Todo cuidado é pouco para evitar clonagem

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A clonagem de cartão de crédito está se disseminando e tirando o sono dos brasileiros. Diante dessa escalada, é preciso ter muito cuidado na hora de usar o dinheiro de plástico, pois a dor de cabeça é enorme. Os mais descuidados podem ter o nome inscrito na lista de maus pagadores do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e ficar sem condições de comprar a prazo da noite para o dia — o que pode causar um baque nas finanças.

Não há limites para os bandidos: as fraudes ocorrem em todos os meios — físico ou virtual. Por isso, antes de comprar qualquer coisa na rede on-line, verifique se as páginas são seguras, bem avaliadas e oferecem bom sistema de segurança, pois existem muitos sites criados por estelionatários para enganar os compradores desatentos. Um antivírus atualizado também faz toda a diferença e impede invasões de hackers, que roubam dados bancários e pessoais. Prestar atenção ao que se publica na internet, inclusive em redes sociais, é outra medida que pode salvar a conta bancária.

No comércio, nunca perca o cartão de vista. É preciso ficar de olho do momento em que você o entregou ao vendedor até o cartão retornar para as suas mãos. Em questão de segundos, uma pessoa mal intencionada pode anotar os seus dados. Com eles, qualquer um pode fazer compras na internet, mesmo sem saber a senha.

Existem quadrilhas especializadas em roubar cartões entregues em casa. Eles são clonados e devolvidos ao verdadeiro dono, que só percebe o problema quando vê a fatura. Buscar o cartão na agência, em vez de pedir para que ele seja entregue em casa, pode evitar que isso aconteça. Nesse e em outros tipos de golpe, é comum que um falso funcionário ligue para confirmar a senha do cartão. Se isso acontecer, não tenha dúvidas de que se trata de um golpe. Os bancos nunca pedem senhas de clientes, em nenhuma hipótese.

Muitos fraudadores conseguem descobrir as senhas dos cartões sem precisar invadir computadores ou se passar por funcionários do banco. Em geral, basta que tentem senhas fáceis, como números repetidos ou datas de aniversários. Por isso, escolha combinações diferentes e não ande com a senha anotada em papel ou no celular. Tomar esses cuidados e estar sempre atento ao extrato da conta são medidas que ajudam a evitar prejuízos e dor de cabeça.

Vandre Matheus Damasceno sabe bem os transtornos causados pela clonagem de cartão. Em setembro de 2013, ele recebeu uma mensagem no celular alertando sobre uma compra que não tinha feito, no valor de R$ 5,9 mil. Logo que recebeu a mensagem, ligou para o banco e explicou que outra pessoa tinha usado o cartão de crédito.

Embora o correto fosse o bloqueio do cartão e a não cobrança do valor, o banco manteve o débito no nome do Vandre, que foi parar no cadastro de inadimplentes por não ter pago uma compra que não era dele. A solução foi entrar com uma ação judicial contra o banco. Só em janeiro de 2015, mais de um ano depois, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) condenou a instituição financeira ao pagamento de indenização.

Responsabilidade

A responsabilidade em casos de clonagem é sempre do banco, mesmo que às vezes ele não reconheça a fraude, como no caso de Vandre. O mais comum — e vantajoso — é o banco aceitar e ressarcir. Isso porque, se a vítima resolve entrar com ação judicial, a imagem do banco fica abalada e os custos para ele são mais altos.

Adepto das compras on-line, Fábio Vaz, de 27 anos, não precisou recorrer à Justiça, mas levou um susto ao perceber que três passagens aéreas foram compradas com o seu cartão, em janeiro deste ano. Ao receber uma mensagem no celular avisando sobre o gasto, ele checou a fatura e, após confirmar que se tratava de fraude, ligou para o banco. “Eles perceberam uma movimentação atípica e bloquearam a conta. No dia seguinte, eu já tinha sido ressarcido”, disse.

Geralmente, os casos são resolvidos pelo banco dessa forma, sem maiores complicações. Quando isso não acontece, é porque provavelmente os mecanismos antifraude do banco não apontaram o golpe. “Pode ser que o banco tenha considerado a movimentação normal, dentro do padrão de compras do cliente”, explicou o advogado especialista em crimes digitais Márcio Chaves.

Por isso, a primeira providência a ser tomada ao perceber o golpe é ligar para o banco imediatamente, a fim de explicar a situação e solicitar o bloqueio do cartão. Em seguida, deve ser feito um boletim de ocorrência. Como no Distrito Federal não há delegacia especializada em crimes digitais, a queixa deve ser feita em qualquer delegacia. Se mesmo assim o banco não reconhecer a fraude, é hora de entrar com uma ação judicial.

“Durante o processo, é o banco que precisa provar que a compra não foi fraudada, e não o contrário. Caso o juiz dê ganho de causa ao portador do cartão, além de o banco ser obrigado a ressarcir a quantia em dobro, cabe indenização por danos morais”, explicou o advogado.

“Durante o processo, é o banco que precisa provar que a compra não foi fraudada, e não o contrário. Caso o juiz dê ganho de causa ao portador do cartão, além de o banco ser obrigado a ressarcir a quantia em dobro, cabe indenização por danos morais”. Márcio Chaves, advogado especialista em crimes digitais.

Tecnologia facilita fraude

A popularização do uso de cartão de crédito com o fortalecimento da classe média nos últimos anos agravou o problema das fraudes. Embora a Polícia Civil não tenha dados sobre a quantidade de clonagem, o delegado Joás de Souza, chefe da Divisão de Falsificação e Defraudação (Difraudes), garantiu que as denúncias aumentaram significativamente, em especial nos últimos cinco anos. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviço (Abecs) mostram que, em 2013, 76% dos brasileiros já possuíam pelo menos um cartão.

Além disso, computadores, tablets e smartphones têm sido usados cada vez mais para fazer compras e pagar contas. Só em 2013, o atendimento bancário por meio de dispositivos móveis cresceu 80,9%, e o número de transações bancárias feitas em agências e postos de atendimento dos bancos diminuiu 1,7%, segundo registro do Banco Central (BC). Ou seja, as pessoas vão cada vez menos às agências e resolvem tudo por meio da internet.

Abrangência

A rede digital já atingia 51% da população brasileira, em 2013, segundo pesquisa divulgada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br). O problema é que, com fácil acesso ao computador e com mais cartões sendo usados a cada dia, os fraudadores conseguem se passar pelas vítimas, fazer compras no nome delas e até solicitar novos cartões de crédito.

Sabendo disso, o setor bancário investe R$ 20,6 bilhões por ano em tecnologia da informação, incluindo ferramentas destinadas a evitar possíveis tentativas de fraude, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Mesmo assim, em 2014, foram registradas mais de 2 milhões de tentativas de roubo de identidade, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Tentativas de Fraudes — Consumidor. Nesse tipo de irregularidade, uma pessoa se passa por outra para conseguir crédito de várias formas. Uma das maneiras mais usadas pelos criminosos para conseguir informações é vasculhar a internet.

A situação atinge tanto consumidores quanto os próprios bancos, que, de acordo com a Febraban, têm buscado fortalecer a segurança. O desafio é desenvolver formas de identificação e autenticação que impossibilitem as fraudes sem dificultar o acesso aos serviços, como o acesso biométrico com digital e as transações na internet autorizadas pelo celular.

“Eles (banco) perceberam uma movimentação atípica e bloquearam a conta. No dia seguinte, eu já tinha sido ressarcido”.Fábio Vaz, adepto das compras on-line.

Fonte: Correio Braziliense