Bancárias PCD querem mais visibilidade e respeito no ambiente de trabalho

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A mulher com deficiência é mais vulnerável ao desemprego, à baixa remuneração e à violência. É o que comprova a pesquisa Pessoas com Deficiência e as Desigualdades Sociais no Brasil, divulgada pelo IBGE no final de 2022. Os dados apontam que a desigualdade social, um dos maiores problemas do Brasil, atinge mais duramente pessoas com deficiência física ou mental e revelam que a taxa de participação de PCD no mercado de trabalho é de apenas 28,3%. O seu rendimento médio mensal é de R$ 1.639, enquanto os trabalhadores sem deficiência recebem em média R$ 2.619.

As bancárias PDC enfrentam discriminações e se sentem desrespeitadas no seu ambiente de trabalho. Larissa Lopes, diretora da Fetec-CUT/CN e bancária da BV Financeira, tem cegueira em um dos olhos e baixa visão no outro. Ela reforça que o acesso ao mercado de trabalho é bem mais difícil para as mulheres, além da desigualdade salarial entre gêneros, graças ao machismo e preconceito que reinam no Brasil. “Agora, imagina como é a situação para uma pessoa com deficiência? É infinitamente maior”, ressalta.

Larissa conta que ela e seus colegas que ocupam cargos destinados aos PCD, muitas vezes são ignorados quando há promoções, além de não disporem das condições necessárias para trabalhar com dignidade. “Acabamos ocupando vagas com menor remuneração e em lugares não muito visíveis”, lamenta.

Mas Larissa garante que ela e os colegas irão continuar lutando pelos direitos dos PCD. “Espero que um dia possamos competir de forma igualitária, independente de gênero e de condições físicas”.

A empregada da Caixa Isabella Morato, autista com transtorno de colapso sensorial, é outro exemplo da dura realidade enfrentada pelas pessoas com deficiência. Para ela, o maior desafio para o PCD no mercado de trabalho é o reconhecimento de cada um e a boa gestão de suas habilidades a fim de gerar a real inclusão e trazer bons resultados para todas as pessoas com deficiência (física ou mental). “Todas as mulheres, sejam PDC ou não, sofrem com discriminações no ambiente de trabalho. Porém, ser mulher autista é ser ignorada, incompreendida. Eu sofro muito com a falta de compreensão dos gestores da Caixa”, afirma.

Na opinião da bancária, a invisibilidade é um dos principais problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência. Isabella defende que a Caixa precisa identificar seus funcionários PCD, cognitivos, para os colegas e clientes neurotípicos (que não manifestam alterações neurológicas ou do neurodesenvolvimento, como autismo) compreendê-los melhor. Para isso, ela está propondo uma campanha interna de conscientização, intitulada “Cada um é cada um …E eu sou autista”, em que os PDC utilizariam camisetas com dizeres como, por exemplo, “autista feliz”. “Seria uma forma do outro nos identificar e abraçar a nossa causa”, observa.

Superação

Se a vida te der um limão, faça uma limonada! Este é o lema de Sílvia Ribeiro Pina, que tem deficiência física e trabalha na Caixa há quatro anos. Determinação e otimismo, herança da avó materna, a sua grande incentivadora, fizeram dela uma vencedora. “Enfrentei várias barreiras, mas dei a volta por cima. Todos os nãos que levei, e não foram poucos, serviram para o meu crescimento”, afirma.

Graças ao apoio familiar recebido, Sílvia não mediu esforços e foi à luta em busca de emprego. Estudou muito, fez cursos de especialização, e conseguiu trabalhar em grandes empresas como Embratel e Itaú. Mas é na Caixa, onde está desde 2019, que ela se sente feliz. E garante que nunca sentiu discriminação, nem por parte dos colegas e nem dos gestores do banco.

Silvia avalia que o incentivo e apoio dos familiares são fundamentais para os PCD. “Muitos se vitimizam, mas é porque foram criados como doentes”, observa. Ciente de que conseguir se inserir no mercado de trabalho é bem mais difícil para os PCD, ela dá um recado: “É preciso sair da zona de conforto e ir à luta. A vida nos oferece um leque de oportunidades. O importante é se dedicar bastante, estudar muito e nunca desaminar”.

“É preciso mudar essa realidade”

Secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Vanessa Sobreira reitera que as mulheres são as mais precarizadas no mercado de trabalho. “Mulheres PCD, então, encontram ainda mais dificuldade. É preciso mudar essa realidade e dar condições reais de inserção dessas mulheres no mercado de trabalho”.

“Nenhuma mulher se vangloria em ser guerreira, aquela que supera as adversidades e se desdobra em mil para atingir os objetivos, já que é o que fazemos desde sempre. E para as mulheres PCD, os desafios são infinitamente maiores. Nossa luta por igualdade de oportunidade passa pela garantia de acessibilidade, pela valorização e pelo respeito”, ressalta Rafaella Gomes, secretária de Saúde e Condições de Trabalho da Fetec-CUT/CN.

“Nada sobre nós sem nós”

O lema “Nada sobre nós sem nós”, adotado pelo movimento das pessoas com deficiência, representa a determinação pela busca da plena participação e inclusão. Segundo a ONU, existem pelo menos 1 bilhão de pessoas com deficiência em todo o mundo, representando 15% da população mundial. Em maior ou menor grau, todas encaram o desafio de conquistar o seu lugar numa sociedade que ainda não aceita as diferenças e classifica a deficiência como uma incapacidade da pessoa.

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília