Bancos pagam R$ 1 bi, em quatro anos, de remuneração aos executivos

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No entanto, a diferença não é tão exorbitante quanto os valores totais podem sugerir na comparação com os demais setores da economia.

A Petrobras, por exemplo, pagou R$ 7 milhões a seus administradores, enquanto o Bradesco desembolsou R$ 150 milhões. Mas a petrolífera dividiu esse montante entre 26 executivos e o banco, entre cerca de cem funcionários. Ainda assim, o executivo do banco recebeu em média quase seis vezes mais.

Juntas, as 21 empresas pagaram entre salários e bônus R$ 691,9 milhões a diretores e conselheiros no ano passado. O valor é cerca de 11% superior ao registrado em 2004 e 127% acima de 2002.

Os dados foram extraídos dos relatórios enviados à SEC. O xerife do mercado de capitais americano exige transparência de quem faz emissões de American Depositary Receipts (ADRs), as ações de empresas estrangeiras em Wall Street.

A divulgação detalhada sobre como as empresas remuneram seus dirigentes é uma das determinações da SEC. É uma prática normal nos Estados Unidos, menos na Europa e raro no Brasil. As companhias brasileiras que negociam ADR com níveis 2 e 3 apresentam relatórios anuais com base em regras contábeis americanas.

A SEC vai aumentar a exigência de transparência salarial. Nos relatórios anuais de 2007, as companhias precisarão detalhar todos os benefícios concedidos aos diretores, que podem ir de jatos particulares a jóias de clubes.

A lei brasileira não é tão abrangente. Deixa nas mãos das companhias a opção por divulgar o montante global pago a administradores (conselheiros e diretores) ou os salários individuais. A regra inclui ainda benefícios de qualquer natureza e verbas de representação.

A opção no Brasil acaba recaindo sobre as informações em conjunto, não por cada um dos administradores. A alegação das companhias é que as condições de segurança no país impedem a individualização dos dados.

Mesmo quando enviam seus dados à SEC, as empresas brasileiras não especificam a remuneração. Poucas distinguem o montante atribuído a conselheiros e a diretores. É difícil estabelecer inclusive o número exato de beneficiados pelas somas apresentadas.

"A questão da remuneração é um dos pontos mais sensíveis da governança corporativa no Brasil. Não houve progresso nessa questão", afirma Lie Uema do Carmo, membro do núcleo de governança corporativa da escola de direito da Fundação Getúlio Vargas.

Para se ter acesso às informações completas sobre o sistema de remuneração das companhias brasileiras, um investidor precisa recorrer a vários documentos para montar um quebra-cabeça. O montante global, por exemplo, pode ser encontrado em atas de assembléia. Já a distribuição entre salário fixo e participação nos lucros pode ser vista nas demonstrações financeiras. E assim vai.

O que pode parecer uma questão menor para alguns significa milhões de reais no bolso de outro, por isso as normas de governança corporativa pedem um detalhamento sobre os salários.

"Para um investidor pode ser essencial saber o quanto o presidente e o diretor financeiro de uma empresa ganham. Ele pode comparar com outras companhias e saber se aquilo é muito ou pouco", explica Lie. Além disso, a especificação de uma remuneração atrelada a resultados pode mostrar o quanto um executivo vai se empenhar para atingir uma meta.

Muitas vezes, a segmentação fica por categorias. O Itaú, segundo maior banco privado do país, faz a distinção nos R$ 159 milhões pagos no ano passado: R$ 85 milhões foram salários dos membros do conselho de administração e diretores executivos, e os outros R$ 74 milhões estão relacionados aos planos de gestão e de participação nos lucros. Entre 2003 e 2004, a remuneração global dos dirigentes triplicou.

O Unibanco, terceiro maior banco privado país, em 2002 informou ter pago a soma global de R$ 14,9 milhões para 23 conselheiros e executivos. No ano passado, a remuneração total foi de RS$ 114 milhões, desta vez para 97 pessoas, entre membros do conselho de administração, executivos, comitê de revisão e outros dirigentes. No Itaú, um grupo de 30 diretores recebeu R$ 37 milhões em 2002.

Algumas vezes, mesmo a remuneração global divulgada pelas companhias pode levar a alguns enganos. As empresas costumam informar um teto máximo de salários, um valor que muitas vezes pode não ser atingido. O Bradesco podia pagar até RS$ 130 milhões em 2004, mas gastou RS$ 110,4 milhões. No ano passado, quando registrou o maior lucro líquido de sua história, o banco pagou exatamente o teto: R$ 150 milhões a cerca de cem executivos.

Ao se analisar a remuneração dos administradores brasileiros, não é possível dizer que o salário deles acompanha a evolução dos lucros. Em 2005, Bradesco, Itaú e Unibanco obtiveram crescimento do lucro líquido de 80,2%, 39% e 43,2%, respectivamente. Por sua vez, a remuneração global aos dirigentes aumentou 31,5% no caso do Bradesco e 74,7% no Itaú. Caiu 2,6% no Unibanco, mas o número dos dirigentes cobertos também diminuiu de 109 a 97 entre 2004 e 2005. (Assis Moreira. Colaborou Carolina Mandl, de São Paulo).

Valor Econômico