Após dia de debate, empregados da Caixa definem pauta de Brasília para 38º Conecef

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A construção coletiva da 38ª edição do Congresso Nacional dos Empregados e Empregadas da Caixa (Conecef) está a todo vapor. Na sexta-feira (20), foi a vez dos empregados do DF discutirem e definirem suas contribuições durante o encontro específico, realizado em formato híbrido, dentro da programação do 11º Congresso Distrital dos Bancários do DF e Entorno. Os delegados para o debate nacional, marcado para os dias de 8 a 10 de junho, também foram eleitos na oportunidade.

Parte da Campanha Nacional dos Bancários 2022, os debates do dia apontaram os descontentamentos, desafios e anseios de empregados e empregadas acerca de temas como saúde, condições de trabalho, Funcef, GDP e Bônus Caixa. O futuro da empresa pública, importante patrimônio do povo brasileiro, também esteve em discussão.

Além de mais contratações, os empregados e empregadas do DF aprovaram a manutenção da Caixa como patrocinadora da Funcef, GDP voltada para o desenvolvimento de pessoas e não para resultados, entre outras reivindicações.

Meritocracia para quem?

O início do debate pautou a política de gestão de pessoas do banco público, afetada, alterada e piorada sobremaneira depois de 2016. Os convidados para a discussão, Leonardo Quadros, diretor-presidente da Apcef São Paulo, e Rachel Weber, diretora da Fenae, fazem coro aos demais trabalhadores ao classificarem a Gestão de Desempenho de Pessoas (GDP) e o Bônus Caixa como instrumentos de assédio e adoecimento.

“Se quando da implementação, em 2013, a GDP era tida como ferramenta de valorização dos empregados, hoje nós sabemos que é uma armadilha, usada para absolutamente tudo, em todos os processos de RH, inclusive para descomissionamento. No último ciclo, a gestão da Caixa conseguiu piorar a avaliação, trazendo dos anos 1980 a curva forçada”, criticou Quadros.

Para Rachel, “temos oportunidade de jogar no lixo essa política de gestão de pessoas que só adoece. Os empregados e empregadas da Caixa precisam participar da construção de um novo modelo de gestão, na direção de uma Gestão de Desenvolvimento de Pessoas mais democrática e participativa”.

Futuro da Caixa e do país

Ex-presidente da Caixa entre 2006 e 2011, Maria Fernanda Ramos Coelho foi a palestrante da segunda mesa e fez um resgate histórico do Brasil e desta empresa de 161 anos, que nasceu do sonho de liberdade de povos escravizados. Empregada aposentada, Maria Fernanda apontou que o resgate do papel social da Caixa é uma das principais missões para os tempos que se avizinham. “A Caixa é vítima de uma política de desinvestimento e o processo de privatização que ameaçou o banco digital é prova disso. Hoje, precisamos reconhecer que foi nossa a resistência contra a venda deste banco, coração da Caixa”, pontuou Maria.

Ao lado da ex-presidenta da Caixa, a secretária-geral do Sindicato e coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa), Fabiana Uehara, destacou que “se a gente não defender a Caixa hoje, não teremos Caixa amanhã. A defesa intransigente da Caixa passa também por defender seus empregados. Nós somos a empresa, e é preciso lutar por melhores condições de trabalho e valorização”.

E completa: “o futuro da nossa empresa também passa por um governo com compromisso com a classe trabalhadora, por sua vez organizada, pautada pela construção coletiva, mobilização e unidade”, disse Fabiana.

Funcef: ameaças e desafios

Representantes eleitos pelos empregados e empregadas para a Funcef, Jair Pedro e Maria Gaia destacaram ameaças e desafios que precisam inspirar propostas para o Conecef deste ano. Além de mencionar as mudanças estatutárias ocorridas ao longo dos últimos anos, cujo objetivo é a redução da participação e voz dos participantes do fundo de pensão, os eleitos apontaram a interferência do governo federal nas previdências privadas fechadas como outra batalha a ser encarada.

Segundo Jair Pedro, novo Diretor de Benefícios, “para além de defender a Funcef e seus participantes, é preciso lembrar que nosso adversário não está entre nós. No momento, nosso adversário é o governo federal, o ministro da Fazenda e os bancos privados. Conto com a colaboração de todos para garantir um mandato a serviço dos participantes, como deve ser”.

Perguntada sobre a redução do equacionamento, a conselheira eleita Maria Gaia diz que “não dá para administrar R$ 85 bilhões aplicando e investindo em caderneta de poupança. Tem outros investimentos melhores que a poupança. Lembremos que previdência é um investimento de risco alto, é possível minimizar os riscos e fazer investimentos que efetivamente tragam o retorno que os participantes querem”.

Saúde, condições de trabalho e lucro

Filipe Barreiros, economista da subseção do Dieese na Fenae, relacionou os resultados obtidos pela Caixa com saúde e condições de trabalho dos empregados durante a última mesa de debate. “É fato que o lucro expressivo da Caixa é fruto do sacrifício das condições de trabalho dos empregados e da venda de ativos. A lógica é a neoliberal, mercadológica e atrelada ao adoecimento. Assim, combater o adoecimento dos empregados também passa pelo fortalecimento do aspecto público do banco com ações pontuais e mudança estrutural”, afirmou Felipe.

A apresentação do economista foi seguida por uma conversa com a diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus, sobre os resultados da pesquisa sobre saúde do empregado e aposentado da Caixa. Com dados alarmantes sobre adoecimento psíquico, a dirigente aponta para a necessidade de emissão das Comunicações de Acidente de Trabalho, além de luta para caracterizar depressão e ansiedade, por exemplo, como doenças relacionadas ao trabalho bancário.

“O quadro de adoecimento já era ruim e está bem piorado a partir de agora. O sofrimento pode ser individual, mas a saída é coletiva. O que vemos hoje, no entanto, é uma gestão onde os trabalhadores lidam sozinhos com tarefas que só podem ser resolvidas coletivamente”, contou Fabiana.

Propostas aprovadas

  • Fim do modelo atual de GDP e negociação de novo modelo com a representação dos(as) empregados(as) – CEE/Caixa
  • GDP voltada para o desenvolvimento de pessoas e não para resultados
  • Que hajam instâncias recursivas de resultado das avaliações da GDP com participação da representação dos(as) empregados(as) – CEE/Caixa
  • Mais contratações
  • Buscar – para as eleições gerais – candidatos(as) que tenham compromisso histórico e progressista com as empresas públicas. Esclarecer a categoria para que apoie estes(as) candidatos(as)
  • Não retirada do patrocínio da Caixa na Funcef sob qualquer justificativa
  • Contra a rescisão unilateral do convênio pela patrocinadora. Luta contra o CNPC 53/2022
  • Que a patrocinadora não transfira a gestão do patrimônio da Fundação para entes privados, em especial para qualquer empresa do sistema financeiro
  • Revogação da alteração estatutária de 2021
  • Que a Caixa promova e forneça formação previdenciária aos(às) empregados(as)
  • Campanha de preenchimento e emissão de CAT para os casos de Covid
  • Que a Caixa divulgue (volte a divulgar) o resultado da(s) pesquisa(s) de clima organizacional
  • Que os resultados da pesquisa de clima organizacional seja vinculado também ao resultado dos gestores e não só da unidade
  • Retorno de programa de pré-aposentadoria em modelo debatido com a representação dos(as) empregados(as)
  • Vale academia
  • Moção de apoio a SÉRGIO SOARES e repúdio à direção da Caixa

Moção de apoio a Sérgio Soares

O encontro aprovou uma moção de apoio ao empregado da Caixa Sérgio Soares, vítima de assédio pela direção da empresa. Confira:

Moção de apoio a SÉRGIO SOARES e repúdio à direção da Caixa

SÉRGIO SOARES é funcionário de carreira da Caixa há 32 anos. Trabalha na Agência Guaianases, na Zona Leste de São Paulo. Já foi diretor da APCEF/SP, do SEEB Guarulhos e da FETEC/SP. Ele é amplamente reconhecido por sua luta em defesa dos direitos de trabalhadores bancários. Numa cidade em que 32% da população é negra, Sérgio Soares é membro de uma minoria na CAIXA, onde ainda há poucos funcionários negros e negras.

Durante o período mais crítico, após o retorno do trabalho presencial, com a chegada no Brasil da variante ômicron do coronavírus, obrigando um número elevadíssimo de empregados a se afastarem por terem sido contagiados, Sérgio gravou um vídeo no qual solicita a ajuda das entidades representativas dos empregados, em face das péssimas condições de trabalho nas unidades da Caixa. O trabalho ocorria sob o risco de contrair o vírus, um número reduzido de empregados em razão dos afastamentos, e sob intensa pressão por cumprimento de metas comerciais pela superintendente da SEV/Itaquera, à qual é vinculada sua agência.

O vídeo teve grande repercussão e um texto postado no Facebook, tratando do mesmo assunto, foi compartilhado por diversos empregados, entre eles por Sérgio. Como forma de retaliação, a superintendente encaminhou denúncia contra o empregado, solicitando abertura de processo disciplinar, alegando ter ele praticado “ação dolosa para prejudicar a imagem da Caixa e da própria superintendente”.

A direção da Caixa, demonstrando, mais uma vez, seu descaso para com as condições de trabalho de seus empregados e deixando claro que o assédio moral e a pressão por produtividade a qualquer custo, inclusive da saúde dos trabalhadores, é parte integrante de sua estratégia de gestão, não se dignou a apurar a denúncia sobre a atitude da gestora. Ao contrário, atendendo sua solicitação, abriu processo disciplinar contra o empregado, enquadrando-o em descumprimento de manual normativo que enseja demissão por justa causa. O processo encontra-se em fase de análise da defesa.

Por representar atitude de perseguição ao empregado e ataque à organização dos trabalhadores, a empresa tem sido pressionada, tanto internamente, por colegas de trabalho, como por entidades sindicais bancárias e de outras categorias, Apcefs, parlamentares nas três esferas, assinando manifesto em solidariedade ao colega e publicando depoimentos.

A Caixa, para manter as aparências, afirma ter realizado pesquisa de clima organizacional entre os empregados da SEV, mas se recusa a divulgar o resultado, alegando confidencialidade. Ao mesmo tempo informa ter sido instituído grupo de trabalho para fazer o levantamento das condições do ambiente nas unidades da superintendência, sendo que diversos empregados reportam não ter havido melhora. O grupo de trabalho é formado por oito empregados, porém não há expectativa de algum resultado prático, até porque a própria superintendente participa dele.

As empregadas e empregados da Caixa reunidos como delegadas e delegados do 11º Congresso Distrital do Bancários do DF e Entorno – Unidade, Democracia e Luta, realizado em 20 e 21 de maio de 2022, repudiam a atitude persecutória da direção da Caixa, bem como os ataques contra a livre organização dos trabalhadores e exigem o imediato cancelamento do processo disciplinar contra o companheiro SÉRGIO SOARES. Não aceitamos nenhum tipo de perseguição ao colega SÉRGIO SOARES, bem como a qualquer empregado que, fazendo valer sua liberdade de manifestação, se contraponha à violência por parte da estrutura organizacional da atual direção da empresa e às péssimas condições de trabalho na Caixa.

Brasília, 20 de maio de 2022.

Joanna Alves
Do Seeb Brasília