

Quatro perguntas para...
Roberto Brant,
coordenador do programa Ponte para o futuro, do PMDB
Como foi o convite para elaborar esse documento, cujo objetivo foi sinalizar para o mercado o que fará num eventual governo?
Não me sinto autor do documento. Recolhi ideias que já existem, foram submetidas a sete economistas, alguns ex-ministros, pessoas de alta qualificação, que pediram para ficar no anonimato. Fizeram algumas observações importantes que acolhi, foram 12 versões até chegarmos à formulação final, que resultou em algo muito consensual. O vice-presidente Michel Temer, acompanhou a elaboração, leu várias vezes, alterou prioridades. Então, acho que, se assumir, ele vai tentar cumprir essa agenda.
Temer terá respaldo social para aprovar essa pauta questionada por economistas de uma linha mais à esquerda?
Nenhum dos nossos interlocutores mudou o texto, pois todo mundo sabe o que é preciso fazer, inclusive o Joaquim Levy tentou. Só que não houve condições políticas, pois são mudanças legislativas. O desequilíbrio brasileiro está contratando na Constituição e nas leis. Se não mudar, vai levar o país para o abismo. Isso não é novidade, há apenas divergências pontuais sobre quando e como. Não há muito espaço para fazer políticas alternativas. A Fundação Perseu Abramo fez um documento que é contrário deste, sem mexer em políticas, propostas irrealistas. A dúvida que fica, é verdade, é se haverá governo capaz de aprovar agenda desta natureza. Por quê? Pois a sociedade brasileira e o Congresso estão acostumados a ideia de que o estado pode continuar gastando sem muitas restrições. O brasileiro tem como valor estado de bem-estar social e está sempre de acordo que estado aumente gastos em tudo. Mas ao mesmo tempo não quer pagar mais impostos. Então a tarefa de um governo é conciliar esses dois sentimentos que estão dentro da cultura, que não muda de uma noite para o dia. Um governo que tenha a responsabilidade, que fale a verdade. Os governos ficam escondendo o problema, tratando a sociedade como criança. Precisamos expor o problema e reencontrar o equilíbrio para depois fazer mais programas.
Quais são os pontos essenciais do documento?
Há interesse em aumentar o salário mínimo, é uma política social correta. Mas, se o acopla a todos os pagamentos que o Estado faz, transforma a política do setor privado em um peso para o setor público. O salário mínimo precisa crescer mais depressa do que a inflação. É preciso acabar com as despesas obrigatórias para a saúde e a educação previstas na Constituição. Se o país está quebrado, não há como manter isso. Pelo menos durante um período, é preciso liberar o orçamento. O ideal seria para sempre. Mas se não fosse possível, pelo menos por um período. É preciso a reforma da Previdência, com aumento da idade mínima. Não pode ser menos de 65 para os homens e mulheres. Nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália, as idades foram igualadas. É pelo perfil demográfico: as mulheres vivem mais, está em todas as estatísticas. É preciso diminuir o estado, o número de órgãos. Propomos um órgão misto do Executivo e Legislativo para produzir avaliação de políticas e da produtividade do governo.
Os programas sociais erão cortados?
Não, propriamente. Na verdade, os programas como o Minha Casa, Minha Vida não estão previstos em lei. O Bolsa Família é um programa certinho, dá o direito diretamente à pessoa, para dar exemplo de um programa bem desenhado. A ideia é reformar o Estado brasileiro. Não é para hoje, é para amanhã. Não adianta correr e cortar programas. Seria uma corrida contra o nada. Somos o país que tem o maior deficit público do mundo. Em três ou quatro anos, um após o outro, estaremos quebrados. Chegamos ao limite.
Fonte: Correio Braziliense
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