Por Mirian Fochi
Um retrocesso a programação prevista pela Diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil para esta quinta-feira, dia 5, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado dia 8. Isso porque a programação, aliada à apresentação estampada no convite, reforçam os estereótipos criados pela mídia, sociedade e pelo mercado de consumo em relação às mulheres, estereótipos que o movimento sindical tem procurado desconstruir ao longo de décadas de muita luta.
“Ração humana e shake – emagrece mesmo?” e “Organização de armários, closets e cozinha – harmonia e bem estar” são alguns dos temas. Como se vê, a programação estaria mais adequada para as mulheres da época em que sequer podiam fazer concurso para trabalhar no BB.
O Dia Internacional da Mulher é, sem dúvida, uma data de comemorações, mas principalmente um dia para homens e mulheres refletirem sobre quais deveriam ser suas reais contribuições na família, na escola, na empresa, na política, na sociedade e na construção de um mundo mais justo e igualitário.
Contribuições no sentido de, por exemplo, combater a onda de violência contra as mulheres, os idosos e as crianças, um assunto que merece reflexão e ação de homens e mulheres não só neste dia, mas diuturnamente. Uma sociedade não pode orgulhar-se de si, se a cada 15 segundos uma mulher que compõe esta sociedade é espancada; se meninas e meninos são violentados constantemente para proporcionar prazer sexual; e se idosas e idosos são maltratados e espancados por filhos e filhas que não querem ter o trabalho de cuidar deles.
Stephen Jay Gould, biólogo evolutivo que dedicou muitos de seus estudos acadêmicos e ensaios a combater os abusos do determinismo, afirma que "poucas tragédias podem ser maiores que a atrofia da vida; poucas injustiças podem ser mais profundas do que o ser privado da oportunidade de competir, ou mesmo de ter esperança, devido à imposição de um limite externo, que se tenta fazer passar por interno".
Há características biológicas que não podemos alterar, mas podemos e devemos, com urgência, mudar a cultura machista, sexista e discriminatória vigente em nossa sociedade, que impõe hábitos e comportamentos condenáveis. Senão, vejamos o caso de milhões de mulheres no mundo que sofrem de distúrbios alimentares como bulimia e anorexia, que colocam em risco constantemente suas vidas em clínicas estéticas para buscar alcançar um padrão de beleza valorizado pelo mercado. Homens também estão seguindo pelo mesmo caminho, vítimas desse mesmo sistema onde não há o mesmo espaço para quem não está “no padrão”.
Há muito que fazer. No caso do Banco do Brasil, cremos que já percebemos os primeiros passos na promoção da diversidade e busca pela igualdade de oportunidades entre todo o seu quadro funcional, mas os resultados poderiam ter sido mais expressivos com a adoção de algumas medidas simples que o Sindicato dos Bancários de Brasília sugeriu em 2006 (
clique aqui para ler o ofício com as sugestões).
Mirian Fochi é secretária de Assuntos Jurídicos da Contraf/CUT e diretora do Sindicato