Prestação de serviços dos bancos cobre 113% da folha de pagamento

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No período de altas taxas de inflação que o Brasil passou até a edição do Plano Real, em 1994, o ambiente inflacionário garantia elevadas receitas aos bancos (floating). Com a estabilidade mantida deste então, a cobrança pela prestação de serviços passou a ter papel fundamental no resultado das instituições financeiras, contribuindo para o alcance de lucros recordes. Assim, enquanto em 1994 as receitas de prestação de serviços representavam 6,25% do total das receitas do setor bancário, no final de 2005 este percentual dobra e chega a 12,7%.

Esses dados fazem parte de estudo encomendado pelo Sindicato ao Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), apresentado à imprensa no dia 20 de junho, na sede da entidade.

"O estudo faz parte da nossa campanha pela melhoria do atendimento ao público, o que inclui a redução das tarifas escorchantes que os bancos cobram da população", afirma André Nepomuceno, diretor de Estudos Socioeconômicos do Sindicato.

Um salto de 582%


Em 94, os bancos cobriam 26,0% do total das despesas de pessoal com a soma de todas as receitas de prestação de serviços. Em 2005, a cobertura da folha de pagamento do sistema financeiro com cobrança de tarifas subiu para 113,9%. Em valores, a receita das instituições bancárias com tarifas aumentou R$ 35 bilhões em 12 anos – de R$ 6 bilhões, em 1994, para R$ 41 bilhões, em 2005 (veja no quadro).

Ou seja, entre dezembro de 1994 e dezembro de 2005, o montante das receitas de prestação de serviços aumentou 582,0%, em valores nominais, enquanto as despesas de pessoal cresceram 56,5%, diante de uma inflação acumulada de 168,9% segundo o Índice do Custo de Vida (ICV), calculado pelo Dieese.

Segundo o estudo do Dieese, o cliente do sistema financeiro tem duas alternativas quanto ao pagamento dos serviços bancários: optar por um "pacote/cesta" – cujo custo médio mensal em fevereiro último chegava a R$ 22,48 – ou pagar tarifas avulsas pelos mesmos serviços, caso em que o custo eleva-se para R$ 28,06. No primeiro caso, o valor correspondia a 7,49% de um salário mínimo e, no segundo, a 9,35%.

O valor anual pago pela contratação de um "pacote/cesta" (R$ 269,76) ou em forma de tarifas avulsas (R$ 336,72) supera o valor de uma cesta básica.

Depois das operações de crédito e de tesouraria, a terceira maior fonte de arrecadação dos bancos tem origem na cobrança de prestação de serviços aos correntistas. "A importância desse estudo decorre do impacto da cobrança destes serviços sobre a renda do cliente bancário e também pela sua crescente participação no lucro dos bancos", afirma Ana Quitéria, economista da subseção do Dieese, responsável pelo estudo.