Artigo de Zezé Furtado|Respeitem as mulheres. Basta de violência!

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Em tempos de esperanças, enfrentar e combater o assédio e a violência contra as mulheres, valorizar e defender seus direitos e dignidades

Abre-se um novo tempo de esperanças no Brasil. Estamos mais fortalecid@s para os combates contra as desigualdades, os preconceitos, o patriarcado e suas heranças: o machismo, o racismo, o feminicídio, a homofobia, e todas as formas de assédios e violências contra os seres humanos, especialmente contra as mulheres trabalhadoras. Para nós que lutamos por direitos, justiça social, dignidade humana, democracia, o atual contexto sociopolítico e econômico é o de resgatar o que foi perdido e avançar no que precisamos conquistar.

É certo que temos um ambiente de relações humanas, sociais e políticas ainda fortemente marcado por intolerância, autoritarismo, agressividade e desrespeito às mulheres e aos homens, na vida privada, mas principalmente nos locais de trabalho, com aumento das pressões patronais do sistema financeiro por metas, lucros, reduções de direitos, agressões à organizações sindicais e de aumento assustador dos casos de assédios, abusos e perseguições de todas as formas, especialmente contra as trabalhadoras do Ramo Financeiro. Mais do que nunca, nós, mulheres, precisamos nos organizar coletivamente para estudarmos, refletirmos e agirmos concretamente na defesa de nossos direitos, por mais participação, valorização, reconhecimento, respeito, espaço e equidade.

Nos fortalece a definição política e ideológica de respeito e valorização das mulheres, nas instituições da sociedade civil (incluindo os sindicatos), e nas instituições do Estado brasileiro, com grande presença e protagonismo ativo de mulheres em ministérios, empresas e órgãos públicos, como BB e Caixa, e outras instâncias do executivo, legislativo e judiciário.

O exacerbamento da violência moral, psicológica, sexual e profissional, contra as mulheres bancárias, em Brasília e outros Estados, é o motivo das recorrentes reclamações de assédios praticados contra as mulheres dentro dos diversos espaços dos bancos.

À frente da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Bancários do DF, temos recebidos várias denúncias de mulheres que sofrem cotidianamente algum tipo de violência praticadas por homens. Assédio moral, assédio sexual, intimidações de todas as formas.

Quando essas denúncias são trazidas ao Sindicato, buscamos interlocução com os bancos, na tentativa de uma solução para o conflito. Porém, a experiência tem demonstrado que, apesar do esforço consumido pelos agentes de pessoas dos bancos, as soluções não atendem por diversos motivos. Regras ditadas por uma cultura organizacional hierarquizada e com fortes heranças machistas, da subalternização das mulheres e afirmação dos valores do patriarcado.

Sabemos que nossa sociedade, nossa formação cultural e nossos valores são profundamente arraigadas de machismo – filho primeiro do patriarcado, quer nas relações humanas, quer nas relações de trabalho.

Essa cultura e as práticas advindas dela se configuram na violação da dignidade das mulheres, nos abusos, nas culpabilizações, no julgamento unilateral. Há sempre a necessidade de uma prova material e ou testemunhal para dar andamento a um protocolo nas instâncias de ouvidoria, quando as palavras das vítimas deveriam ser suficientes. O que as mulheres sentem, dizem, denunciam, não são levadas em conta. Sabemos que muitos assédios são de difíceis comprovações materiais e testemunhais. Ficam as versões do agressor diante da agredida, numa sociedade que não valoriza e desacredita as falas das mulheres.

Faltam treinamentos adequados às pessoas que lidam com pessoas. Faltam adequações nos protocolos e métodos de abordagens e resoluções dessas reiteradas denúncias de agressões nos locais de trabalho. Às mulheres, vítimas do ponto de vista psicológico, moral e corporal, restam os ônus das provas. É quase sempre a culpabilização das vítimas, como manda a cultura machista dominante nas instituições e na sociedade.

Precisamos de regras mais claras e objetivas para resoluções desse cotidiano de abusos. É preciso transparecerem os resultados de apurações e de processos disciplinares, no âmbito dos gestores e da ouvidoria. Sem regras e protocolos mais objetivos/efetivos não superaremos estas tristes páginas de nossas relações de trabalho.

Há evidentes condescendências e absurdos processos de naturalizações dessas recorrentes e indignas práticas de homens, sejam colegas de trabalho, sejam gestores.

As soluções dadas pela ouvidoria e pelas gestões de pessoas das empresas quase sempre são separar a convivência dos dois pólos da denúncia (agressor X agredida), mesmo que essa separação seja ínfima, como por exemplo, entre o primeiro e o segundo andar de uma agência e ou de um mesmo prédio. Quando há realocação de funcionári@s em outro prefixo, na maioria das vezes é a vítima da agressão que aceita se mudar, e ainda sofre a punição de ver recomeçar a contagem do seu tempo de trava de ascensão/movimentação (tempo mínimo necessário para que ocorra movimentação de prefixo e ascensão de função exigido por cada instituição bancária).

Portanto, consideramos urgente o estabelecimento de formas e regras objetivas e eficazes para apurações e resoluções das denúncias das mulheres bancárias. Assim poderemos ter renovadas as relações entre o Sindicato e os bancos, que sejam marcadas pelo respeito, dignidade, justiça, que venham melhorar e aprimorar as relações políticas e institucionais, guardadas as autonomias, liberdades e os distintos papéis e obrigações de cada um e que possam tornar saudáveis as relações e condições de trabalho.

Esse recomeço, agora em tempos de esperanças, liberdades e respeitos aos direitos d@s trabalhador@s, têm como princípios o combate às agressões, aos assédios e a todas as formas de abusos que atentem contra as dignidades das mulheres, por apurações e resoluções eficazes e céleres das denúncias, que busquem erradicar as violências nas relações de trabalho. As novas gestões dos bancos públicos têm a possibilidade e o dever de enfrentar esse contexto tóxico que foi criado nos últimos anos. Termos duas mulheres à frente das duas principais instituições bancárias públicas do país (BB e Caixa) é símbolo de um novo tempo no Brasil.

É chegada a hora de lutarmos juntas pela ratificação da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) pelo Brasil, convenção esta que enfrenta e combate todas as formas de assédios e violências nos locais de trabalho e descreve formas de condutas para os efetivos combates às práticas contra as mulheres trabalhadoras, além de orientar ações a serem desenvolvidas por governos, gestores, instituições e empresas.

É isso que buscamos, é por isso que lutamos, e nessas batalhas nosso Sindicato estará sempre em combate, sem recuar, sem tergiversar, sem abrir mão dos direitos da classe trabalhadora. Mãos à obra, hora de agir!

Brasília, fevereiro de 2023.

Zezé Furtado
Secretária de Mulheres
Sindicato d@s Bancári@s do Distrito Federal