Leilão da Lotex é cancelado mas empregados seguem mobilizados

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Em mais um Dia Nacional de Luta em defesa da Caixa, empregados e empregadas de todo o país realizaram nesta terça-feira (28) protesto contra o fatiamento da empresa e a venda da Lotex, a Loteria Instantânea Exclusiva. Em Brasília, o ato se concentrou em frente ao edifício Matriz III, prédio onde está a superintendência responsável pelas loterias.

Durante o protesto, os empregados de Brasília ressaltaram que o desmonte da empresa não interessa à população e que independente do cancelamento do leilão da Loteria Instantânea, a luta continua firme em defesa do patrimônio do povo brasileiro.

“Pela sétima vez o governo tentou vender a Lotex e não conseguiu. A falta de comprador camufla a dificuldade do governo em impor uma agenda tão amarga a sociedade, afinal, segundo pesquisa, mais de 70% da população é contra a privatização da Caixa. Nossa luta tem alcançado o povo e as falácias do governo não tem surtido efeito. Afinal, como justificar a venda de um ativo tão rentável e benéfico à sociedade, senão para o enriquecimento de algum ente privado? Sabemos que o governo não vai parar por aí e continuará tentando privatizar a Caixa”, frisou Antonio Abdan, dirigente do Sindicato. “Continuaremos firmes e intransigentes na luta por nossa empresa, por um Brasil mais justo e com mais distribuição de renda. Continuaremos na luta pela manutenção da Caixa 100% pública”.

De acordo com a diretora da Federação dos Bancários do Centro Norte (Fetec-CUT/CN) e empregada da Caixa, Maria Gaia, “tanto o governo anterior, do golpista Michel Temer, quanto o atual, querem entregar o filé para que o país fique com o osso. Existem banqueiros privados, inclusive estrangeiros, interessados em explorar a loteria da Caixa para pegar todo o recurso financeiro. O Brasil não ganha, o povo não ganha. Quem vai ganhar é o mercado, o sistema financeiro. Não descansaremos”.

Hoje, cerca de 37% do lucro obtido pelas loterias é direcionado para programas sociais.

“O Sindicato vai continuar circulando pelos locais de trabalho, em diálogo permanente com os trabalhadores da Caixa e com a população para reforçar a importância desta empresa para o conjunto da sociedade. É uma insanidade tentar convencer as pessoas de que o fatiamento da empresa é bom para o país diante do retrocesso social e econômico que representa entregar a Caixa para o ganancioso sistema financeiro”, ressalta Kleytton Morais, diretor do Sindicato.

Números não justificam venda

De acordo com o balanço do banco público, de 2011 a 2016 as loterias da Caixa arrecadaram R$ 60 bilhões. Desse total, R$ 27 bi foram destinados para áreas sociais. Apenas em 2016, as loterias operadas exclusivamente pela Caixa arrecadaram R$ 12,9 bilhões, dos quais R$ 4,8 bi foram transferidos para programas sociais. Desse total, 45,4% foram direcionados para a seguridade social, 19% para o Fies, 19,6 % para o esporte nacional, 8,1% para o Fundo Penitenciário Nacional 7,5% para o Fundo Nacional de Cultura 7,5% e 0,4% para o Fundo Nacional de Saúde.

Para Henrique Almeida, empregado da Caixa e diretor do Sindicato, “a venda da Lotex é só a ponta desse iceberg, já que a tentativa de enfraquecimento da Caixa se arrasta há anos. Uma prova disso é a redução de 17 mil empregados no quadro funcional da empresa de 2014 para cá. Sem reposição, o reflexo é sentido por cada empregado e pela população. Isso tudo para desmoralizar a imagem de uma empresa pública centenária e fundamental como a Caixa”.

“Esse ato demonstra que temos que ter mais que resistência nesse momento, temos que ter unidade, pois só assim poderemos barrar essa investida que o governo tem feito reiteradamente contra a nossa empresa e contra as estatais. Além disso, é preciso lutar pelas nossas pautas específicas, como o combate ao assédio reinante na Caixa, seja o assédio moral, seja o assédio sexual, contra o adoecimento psíquico e contra os descomissionamentos arbitrários de colegas que estão no dia a dia dando o sangue pela empresa”, enumera Francinaldo Costa, diretor da Fetec-CUT/CN.

O valor a ser arrecadado pelo leilão também caiu muito. Em 2016 especulava-se em até R$ 4 bilhões; no primeiro edital, em 2017, com concessão de 25 anos, o valor mínimo estava em quase um R$ 1 bilhão. Agora a expectativa é de arrecadar R$ 642 milhões com o pagamento da outorga em três anos, concessão por 15 anos e parcelamento em 4 vezes, uma verdadeira liquidação do patrimônio brasileiro. Além da loteria, a direção do banco e o governo querem se desfazer das áreas de cartões, seguridade e gestão de recursos.

Os estudos para a venda da Lotex começaram em agosto de 2017, e o edital foi aprovado em setembro do ano passado.

Joanna Alves
Do Seeb Brasília