Lembrar para não esquecer: peça retrata crueldade da ditadura militar

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O que você faria se fosse proibido de ouvir a música que mais ama? E se fosse preso e torturado por isso? Pois, há pouco tempo, o que parece ficção sombria realmente poderia acontecer com qualquer um, afinal, na ditadura militar, o arbítrio era parte do jogo. Essa página infeliz de nossa história é o mote da peça “Prisioneiro 12.207”, que entrará em cartaz nos dias 6 e 7 de abril no Teatro dos Bancários (EQS 314/315 – Asa Sul), com entrada franca.

No palco temos Alex, personagem interpretado por Bruno Estrela, que vende discos numa loja de vinis em 1970. Alex começa a ter medo de vender os discos. Recusa-se a parar de vender seus discos. Os discos passam a ser chamados de materiais subversivos. Alex se torna um criminoso por disseminar materiais subversivos. Alex é preso. E aqui começa o seu tormento. Preso e torturado pela ditadura, ele tem sua rotina de torturas alterada pela chegava de Martina, uma mulher misteriosa que parece vir do passado para despertar seus sentimentos mais profundos e confrontá-lo com verdades que podem mudar o destino dele e do seu país.

Imerso em seus pensamentos e diálogos com personagens duvidosos, a peça reflete a solidão e a fragilidade às quais alguns seres humanos foram expostos. Vemos quatro artistas entregues a uma história dura, mas redentora, que mistura realidade e imaginação, dor e amor, angústia e esperança ao brincar com a percepção do público sobre os personagens e seus conflitos. A peça é também uma homenagem aos que resistiram à ditadura, deram suas vidas pela liberdade e tiveram seus nomes esquecidos pela história.

Inspiração

A dramaturgia é fruto de uma extensa pesquisa sobre a ditadura militar no Brasil, baseada em livros, documentos e depoimentos de pessoas que sofreram na pele as violações dos direitos humanos. O texto também se inspira livremente em trechos do relatório da Comissão da Verdade, que investigou os crimes cometidos pelo regime. Bruno Estrela, autor e ator da peça, revela a dificuldade ao ler o relatório da Comissão da Verdade para a escrita do texto.

“Conhecer os detalhes das atrocidades cometidas, a dor das vítimas e dos familiares foi muito duro, mas só me fez ter mais certeza de que era preciso contar essa história mais uma vez para que ela não seja esquecida, ou pior, distorcida de forma cruel. Prisioneiro 12.207 é um alerta para as novas gerações sobre os perigos de se repetir os erros do passado. São crueldades que aconteceram há pouco tempo. E se observarmos atentamente, fica claro que estas ameaças à liberdade humana ainda rondam a sociedade brasileira”, diz Silvia Viana, produtora, diretora e atriz da peça.

Uma criação de Bruno Estrela e Silvia Viana, que também atuam como protagonistas, a peça ainda conta com a participação de Gaivota Naves e Guilherme Cobelo, e da banda Joe Silhueta interpretando músicas autorais.

Da Redação