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13 de Maio de 2016 às 12:07

Resistência democrática toma a frente do Planalto na saída de Dilma

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A extensa Praça dos Três Poderes pareceu pequena diante do misto de tristeza e de determinação que envolvia os manifestantes vestidos de vermelho que realizaram ato de resistência democrática contra o golpe perpetrado pelo Congresso que afastou temporariamente a presidenta Dilma Rousseff do cargo nesta quinta-feira (12/5).

Embora tudo indicasse que o Senado seguiria os passos da Câmara, foi difícil para aqueles que defendem um Brasil para todos ver que, por 55 votos a 22, os senadores decidiram, às 6h34 desta quinta-feira (12), dar continuidade ao processo fraudulento de impeachment contra a presidenta, dando espaço para a tomada do poder de forma ilegítima por segmentos da direita. Para a CUT, trata-se de um golpe de Estado, um desaforo em relação aos 54,5 milhões de votos que elegeram a presidenta, que abre caminho para ataques aos direitos dos trabalhadores.

Mas o choro de muitos militantes que não se continham dividiu espaço com a valentia de um povo forjado na luta, como descreveu a presidente.Mesmo com a voz embargada, os manifestantes cantaram palavras de ordem de forma vívida e mostraram que este 12 de maio não ficará marcado na história pela tristeza, mas sim, e principalmente, pela resistência em defesa da democracia e contra o golpe.

“Eu estou pronta para resistir por todos os meios legais. Eu lutei a minha vida inteira e vou continuar lutando”, disse a presidenta do lado de fora do Palácio do Planalto, após ser oficialmente intimada da decisão do Senado, que a afasta por até 180 dias da presidência, até a definição do processo de impedimento. Carinhosamente, ela se aproximou da grade que separava o povo do prédio e beijou e abraçou grande parte dos que se amontoavam para dizer que “Dilma representa o povo brasileiro”.

Durante o discurso direcionado ao povo que enfrentava o sol quente da capital federal, Dilma WhatsApp-Image-20160512 (3)reforçou que “quem deu início a este golpe, o fez por vingança”. “Fez por que nós nos recusamos a dar a ele, ao senhor Eduardo Cunha, os votos na Comissão de Ética para que ele fosse absolvido. A própria imprensa falou isso. E eu não sou mulher para aceitar esse tipo de chantagem”, disse resoluta. “Posso ter cometido erros, como qualquer ser humano, mas nunca cometi crimes”, completou a primeira mulher eleita, democraticamente, presidenta do Brasil.

No pronunciamento de Dilma, que tinha ao lado figuras como o ex-presidente Lula, foi destacado que o que está em jogo neste golpe é não só a democracia, mas as conquistas garantidas ao longo dos últimos 13 anos. “O programa que foi eleito é um programa que garante políticas sociais. Hoje,  o que eles estão tentando é reduzir isso. Usam de vários qualificativos: focar, rever. Todas essas palavras têm só um sentido: reduzir até acabar com ela”, alertou a presidenta que se auto-intitulou “fiadora da democracia”.

Ela, que amargou com a tortura imposta pelos militares golpistas em 1964, agora, neste golpe, diz sofrer a dor da “traição e da injustiça”. “Em toda a minha vida, como todas as mulheres, eu enfrentei desafios. Eu enfrentei o desafio terrível, sombrio da ditadura e da tortura. Eu enfrentei, como muitas mulheres desse país, a dor invisível da doença. Agora, o que mais dói é esta situação que estou vivendo: a inominável dor da injustiça, a dor da traição”, disse emocionada.

Injustiça e traição

Assim como Dilma, o povo também se sente traído e injustiçado. Para dona Valdete Rolin, 79 anos, a grande preocupação é a implementação do projeto “Ponte para o Futuro”, criado por um dos maiores articuladores do golpe de Estado, Michel Temer, um ficha-suja que assuma agora a presidência sem ter voto direto do povo para isso. “Esse projeto significa a gente voltar para 1930, pois eles vão rasgar a CLT. Se eles fizerem isso, e eu acredito que farão, nós voltaremos à época da escravidão”, disse a mineira de Belo Horizonte. “Desde quando foi feita eleição e se criou este parlamento conservador, eu tinha a impressão que isso ia acontecer. E eu estava cerca. Mas eu estou na luta, apesar de ser muito triste você ver os avanços retroagirem por causa de uma irresponsabilidade. Lula e Dilma erraram quando não fizeram uma  luta séria contra a Globo, pois foi ela que impulsionou essa barbaridade”, comenta dona Valdete Rolin com a segurança e a experiência de quem viveu quase oito décadas.

A carioca Rosilene Torquato, integrante do Movimento de Mulheres Negras, disse que o golpe em curso é um “prejuízo total para a nação brasileira, mas principalmente para o povo negro”. “Não podemos esquecer nunca da questão das cotas e da legislação sobre o trabalho doméstico. Isso incomodou a elite brasileira; estamos incomodando porque estamos ocupando o espaço das universidades. Com o Temer, essas conquistas se tornam frágeis. Nosso papel agora é de resistência e luta, chamando as pessoas que realmente lutam por um Brasil melhor”, avalia.

Mulheres de todo o país estiveram no ato de resistência democrática. Muitas delas estão desde o dia  10 participando da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres no Centro de convenções Ulysses Guimarães. Numa demonstração de protesto contra a ruptura democrática, 28 militantes femininas se acorrentaram às grades em frente ao Palácio do Planalto. Segurando cartazes com letras, formaram a palavra Resistência Contra o Golpe. Gritando palavras de ordem, elas afirmam que “vão vamos resistir porque não é um golpe contra presidente Dilma, é um golpe contra todas as mulheres e a democracia.”  Elas tentaram subir a rampa do Palácio à noite e foram dispersadas pela polícia com gás de pimenta e golpes de cassetetes.

Nossa tarefa

Para o secretário de Formação da Fetec/CUT-Centro Norte, Jacy Afonso, o cenário atual apresenta três importantes tarefas para os movimentos sindical, sociais e estudantil. A primeira é não reconhecer o governo Temer. “Esse é um governo golpista. Ele vai mandar medidas de retrocessos, de privatizações; ações do interesse do capital financeiro internacional, dos empresários e capitalistas internacionais”, alerta. Para ele, “temos que combater essas medidas no Congresso Nacional”.

A segunda tarefa, não menos urgente, é a pressão sobre os senadores para que o resultado da segunda etapa do processo de impeachment na Casa tenha chances de ser diferente. “É hora de nos mobilizarmos contra os senadores para pressionar a votação final. Aqui em Brasília, por exemplo, são três golpistas: o Cristovam, o Hélio José e o Reguffe. São traidores do povo”, destaca Jacy Afonso.

A terceira ação destacada pelo dirigente sindical, nomeada por ele como “coluna vertebral estruturante”, é a auto-análise dos erros e acertos dos movimentos sindical e social para a reformulação das ações. “Temos que agir a partir de um sindicalismo mais classista, democrático, de luta e pela base. Vamos reorganizar a militância neste processo para superar dificuldades”, pontua Jacy Afonso.

Fonte: CUT Brasília

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