SwissLeaks: Entenda o escândalo envolvendo o HSBC

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O diretor do Sindicato Paulo Frazão (de azul à esq.), em reunião da COE/HSBC em Curitiba no último dia 6

No dia 9 de fevereiro, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) deu início a uma série de denúncias sobre um escândalo financeiro de repercussão mundial, que envolve a filial suíça do banco HSBC. O caso, conhecido de SwissLeaks (que significa vazamentos suíços), chamou a atenção de autoridades e organismos de controle em todo o mundo.

Os documentos secretos obtidos na apuração realizada pelo ICIJ revelaram que o banco atraiu 106 mil clientes, entre suspeitos de sonegação e de diversos crimes, em 203 países entre os anos de 1988 e 2007.  A apuração aponta ainda que a filial suíça do HSBC aproveitou-se das falhas nas regras fiscais do país para ajudar quem estivesse disposto a sonegar ou esconder dinheiro. A quantia pode ter chegado a US$ 100 bilhões.

Só os correntistas brasileiros tinham cerca de US$ 7 bilhões em 2006 e 2007 no banco em Genebra. Eram 6.606 contas e 8.667 clientes. As informações disponibilizadas pelo ICIJ indicam que houve uma evolução no número de contas brasileiras abertas ao longo dos anos. Em 1989 eram 427; saltou para 1.379 dois anos depois; chegou a 1.899 em 2002; e, passados cinco anos, o número ficou em 1.896.

Investigações

Apesar da mídia brasileira ter praticamente se calado diante do escândalo do HSBC, a Receita Federal já está investigando os brasileiros com contas suspeitas no braço do HSBC em Genebra, criado exclusivamente para milionários. Segundo dados que vazaram na imprensa, fazem parte da lista de correntistas empresários, doleiros e suspeitos de ligação com o tráfico de drogas.  

No dia 27 de fevereiro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Federal investigue as denúncias de evasão fiscal envolvendo o banco HSBC na Suíça. Após uma análise das matérias jornalísticas, o Ministério da Justiça entendeu que uma investigação criminal se fazia necessária para apurar eventuais delitos e indícios de crime.

Além da investigação criminal, o Senado iniciou, no mesmo dia 27 de fevereiro, o processo de criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias de evasão fiscal. O autor do pedido foi o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que obteve 33 assinaturas para a abertura da comissão, e os membros da CPI já estão sendo indicados.

Má gestão não pode comprometer emprego das bancárias e dos bancários

Já faz algumas semanas que os bancários do HSBC têm sido surpreendidos com a avalanche de denúncias relacionadas às operações mundiais do banco inglês. Desde as revelações do SwissLeaks, a imagem da empresa se associou a termos como ‘fraude’, ‘lavagem de dinheiro’ e ‘sonegação de impostos’. A situação se agravou com o surgimento de uma lista de inúmeros clientes (de vários países) que estariam sonegando impostos por meio de contas bancárias na Suíça.

Como se já não bastasse estar envolvido em tamanho escândalo, a filial brasileira divulgou, no último dia 23, um prejuízo antes dos impostos de US$ 247 milhões (R$ 711,1 milhões) no ano de 2014. Em declaração à imprensa, o presidente mundial do HSBC, Stuart Gulliver, responsabilizou a economia brasileira e, pior, os funcionários pelos resultados negativos.

“O HSBC continua com essa postura de desvalorização dos trabalhadores e empurrando a responsabilidade dos baixos resultados financeiros para terceiros, ao invés de reavaliar sua política de má gestão”, afirma José Avelino, presidente da Fetec-CUT/CN.

O presidente mundial do banco também insinuou que pode tomar medidas mais drásticas com relação à filial brasileira. “Há partes do grupo que não estão oferecendo retorno (adequado), e estamos trabalhando para reestruturá-las. Não há opções, em termos de reestruturação, que não estejamos considerando”, indicou Gulliver no dia 23, apontando como possível solução a venda dessas unidades.

A culpa NÃO é dos funcionários

Após o ultimato de Gulliver – que disse que se em um ou dois anos os resultados positivos não voltarem, o banco poderá ser posto à venda –, os trabalhadores já começaram a ser cobrados. No dia 24 de fevereiro, André Brandão, presidente do HSBC no Brasil, enviou um comunicado a todos os funcionários justificando o não pagamento do PPR Administrativo, em função do prejuízo.

Brandão também ressaltou que as alterações organizacionais e os processos de reestruturação, ocorridos ao longo de 2014, absorveram parte importante da capacidade produtiva do banco. Ao final, o presidente disse estarem todos preparados para “virar o jogo” e alcançar a meta de ser a terceira maior operação do grupo, com lucro de R$ 3 bilhões em três anos.

Reunião

O diretor do Sindicato e representante da Fetec-CUT/CN na COE, Paulo Frazão, afirmou que, em reunião entre a Comissão e representantes do HSBC na sexta-feira 6, o banco se comprometeu a marcar uma reunião institucional com o presidente André Brandão para tratar das declarações de Gulliver. Segundo eles, o banco inglês não tem interesse em deixar o Brasil, por se tratar de um “parceiro estratégico” para o grupo.

“Na reunião, o banco afirmou também que criará um novo setor de Relação de Pessoas, para solucionar os problemas com os funcionários de maneira mais ágil, e que manterá o de Relações Sindicais no modelo atual, sob a coordenação de Gilmar Lepchack”, adiantou o diretor do Sindicato, que participou da reunião.

É preciso negociar DE VERDADE

O HSBC já se tornou conhecido por atropelar as negociações com  o movimento sindical ou mesmo falar uma coisa em mesa de negociação e, na prática, fazer outra. “Nas reuniões com a diretoria do banco, os representantes dos trabalhadores sempre destacam que a empresa precisa de uma gestão mais responsável e de política prática de valorização dos bancários”,  destaca o diretor do Sindicato Raimundo Dantas.

“Nossa principal reivindicação é a manutenção dos empregos. Queremos soluções com responsabilidade social”, diz Eduardo Araújo, presidente do Sindicato.

Cadê a Participação nos Lucros?

Com o prejuízo antes de impostos de US$ 247 milhões (R$ 711,1 milhões), o HSBC já informou aos funcionários que não fará o pagamento do Programa Próprio de Remuneração (PPR). Esse foi o pior desempenho entre todas as filiais latino-americanas e reverte a tendência de lucro vista nos anos anteriores. Em 2013, o banco inglês havia lucrado US$ 351 milhões no Brasil e em 2012 o ganho tinha somado US$ 1,123 bilhão.

Da Redação com Seeb Curitiba