Após catástrofe Bolsonaro, governo lança campanha em defesa das mulheres

28,9 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência física, psicológica ou sexual em 2022, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Um aumento de 4,5% em relação ao ano anterior

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Elis Regina Camelo Silva

No dia 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, será lançada a campanha com o slogan “O governo que respeita todas as mulheres”. O anúncio, feito durante encontro no dia 1º de março, marca a importância da representatividade feminina no governo Lula e das atividades em torno da data festejada este mês.

Nove ministras do governo Lula participaram do encontro com a primeira-dama, a socióloga Janja Lula da Silva, e com as presidentas da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, e do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros.

Lula vem demonstrando seu compromisso com as mulheres e é perceptível que tem um olhar estratégico para as políticas voltadas para elas. Não foi à toa que o presidente nomeou 11 mulheres para liderarem pastas no primeiro escalão do seu governo, até o final do mandato, em 2026.

Ao falar sobre a violência contra a mulher, a primeira-dama afirmou a necessidade urgente de pôr fim ao feminicídio, bem como acabar com a fome, uma obsessão do presidente Lula.

Ministra do Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco enfatizou a importância do mês de março para as mulheres, sobretudo as negras, mas também para o combate à violência política de gênero.

Já Cida Gonçalves, ministra das Mulheres, declarou que os investimentos voltados às políticas públicas para as mulheres são de suma importância para o atual governo e que o encontro foi apenas o primeiro evento no início de março, uma vez que várias ações serão realizadas nos outros ministérios e não terminarão no dia 31. São ações pensadas para os quatro anos de governo, que vão fazer a diferença na vida de muitas mulheres.

Tarciana Medeiros, que trabalha no Banco do Brasil desde 2000, e que se tornou a primeira mulher a presidir o banco desde a sua fundação, ressaltou ser um bom exemplo de quebra de paradigma. A expectativa era de que o BB fosse comandado por um homem, porém o presidente Lula optou por colocar uma mulher à frente da instituição, após 214 anos.

Funcionária de carreira, Maria Rita Serrano, presidenta da Caixa Econômica Federal, lembrou dos casos de assédio moral e sexual contra seu antecessor na presidência do banco e enfatizou o quanto precisamos do olhar amplo das mulheres para mudar essa realidade brasileira.

Palestras e ações políticas

Nesta segunda-feira (6), o Ministério da Fazenda, juntamente com o Ministério do Planejamento e Gestão, inicia uma semana inteira de palestras que vão abranger temas como Liderança feminina; Como combater o machismo nas instituições; Prevenção ao assédio; Violência política contra a mulher; Tipos de Violência e Redes de apoio.

Dentre as ações políticas que garantam direitos e respeito às mulheres previstas no governo atual, a perspectiva é que também estará no pacote de medidas a ratificação da Convenção 190 da OIT. Aprovada em junho de 2019, traz um quadro claro de ação e uma oportunidade para definir um futuro de trabalho baseado na dignidade, no respeito e livre da violência e do assédio.

A Convenção 190 apela a todos os Estados-membros da OIT para erradicar a violência e o assédio em todas as suas formas no mundo do trabalho.

A violência e assédio no trabalho podem assumir diversas formas e causar danos psicológicos, sexuais, físicos e econômicos. Como exemplo, temos a Caixa Econômica Federal, que já foi considerada uma das melhores empresas para se trabalhar. No governo passado, foi palco de escândalos de assédio moral e sexual. Um ambiente permeado de ameaças, onde disseminou-se a política do medo e da opressão.

O assédio sexual e qualquer forma de violência têm de ser banidos dos ambientes de trabalho. O Brasil precisa dar essa mostra. O repúdio da sociedade diante do que aconteceu dentro da Caixa mostra que o país está pronto para dar esse passo.

Avanços na Convenção Coletiva dos Bancários

Na Campanha Nacional dos Bancários de 2022 foi incluída mais uma cláusula na CCT para o combate ao assédio sexual. Um grande avanço para a categoria bancária. Mas essa cláusula precisa ser desdobrada para o restante da sociedade.

No governo de Jair Bolsonaro, houve muitos retrocessos, e as mulheres foram as mais prejudicadas, pois tínhamos como governante um homem que odeia as mulheres, e que jamais iria ratificar a Convenção 190. Por isso, nós, eleitoras (es) e trabalhadoras (es), mudamos o rumo da nossa história elegendo um governo comprometido em erradicar a violência e o assédio em todas as suas formas do mundo do trabalho. Elegemos um governo que certamente promoverá a ratificação e a implementação da Convenção 190 da OIT. 

A ratificação da Convenção 190 pelo Brasil será um grande avanço. Principalmente se for acompanhado do empenho da classe trabalhadora em mobilizar empregadores e suas organizações em participar da construção de uma cultura de trabalho que proporcione uma vida digna, com ambientes seguros, respeitáveis e saudáveis, para todas as pessoas.

Dessa feita, podemos renovar nossas esperanças para desfrutarmos um mês de março como um marco para o progresso efetivo de políticas públicas para as mulheres durante todos os meses dos próximos anos.

Elis Regina Camelo Silva é secretária da Mulher da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN)