O Diário Oficial da União publicou na sexta-feira (22) a demissão por justa causa do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Antônio Carlos Ferreira de Sousa do serviço público, devido aos crimes que ele praticou entre 2019 e 2022. A decisão, da Controladoria Geral da União (CGU), publicada na sexta-feira (22), foi motivo de alegria para as bancárias e bancários da Caixa.
Antônio Carlos Ferreira de Sousa foi vice-presidente de Estratégia e Pessoas (VIEPE) e de Logística e Operações (VILOP) durante a presidência de Pedro Guimarães, entre 2019 e 2022. Ele atuava como um autêntico capataz de Guimarães. Juntos, impuseram um período de terror, perseguição e permanente assédio aos trabalhadores do banco, especialmente contra as mulheres.
Pedro Guimarães assumiu a presidência da Caixa logo após a posse de Bolsonaro, em 2019, e era conhecido pela proximidade com o então presidente da República. Ele costumeiramente o acompanhava durante as lives que realizava. No final de 2021, um grupo de funcionárias denunciou Guimarães por práticas de abuso, assédio moral e sexual. Foram muitas as denúncias, que acabaram por derrubá-lo do cargo. Guimarães contava com o apoio de Sousa, que atuava como agente da perseguição e do assédio que as funcionárias sofriam, envolvendo desde toques indevidos, convites para viagens nos finais de semana até ofensas permanentes contra a moral, integridade e dignidade das trabalhadoras. Ocorriam práticas vexatórias de humilhação, constrangimento e insinuações sexuais contra as mulheres. A grande quantidade de denúncias levou à perda das funções dele.
Sousa perdeu o cargo de vice-presidente após os crimes se tornarem públicos. Entretanto, ele permaneceu na Caixa por ser funcionário efetivo. A decisão da CGU, publicada no DOU, diz que “pelo prazo de 8 (oito) anos, fica impedida a indicação, nomeação ou posse do apenado para cargos efetivos e em comissão ou funções de confiança no Poder Executivo Federal”. Isso não impede que outras ações sejam movidas, como destacado na publicação: “sem prejuízo dos demais impedimentos legais aplicáveis a órgãos específicos.” A decisão significa que se fez justiça contra o assediador, que foi definitivamente afastado do serviço público.
Luta contra os assédios
Para a secretária da Mulher da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN), Elis Regina Camelo Silva, que é empregada da Caixa em Brasília, “o assédio afeta pessoas de todos os gêneros, mas as mulheres são as principais vítimas desse tipo de violência, o que torna ainda mais necessária uma abordagem específica para enfrentar essa problemática. Nesse contexto, o Sindicato desempenha um papel fundamental na luta contra o assédio moral e sexual nas dependências dos bancos públicos e privados. A entidade reconhece a gravidade do tema, que exige atenção imediata e a implementação de medidas eficazes para combater tais práticas.”
Ela continua ao afirmar que “a notícia da demissão de um dos assediadores é um passo positivo. É crucial que as investigações continuem para que todos os envolvidos sejam responsabilizados por seus atos. A luta pela justiça e pela dignidade dos trabalhadores deve ser constante, e situações semelhantes devem ser cada vez mais raras e passíveis de severa punição. A proteção dos direitos dos trabalhadores é uma responsabilidade coletiva, e todos devem se empenhar em promover ambientes de trabalho respeitosos e seguros.”
O diretor do Sindicato Wandeir Severo destaca que “a decisão da CGU é tardia, mas acertada. Desde o então presidente, passando por vice-presidências e diretorias, formou-se toda uma corrente de assediadores e cúmplices. Esses homens tornaram a vida laboral das pessoas insuportável, sobretudo a das mulheres, vítimas de crimes e perseguições numa escala que atentava contra a própria vida delas.”
Para Severo, “a teia era complexa e não havia a quem pedir socorro dentro da empresa, pois eles eram muitos e estavam extremamente organizados, de forma que a mulher atacada não sabia em quem poderia confiar, já que qualquer pessoa ao seu redor poderia estar cooptada. E era isso mesmo que eles queriam: dar à vítima a impressão de que estava cercada e sem escolha.” O diretor do Sindicato conclui dizendo que “o que esperamos agora é mais celeridade e ainda mais rigidez da CGU (e dos demais entes governamentais responsáveis), pois esse 'circuito assediador' era composto por muita gente e nenhum dos envolvidos pode ficar impune.”
Gestão marcada pelo medo
Não podemos jamais esquecer que os quatro anos do governo Bolsonaro foram marcados por um período em que o arbítrio, a misoginia, o machismo, o racismo e a perseguição permanente eram políticas de governo. Quem não se sujeitasse aos caprichos desse grupo poderia sofrer qualquer tipo de retaliação.
Elis Regina lembra que, no dia 15 de novembro, começou a campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher. “O grito de basta de assédio moral e sexual veio delas. Foi através da coragem de algumas empregadas da Caixa que todo o país tomou conhecimento do que estava acontecendo na gestão desastrosa e desumana de Pedro Guimarães. Essa gestão ficou marcada pelas diversas formas de assédio, resultando na exposição de trabalhadoras e trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, de forma reiterada e prolongada. Isso causou danos à personalidade, à dignidade e à integridade física e psíquica das vítimas, predominantemente mulheres.”
Da Redação
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