#NaLutaPorIgualdade, bancários apontam desigualdades no país e na categoria e defendem em mesa definições da campanha

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O abismo causado pelas desigualdades no nosso país se reflete indiscutivelmente na categoria bancária. Mulheres, negros, LGBTs e pessoas com deficiência, assim como no Brasil, estão entre os grupos mais discriminados dentro da categoria bancária. Nesta perspectiva, a luta por igualdade de oportunidades é um dos eixos centrais de discussão com os bancos na Campanha Nacional dos Bancários 2020.

As propostas da categoria discutidas nesta quinta-feira (13) apontam para o fim das desigualdades nas instituições bancárias, que atingem preponderantemente as mulheres, negros, homossexuais e pessoas com deficiência (PCDs).

No entanto, na reunião de negociação com a Fenaban, a discussão foi acalorada e resultou em dois pedidos de suspensão das negociações. “Aguardávamos nesta negociação o compartilhamento dos dados do Censo da Diversidade, mas não foi isso o que se deu”, lamenta o presidente do Sindicato, Kleytton Morais.

Reconhecendo que o contexto político foi desfavorável ao tema, justificou-se assim o fator responsável pelo resultado da consulta que ficou muito aquém do que se pretendia. “De fato as dificuldades da adesão imediata de um grande banco à consulta foi um lamentável fator conjuntural, que ocasionou alteração a consulta. Por certo, alterou sua categoria de censitária para uma pesquisa amostral. Ainda assim – a despeito da enorme perda, isso não inviabilizaria um retrato atual da categoria”, complementou o dirigente sindical.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mesmo as mulheres representando 48,8% da categoria em 2018, obtiveram renda média 21,75% menor que os bancários. A divulgação da pesquisa possibilitaríamos fazer comparações com os outros censos e observar o alcance das ações realizadas nos últimos anos.

Mas a questão de gênero não se restringe à remuneração. Em tempos de pandemia, as mulheres seguem sendo sobrecarregadas com as triplas, quádruplas jornadas. A nova realidade as expõe inclusive à violência doméstica, que aumentou consideravelmente depois do início da quarentena em todo o país. Pesquisas apontam que, no Brasil, mulheres vítimas de violência costumam se ausentar do trabalho, em média, por 18 dias.

Resposta: Programa de prevenção à violência doméstica e familiar contra bancárias

O Comando Nacional reivindicou a incorporação à Convenção Coletiva da conquista assegurada, logo no início da pandemia do novo coronavírus, da criação de um programa de prevenção à prática de violência doméstica e familiar contra bancárias, que também garante o apoio àquelas que forem vítimas.

No programa está prevista a criação pelos bancos de canais de apoio para que bancárias vítimas de violência busquem assistência, acolhimento e atendimento. Para a diretora de Mulheres do Sindicato, Zezé Furtado, a pandemia veio evidenciar a urgência em assegurar a implementação desse programa, uma vez que a violência doméstica teve aumento considerável durante a quarentena. “Toda a sociedade deve ser responsável em adotar práticas que previnam a violência doméstica contra as mulheres.”

Por outro lado, quando o recorte é racial, a discrepância é ainda mais gritante: menos de 5% de pessoas negras estão nos cargos de diretoria das instituições financeiras. No Censo da Diversidade do ano passado, aplicado pelas entidades sindicais que representam os bancários, 68,8% da categoria se disseram brancos; 24,3% pardos; 28,2% negros e 2,8% amarelos. Cinco anos antes, a remuneração média de pessoas negras era de 87,3% em relação à dos brancos.

Orientação sexual e identidade de gênero também são sinônimos de discriminação entre os bancários e bancárias. Uma pesquisa da própria Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) mostra que a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queer, intersexuais e assexuais (LGBTQIA+) representa quase 9% da população brasileira.

A pesquisa ainda revela que, enquanto mais da metade dos profissionais LGBTQIA+ não assumem sua orientação sexual ou a identidade de gênero, os outros não a escondem, mas não falam abertamente do assunto no ambiente de trabalho para se integrar entre os colegas.

“Esta é uma triste realidade que acomete os trabalhadores de quase todas as categorias por pura displicência dos empregadores. Os bancos não valorizam devidamente a diversidade entre seus empregados e por conseguinte não educam seu público interno sobre tolerância com a devida veemência. O colega trabalha com medo do julgamento do outro colega e com a certeza de não ser protegido pela instituição”, argumenta o diretor do Sindicato Edson Ivo.

“Ao final das negociações de hoje e após cobrarmos os dados do censo e sinalizarmos para a apresentação da proposta para que possamos caminhar para o fechamento da campanha, a Fenaban compromete-se em assegurar acesso aos dados do censo e informou que em recente reunião com o setor houve a sinalização pela negociação do tema do trabalho remoto, além da expectativa de avançar na contratação coletiva ainda em agosto”, conclui Kleytton Morais.

A próxima rodada de negociação com a Fenaban será nesta sexta-feira (14) e vai tratar de cláusulas sociais.

Da Redação