Seminário Saúde do Trabalhador: Metas e gestões abusivas são principais causas do adoecimento bancário

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As estratégias de enfrentamento contra as metas e gestões abusivas nos bancos, que levam ao adoecimento do bancários, foram o mote do seminário sobre a saúde do trabalhador, promovido pela Contraf-CUT nesta quarta-feira (10), em São Paulo, do qual participaram os secretários de Saúde do Sindicato, Vanessa Sobreira, e da Fetec-CUT/CN, Wadson Boaventura.

“A violência organizacional promovida pela busca de resultados intangíveis é a principal causa de adoecimento bancário. Por isso esse seminário foi de extrema importância para pensarmos estratégias de enfrentamento a essas novas formas perversas de gestão”, aponta Vanessa Sobreira.

Para Wadson Boaventura, o seminário desnudou os processos referentes às metas abusivas e gestão. “Agora temos que levar esses debates para os bancários e, é claro, teremos a revelação da nossa pesquisa das plataformas digitais, trazendo assim uma olhar para os problemas atuais da revolução do mundo do trabalho”, comentou.

De olho nos sintomas

Para Elisa Ferreira, especialista em psicologia clínica e perita assistente na justiça do trabalho, é importante ficar atento aos quadros de sintomas dos bancários que podem indicar o início do adoecimento. “A sociedade está acostumada a perguntar se o trabalhador está com problemas em casa, com os filhos, com o casamento, na vida pessoal de forma geral, quando, na verdade, o problema está no local de trabalho”, alertou.

De acordo com Elisa, que também é membro da Comissão Intersetorial em Saúde do Trabalhador, o maior problema é a vergonha dos trabalhadores em assumir um problema. “Menos de 20% dos bancários, com este tipo de problema, apresentam os atestados ou buscam seus direitos para os tratamentos. Eles têm medo de apresentar a documentação e ficarem com um X nas costas. Temos que coibir esse tipo de mentalidade nos bancos”, enfatizou.

Metas abusivas

A advogada trabalhista e mestre em Direito Econômico e Social da PUC/PR, Jane Salvador Gizzi, falou sobre metas abusivas, seus limites legais e a estratégica jurídica de enfrentamento. “Às vezes o trabalhador atingiu a meta, mas a que custo? A cobrança abusiva leva à precarização da existência, quando o trabalhador faz as coisas sem perceber, trabalha resistindo e adoecido, até não aguentar mais”.

Jane destacou que o melhor tipo de enfrentamento é o trabalho e a união junto ao movimento sindical. “Sem a união dos trabalhadores, todos vão sofrer sozinhos, casa um em seu local de trabalho”, observou.

Assédio moral

Trabalhar sobrecarregado, ter de cumprir metas diárias e sofrer cobranças fora do horário de trabalho se tornaram situações comuns no dia-a-dia de muitos trabalhadores. Porém, de acordo com a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), Sofia Vilela de Moraes e Silva, atitudes como essas se configuram como assédio moral no trabalho, tema abordado por ela.

A procurada explicou que o assédio moral no trabalho pode acontecer por gestos, palavras ou comportamentos. “A tecnologia possibilita que o assédio moral aconteça de outras formas. Muitas denúncias que recebo, geralmente, já vêm acompanhadas de provas, como e-mails enviados além do horário de jornada com cobranças, áudios e conversas de aplicativos de mensagens”, disse.

E acrescentou: “Nos bancos, a forma mais comum de assédio moral é organizacional, quando um trabalhador cobra o outro, pois todos da empresa precisam bater a meta. Já o assédio moral interpessoal, acontece entre o superior e o trabalhador e vice-versa e entre colegas de trabalho da mesma hierarquia.”

Avaliação de resultados

Para o psicólogo gaúcho André Guerra, que falou sobre a subjetividade no novo modelo de gestão dos bancos, é importante ter a compreensão do modo de poder opressivo e sedutor que vem se instalando nas empresas junto com as novas tecnologias.

“O Trilhas (programa de resultados) possui uma série de variedades subjetivas, dentre elas, funcionário com atitude de dono e foco no cliente. Tudo isso, faz com que as pessoas ‘sejam seduzidas’ e pensem que a avaliação ajuda o profissional a se aperfeiçoar. Mas, não. Essa subjetividade é um alimento para o assédio moral”, ressaltou o psicólogo.

Da Redação com Contraf-CUT