Sindicato repudia recomendação de Bolsonaro para comemorar o golpe de 64

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“Em março/abril a nação brasileira lembra-se de uma das páginas mais tristes de sua história: o golpe militar de 64 e os consequentes 21 anos de ditadura. Quem vivenciou esse período, marcado pela supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão, carrega um sentimento de angústia”. Esta é a avaliação do Sindicato, que endossa os repúdios à recomendação de Bolsonaro de comemorar os 55 anos do golpe, “que soa como apologia à prática de atrocidades massivas”.   

Na década de 60, o país estava dividido entre os que apoiavam o golpe e os que sentiam o peso da inflação. Amparados pelos setores conservadores da sociedade, os militares tomaram de assalto o poder em 1º de abril de 1964. Em Brasília, o Sindicato foi ocupado pelos militares.

Adelino Cassis, sucessor de Alvimar Figueira da Fonseca, fundador e primeiro presidente do Sindicato, presidiu a entidade na gestão de 62 a 64, exatamente no início do golpe, quando foi demitido, preso e perseguido pelos militares. Homem de luta, mesmo na clandestinidade resistiu à ditadura.

“Além de Cassis, diversos companheiros que lutavam por melhores condições de trabalho e vida dos candangos foram alvo dos ditadores. Além da violência física, existia a violência psíquica. Muitas ameaças vinham em forma de conselho. Era comum bancários ouvirem: ‘se você se filiar (ao Sindicato) não vai receber promoção e pode até ser demitido’”, relembra o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo.

Durante a ditadura, mais de 300 bancários de todo o país tiveram seus direitos violados, sobretudo os participantes do movimento sindical. “Eles sofreram forte repressão – foram demitidos, presos, torturados, mortos – por defenderem os trabalhadores”, lamenta Araújo.

O Sindicato contribui no resgate da memória do povo brasileiro, sobretudo dos bancários de Brasília, relatando esse período tenebroso para que essa história antidemocrática não se repita. Resultado de uma das diversas atividades da Comissão da Verdade sobre a ditadura da entidade, instalada em 4 de dezembro de 2013, foi elaborada uma revista, onde é possível conhecer um pouco da história dos que enfrentaram a censura e as imposições da ditadura civil-militar no Brasil.

Retrocesso

Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas, e também no interior do Estado. Mas no decorrer de algumas horas, o Brasil retrocedeu anos, e estava decretada a ditadura militar.

“O assalto ao poder foi um crime contra a constituição. Configurou uma ocupação violenta de todos os aparelhos de Estado para, a partir deles, montar uma ordem regida por atos institucionais, pela repressão e pelo estado de terror”, disse Leonardo Boff, teólogo e filósofo, em sua coluna, no Brasil de Fato, em 2012.

Ato para denunciar a herança maldita

No próximo domingo (31), o Sindicato se une ao ato Ditadura Nunca Mais!, organizado pela CUT Brasília e movimentos sociais, que acontecerá no Eixão Norte (altura da 108), a partir das 9h, em repúdio ao pronunciamento do presidente Bolsonaro (convocando o povo a comemorar o golpe militar de 1964) e para denunciar a herança maldita que a ditadura deixou para o Brasil.

Um evento foi criado no Facebook da CUT Brasília. Confirme sua presença acessando http://bit.ly/AtoDitaduraNuncaMais

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília