Brasil ultrapassa a marca de mil mortes por dia e escalada da pandemia preocupa países vizinhos

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Na terça-feira (19), o Brasil ultrapassou a trágica marca de mil mortes em um dia por Covid-19. Foram registrados 1.179 óbitos em 24 horas e o total de vidas ceifadas pelo coronavírus chegou a 17.971. O número de infectados chegou a 271.628, colocando o país na terceira posição no ranking mundial de casos confirmados da doença.

Com 65.995 casos confirmados e 5.147 mortes registradas em 19 de maio, o estado de São Paulo sozinho apresenta números bem piores que os de países como o Chile, que atingiu 49.579 casos e 509 mortes, e a Argentina, com 8.371 casos e 382 mortes.

A perda das condições adequadas de controle sobre o contágio por coronavírus e o acelerado ritmo de expansão da pandemia no Brasil preocupam os países vizinhos e atraem as atenções do mundo para a situação na América do Sul. Órgãos científicos e especialistas enxergam a escalada do caos no Brasil como decorrência da falta de coordenação e de rigor no cumprimento das medidas de isolamento social. Apontam como causa a inexistência de um comando centralizado e, sobretudo, a atuação errática do governo federal, em confronto com os governos estaduais.

A magnitude da pandemia no Brasil é ainda subdimensionada. Os números são, certamente, bem maiores. Isso porque o país só conseguiu fazer até agora cerca de 350 mil testes. Destes, 150 mil estavam com processamento pendente no início da semana. A Espanha, com população cinco vezes menor, fez 1,3 milhão de testes.

Mortos por milhão de habitantes

O crescimento vertiginoso do número de casos e a alta letalidade da Covid-19 no Brasil colocaram em estado de alerta as autoridades dos países vizinhos. Os presidentes da Argentina, do Uruguai e do Paraguai já alertaram para a gravidade da situação. Para o paraguaio Mario Abdo Benítez, “o Brasil é, talvez, o lugar onde o coronavírus tenha maior expansão no mundo, e isso é uma grande ameaça.”

Nesta quarta-feira (20), com 18.859 óbitos confirmados, o Brasil registrou taxa de 89,8 mortes por milhão de habitantes, ficando em terceiro lugar em letalidade por coronavírus na América do Sul, depois do Peru, com 93, e do Equador, com 152.

O Chile registrou taxa de letalidade de 28,6, seguido de Bolívia (18),  Colômbia (12,7), Guiana (12,5), Argentina e Bolívia (8,9), Uruguai (5,7), Suriname (1,6), Paraguai (1,5) e Venezuela (0,3).

Ações dos vizinhos

Chile

Com 18,7 milhões de habitantes, o Chile adotou como política a ampla testagem para diagnóstico da população. Em meados de abril, o país já havia feito mais de 90 mil testagens e acabara de adquirir mais cerca de um milhão de testes. A declaração de estado de catástrofe ocorreu em 18 de março.

Argentina

A Argentina adotou quarentena geral e obrigatória no dia 20 de março. Com 44,4 milhões de habitantes, o país vem realizado ampla testagem e exerce rigoroso controle das fronteiras.

Como o distanciamento social massivo, o governo argentino conseguiu fazer com que o pico da curva de contágio, que era esperado para a terceira semana de maio, fosse postergado para a primeira quinzena de junho.

O uso de máscara passou a ser obrigatório em transportes públicos, comércios, bancos e outras agências de atendimento ao público, tanto para os clientes quanto para os atendentes. Caso descumpram a orientação, fiscalizada pela polícia, os argentinos são multados.

Uruguai

Com 3,5 milhões de habitantes, o Uruguai declarou emergência de saúde e adotou as seguintes medidas: distribuição de máscaras nos ônibus, medida tomada juntamente com a Câmara de Transporte do Uruguai; suspensão das aulas por tempo indeterminado; controle dos preços da cesta básica e de produtos de higiene e limpeza; suspensão de atividades sociais e apresentações públicas como cinemas, teatros, museus, cassinos e shoppings.

Negacionismo no Brasil

O distanciamento social foi introduzido no Brasil por decisão dos governadores dos estados. No entanto, a rigidez das medidas foi bastante inferior à dos países vizinhos. Isso porque o presidente brasileiro passou a negar a dimensão da pandemia e a defender a quebra do isolamento social.

Com a pressão exercida pelo governo federal, os estados começaram a flexibilizar as medidas de distanciamento ainda em abril, sem coordenação e sem dados confiáveis sobre a expansão da pandemia. A tragédia começou então a se consumar, conforme mostram os números atuais.

“A velocidade do contágio e a letalidade da Covid-19 surpreenderam a comunidade científica e desnudaram a existência de um governo genocida no Brasil”, diz a secretária de Saúde do Sindicato, Vanessa Sobreira.

Evando Peixoto
Colaboração para o Seeb Brasília