Fenaban

1 de Julho de 2025 às 15:15

Saúde mental e normas trabalhistas voltam ao centro da mesa de negociação entre bancários e Fenaban

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O Comando Nacional dos Bancários reuniu-se com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) na tarde desta segunda-feira (30), em São Paulo, para mais uma rodada da mesa permanente de negociação sobre Saúde Bancária. O encontro teve como foco principal a saúde mental da categoria e a implementação das Normas Regulamentadoras (NRs) 1 e 17, com cobranças por parte do movimento sindical por medidas efetivas de prevenção ao adoecimento e por maior participação na construção das políticas de saúde e segurança no trabalho.

Durante a reunião, representantes do movimento sindical entregaram à Fenaban o texto final da cartilha de orientação voltada a bancárias e bancários que precisarem se afastar por motivo de saúde. “Neste material, explicamos quais são as doenças mais comuns entre os bancários, que medidas devem ser tomadas pelas empresas, como os funcionários devem buscar ajuda e, principalmente, quais caminhos devem seguir em caso de necessidade de afastamento”, explicou Mauro Sales, secretário de Saúde da Contraf-CUT.

Já a Fenaban ficou devendo. A representação dos bancos havia se comprometido, em reunião realizada em abril, a produzir uma cartilha com diretrizes sobre assédio e ambientes de trabalho saudáveis, mas informou que não teve tempo hábil para finalizá-la. O material deverá ser apresentado na próxima rodada de negociação sobre saúde, ainda sem data definida.

“O adoecimento severo da categoria bancária é uma preocupação crescente. Temos observado a falta de pessoal nas agências, o que compromete ainda mais os trabalhadores, que acabam assumindo tarefas de dois, três, até quatro colegas. Em muitas agências de varejo, o déficit chega a cinco pessoas. Essa sobrecarga, somada à pressão por resultados, é um fator claro de adoecimento”, afirma Wadson Boaventura, secretário de Saúde da Fetec-CUT/CN.

Para o dirigente, a modernização tecnológica no setor não tem sido acompanhada por uma reorganização do trabalho que leve em conta a saúde dos empregados. “Apesar de toda a tecnologia disponível, o número de trabalhadores não é suficiente para atender às demandas dos bancos, que seguem cobrando produtividade em níveis insustentáveis.”

Wadson também avalia com cautela a implementação da Norma Regulamentadora nº 17. “Vemos com certo ceticismo esse processo, porque a NR-17, que trata das condições de trabalho, ainda não está sendo aplicada como deveria. Os bancos já deveriam estar levando essa norma em consideração.”

Ele reforça a importância de que os trabalhadores da região busquem apoio em caso de necessidade. “Aqui no DF, por exemplo, temos a Clínica do Trabalho e o Observatório do Trabalhador Bancário, que estão à disposição para acolher e orientar quem precisa. “Nossa preocupação é com o agravamento da saúde das bancárias e dos bancários, causado pelo alto consumo de psicotrópicos. Muitos colegas têm a saúde mental seriamente comprometida, e tudo isso acontece por medo de perderem suas comissões.”

Participação sindical na implementação da NR-1

Outro ponto central da reunião foi a cobrança por participação direta dos trabalhadores na implementação da Norma Regulamentadora nº 1, que trata das regras gerais de segurança e saúde no trabalho. A norma foi atualizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e deve ser implementada pelas empresas até maio de 2026.

“Detectamos que muitos bancos estão fazendo essa implementação à revelia, ou seja, sem consultar os trabalhadores ou suas representações. Isso compromete qualquer programa de gerenciamento de riscos psicossociais”, alertou Mauro Sales. Segundo ele, os programas só terão efetividade se construídos de forma coletiva e transparente, com base em dados reais do ambiente de trabalho.

Entre os princípios defendidos pelo movimento sindical para a implementação da NR-1 estão:

  • Atuação conjunta e paritária com os sindicatos;
  • Foco nas causas do adoecimento, como metas abusivas, ritmo excessivo e assédio;
  • Avaliações baseadas em ferramentas confiáveis;
  • Construção de Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR) que representem a realidade dos locais de trabalho;
  • Garantia de tratamento digno aos trabalhadores adoecidos, sem perdas salariais ou de carreira.

Além disso, os bancários cobraram a integração da NR-1 com a NR-17, que trata da ergonomia e da adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. “O que vemos, no entanto, é o contrário. Os trabalhadores são obrigados a se adaptar a metas e pressões que adoecem. Os programas de metas são o exemplo mais claro disso”, criticou Sales.

Saúde mental: maior causa de afastamentos

A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, reforçou a cobrança por ações concretas dos bancos para combater o adoecimento mental da categoria. “Os bancos insistem em não reconhecer a responsabilidade que têm sobre o agravamento da saúde mental dos trabalhadores. As metas abusivas e a pressão constante têm impacto direto no bem-estar da categoria”, afirmou Neiva, que também preside o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Dados do Dieese, com base em informações do INSS, revelam que em 2024 as doenças mentais e comportamentais responderam por 55,9% dos afastamentos acidentários e 51,8% dos afastamentos previdenciários na categoria bancária. Lesões por esforço repetitivo (LER/Dort) aparecem em segundo lugar.

Mesmo diante desses números alarmantes, representantes da Fenaban minimizaram a responsabilidade dos bancos e chegaram a atribuir parte do problema ao crescimento do vício em jogos de azar (bets), uma comparação que foi duramente criticada pelo movimento sindical. “Isso é uma tentativa absurda de desviar o foco das verdadeiras causas do adoecimento: metas abusivas, assédio moral, falta de pessoal e organização tóxica do trabalho”, rebateu Mauro Sales.

Gustavo Tabatinga, secretário-geral da Contraf-CUT, reforçou a gravidade da situação: “Os dados falam por si. Em 2024, um em cada quatro afastamentos acidentários no Brasil foi de bancárias e bancários”.

Denúncia e diversidade

A reunião também foi marcada pela denúncia feita pela secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes, sobre a demissão de uma bancária que havia sido ameaçada de morte por um ex-companheiro. A trabalhadora, segundo Fernanda, havia buscado apoio nos canais oferecidos pelo banco. A Fenaban se comprometeu a averiguar o caso.

Na pauta da diversidade, a Fenaban apresentou as propostas de mídia para o 4º Censo da Diversidade, previsto para começar em setembro deste ano.

Próximos passos

O Comando Nacional dos Bancários aguarda a entrega, por parte da Fenaban, da cartilha sobre assédio moral e ambientes saudáveis, além de novas rodadas de negociação para debater a implementação das normas e o combate ao adoecimento mental. “Estamos lidando com um cenário grave e os bancos precisam assumir sua responsabilidade social”, finalizou Neiva Ribeiro.

Da Redação com Contraf-CUT

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