SUA “INSOLÊNCIA”: O TRABALHADOR

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A vida é assim: uma caixinha de surpresas! Os sábios dos campos de futebol que o digam! O Brasil, entre outras coisas, notabilizado internacionalmente pela jocosidade do seu povo, muito mais agora em tempos de globalização, consegue se superar. No calor das lutas insólitas levadas a cabo pelo insistente (quiçá demasiado insistente) povo trabalhador, de súbito, brotam personagens que rememoram ícones de tempos idos, ou de relações sociais que foram sobrepujadas pela entrega de muitos.

Alguns dias atrás, aqui em São Paulo, onde tenho passado parte dos meus dias ultimamente, ocorreu um fato cuja fotografia deve ser guardada na memória do movimento sindical bancário. Estavam dirigentes e militantes ligados ao Sindicato dos Bancários de São Paulo dando conta da sua lide defronte a uma agência de banco, em virtude da campanha salarial, quando recebem um estafeta do judiciário. Acompanhado de formidável caravana policial, o rapaz entrega a um dirigente presente uma ordem judicial que já se tornou bastante familiar entre nós: o interdito proibitório.

Nada surpreendente. Esse tal de “interdito” é um instrumento que cheira a mofo, capaz de causar reações alérgicas inclusive em ácaros. Usado para restituir ao dono a propriedade sob invasão, e que já serve há séculos aos latifundiários e afins, agora é também usado pela banca, com a necessária conivência do poder constituído, para rechaçar direito legítimo e única arma ao alcance do trabalhador na busca por melhores dias: a greve.

No despacho, o meritíssimo magistrado foi muito além do lugar comum. Inovador, sua excelência não só determinou que a “turba”deveria se postar a anos luz de distância do local. Impôs nova condição: punição aos INSOLENTES. A estes o castigo! Aos malcriados a frieza das grades e a companhia de outros criminosos! Bravo! O austero guardião da lei buscou no canto mais escuro da intolerância uma pérola de inestimável valor! Ao saber do fato, me senti um viajante da história. Recordei Luiz XIV, os Czares, os generais verde-amarelo, mandarins, senhores de engenho, etc.

Insolência. Há anos não ouvia esta palavra. Creio que a última vez que a ouvi foi nos idos da década de 70. Está certo, Salvatore Cacciola, por exemplo, amealhou para si míseros R$ 1,6 bilhão alheio, mas jamais foi insolente, malcriado, deseducado, rebelde. Talvez seja por isso que as autoridades não o mantiveram preso, e ainda goza de merecidas férias no Principado de Mônaco, após duros dias assistindo corridas de cavalo na Itália. Afinal, como dizia a minha avó, “a burguesia tem seus encantos”!

Sérgio Braga

Diretor Executivo da Contraf