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15 de Fevereiro de 2016 às 18:14

Setor bancário volta a ter perdas e arrasta bolsas globais

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Em todo o mundo, as ações caíram rumo a um "bear market" (mercado baixista), sinalizando que os investidores perderam a fé na capacidade de os bancos centrais darem sustentação à economia global. As ações em Wall Street aderiram à forte instabilidade que levou o indicador de referência do mercado europeu ao mais baixo nível desde 2013.

Os investidores ignoraram um segundo dia de depoimentos de Janet Yellen ao Congresso, cuja sinalização de que o Fed (Federal Reserve, BC dos EUA) não se apressará em elevar os juros diante da turbulência no mercado não conseguiu estancar a liquidação de ativos de risco - de ações do setor bancário e petrolífero às moedas de mercados emergentes. O iene saltou para seu mais alto nível em mais de um ano. Os juros dos Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA) chegaram a recuar para novas mínimas desde agosto de 2012, impulsionados pela busca por segurança e taxa de retorno ("yield"). Os juros das T-notes de dez anos estavam em 1,64% no fim do dia.

O índice europeu FTSEurofirst 300 fechou em baixa de 3,68%, pressionado pelo setor bancário, que perdeu 6,26% e voltou a liderar as perdas. Na semana, o segmento acumula queda de quase 11%, com as preocupações sobre a lucratividade em um ambiente de fraco crescimento e baixas taxas de juros prejudicando a confiança no setor - que já perdeu 28,6% apenas neste ano. Entre as maiores baixas da sessão europeia, as ações do Société Générale recuaram 12,57%, após o banco divulgar alta menor que o esperado em seu lucro líquido trimestral, em meio à queda na lucratividade do banco de investimentos e a necessidade de fazer provisão para cobrir possíveis custos legais.

O banco grego Eurobank Ergasias SA e o italiano Unione di Banche Italiane SpA também estiveram entre os destaques de perdas, com desvalorizações superiores a 13%. Em Wall Street, os gigantes do setor financeiro Goldman Sachs e J.P. Morgan caíram 4,50%, cada.

Os sinais emitidos por diversos bancos centrais, da Europa ao Japão, de que estão próximos de um estímulo adicional, não estão conseguindo aliviar a preocupação dos investidores de que o crescimento mundial continuará a desacelerar. "As políticas dos bancos centrais e as incertezas em torno de sua eficácia são a grande preocupação agora", disse Leo Grohowski, diretor de investimentos na BNY Mellon Wealth Management em Nova York. "Há uma grande desconexão, neste momento, entre o que o Fed poderá fazer, o que eles estão dizendo e o que o mercado está esperando. Há muita incerteza em relação ao Fed de volta ao cenário, o que relembra o fim do verão passado [no hemisfério norte]."

Em seu depoimento ontem, a presidente do Fed também destacou a incerteza quanto ao ritmo do crescimento chinês e a concomitante derrocada das commodities, que enervaram os mercados financeiros no curso do ano e por duas vezes levaram as ações em todo o mundo para a beira de um "bear market".

Em Wall Street, no que foi a quinta sessão seguida de perdas, o índice Dow Jones caiu 1,60%, ou 254,56 pontos, e fechou com 15.660,28 pontos, depois de recuar cerca de 400 pontos no pior momento do dia. Este é o menor nível de fechamento desde 6 de fevereiro de 2014. O S&P 500 recuou 1,23%, para 1.829,08 pontos - menor nível de fechamento desde 11 de abril de 2014. O Nasdaq Composite fechou em baixa de 0,39%, aos 4.266,84 pontos.

"Os mercados estão testando níveis mais baixos, em antecipação a algumas questões", disse John Manley, estrategista-chefe de ações na Wells Fargo Funds Management, em Nova York. "As empresas no setor energético passaram a bola ao setor financeiro, porque é aí que levantam seu dinheiro. Quando surgem problemas em qualquer lugar, elas inevitavelmente retomam seu caminho que as levam ao setor financeiro." Na bolsa de Londres, o índice FTSE 100 recuou 2,39%. O DAX, de Frankfurt, perdeu 2,93%, e o CAC 40, de Paris, cedeu 4,05%. O Ibex 35, de Madri, caiu 4,88%, enquanto o FTSE Mib, da bolsa de Milão, recuou 5,63%.

O Índice MSCI Emerging Markets caiu 2,3%, rumando para sua maior perda em três semanas. Com a retomada dos negócios em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu 3,9%, em seu pior início de ano desde 1994. O Índice Hang Seng China Enterprises, composto por empresas do Continente, caiu 4,9%, para o menor patamar desde março de 2009. Os mercados continuaram fechados na China Continental, em Taiwan e no Vietnã. Na Rússia, o índice MICEX caiu 2%, depois que o preço do petróleo recuou. Os índices de referência na África do Sul, Turquia, Polônia e Tailândia caíram pelo menos 1,5%.

O iene valorizou contra todas as principais 16 moedas do mundo, tendo subido mais em relação às moedas da Austrália, Noruega e Nova Zelândia. "Os mercados parecem estar testando a determinação do Banco do Japão e questionando a capacidade de ação de política monetária para produzir uma desvalorização do iene", disse Sam Tuck, estrategista sênior de câmbio no ANZ, em Auckland.

Analista vê risco de profecia autorrealizável

Há um risco crescente de que o nervosismo no setor financeiro se torne uma profecia autorrealizável, adverte Julian Jessop, economista-chefe global da Capital Economics. "O enfraquecimento do ritmo de empréstimos e preços mais baixos de ativos contribuem para uma desaceleração da economia real", diz, ao comentar o momento de forte volatilidade nos mercados internacionais. Jessop avalia, porém, que os temores são exagerados, não vendo um colapso da atividade econômica global.

Para Jessop, a atual turbulência nos mercados de ações, com a correspondente demanda por ativos seguros, reflete o pânico em relação à saúde da economia global e do setor financeiro em especial. "Ironicamente, os cortes adicionais dos juros, incluindo o promovido pela Suécia hoje [ontem], pode estar na realidade contribuindo para o mau humor", afirma o economista da Capital Economics e chefe de pesquisa de commodities da consultoria.

O ponto é que as decisões dos BCs sugerem preocupações crescentes quanto à situação da economia e aos riscos de deflação. Além disso, juros reais negativos, como os adotados pelos BCs do Japão e da Suécia, causam danos aos bancos. Nesse ambiente, as instituições têm que pagar para manter recursos depositados nos BCs. Outra questão é que, com taxas negativas, os bancos têm que cobrar menos de quem toma dinheiro emprestado.

Na visão da consultoria, a preocupação com as instituições financeiras tem sido exacerbadas pelas expectativas em relação à resposta do BCE à deterioração da economia. A aposta generalizada é que o BCE corte ainda mais a taxa de depósitos, hoje negativa em 0,3%. "Isso pode ter efeitos adversos sobre a lucratividade dos bancos, se eles não conseguirem reduzir as suas próprias taxas de depósitos ou aumentar as taxas de empréstimos para compensar."

Para Jessop, a surpreendente desvalorização do dólar se deve ao tombo forte nas expectativas em relação à trajetória dos juros, um movimento que foi mais intenso do que em outros lugares. Isso explicaria por que a moeda americana perde valor, mesmo num cenário em que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) começou um ciclo de aumento dos juros, enquanto os BCs da zona do euro e do Japão afrouxam a política. Para o economista da Capital, contudo, os temores quanto ao desempenho economia global são exagerados. "O crescimento está desacelerando, mas não entrando em colapso", afirma ele, para quem preços de commodities mais estáveis neste ano ajudam a reduzir a ameaça de deflação. "E um período mais extenso de política monetária expansionista também deve ajudar."

Um dos sinais que mostram uma visão menos pessimista da Capital é que a consultoria acredita em alta dos juros nos EUA em junho. Até lá, a expectativa é de que as condições financeiras e econômicas globais tenham se estabilizado o suficiente para o Fed retomar o ciclo de aumento de juros, especialmente se continuar a haver expansão de salários e pressões inflacionárias domésticas. Vários analistas passaram a esperar que os juros ficarão inalterados o ano inteiro. Hoje, a taxa está entre 0,25% e 0,5% ao ano.

Fonte: Valor Econômico

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