados pelo Sindicato desde 2013, Ana Magnólia ressaltou a importância de se investir na formação dos médicos e dos psicólogos que atendem os trabalhadores.

“Se todos os profissionais tivessem uma formação mais específica, voltada para questões do mundo do trabalho, talvez nós já tivéssemos diagnósticos precoces e uma prevenção dos adoecimentos e de suas consequências, como o suicídio”, enfatizou.

Banalização do desrespeito

Fernanda Duarte, psicóloga responsável pelos atendimentos no Sindicato, explicou os dados da pesquisa da cartilha e destacou a banalização do desrespeito no local de trabalho, que tem se tornado um forte instrumento de gestão no setor financeiro e também uma das principais causas do adoecimento da categoria, além de conflito com gestores, colegas e clientes, pressão e cobrança por metas inalcançáveis.

“A pessoa vai tendo vários problemas desde infecções, dores pelo corpo, conjuntivite, até chegar ao adoecimento mental. Mesmo assim, ela reluta em buscar atendimento nesse sentido.”

Segundo Fernanda, muitas pessoas que procuram o Sindicato já estão com passando por atendimento psiquiátrico há algum tempo. “São pessoas que trabalham no limite das suas forças. Quando buscam auxílio, estão extremamente adoecidas e já afastadas do trabalho.”

Além da preocupação em formar profissionais qualificados, a pesquisadora falou da dificuldade do INSS em reconhecer o adoecimento relacionado ao trabalho. Essa relação está prevista em legislação (Decreto 6042/07) que trata do Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP).

Clique para assistir ao evento na íntegra: http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/webcamara/videoArquivo?codSessao=57519

Rosane Alves
Do Seeb Brasília