Seminário da Contraf debate fusões no sistema financeiro

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A crise bancária nos Estados Unidos, iniciada pelo mercado subprime, levará a uma nova onda de fusões no sistema financeiro, previu o economista Luiz Gonzaga Beluzzo no seminário que está sendo realizado pela Contraf/CUT, na sua sede em São Paulo. Para o professor da Unicamp, os bancos deveriam exercer uma função pública na economia, o que está longe de acontecer no Brasil, e sua atuação deveria ser regulada e fiscalizada com mais rigor pelo Banco Central e pela sociedade.

"Essa é uma questão de correlação de forças na sociedade, de luta política, de convencimento. Infelizmente essa discussão não está colocada na sociedade, mas é preciso que esse debate público seja introduzido", pediu Beluzzo, com a concordância de João Vaccari, ex-presidente do Sindicato de São Paulo e funcionário do Santander, que também participou da mesa que discutiu Fusões e Aquisições no Sistema Financeiro.

"A brutal concentração que houve a partir dos anos 80, para ganho de escala, ao contrário do que foi propagado não tem nada a ver com competição, e sim com a formação de oligopólios, o que exige dos bancos centrais maior atuação", avaliou Beluzzo. "As regras prudenciais do Acordo da Basiléia estimulou isso. Em vez de dar mais solidez e mais eficiência, aconteceu o contrário. Foi uma capitulação."

Para o professor da Unicamp, "a função do sistema bancário é uma função pública executada por agentes privados, o que impõe aos bancos centrais responsabilidade maior. Hoje há coisa ambígua. A tendência é que os bancos centrais sejam capturados pelos regulados".

‘É preciso defender direitos dos bancários e da população’

O ex-presidente do Sindicato de São Paulo, João Vaccari, relatou o processo de luta dos bancários do Santander para tentar impedir a privatização do Banespa, na década passada. "A preocupação que tínhamos na época já era a concentração do sistema e como se daria o controle sobre os bancos", afirmou Vaccari. "E não havia controle sobre nenhum banco, nem público nem privado, o que acontece até hoje."

O resultado das privatizações e da concentração, segundo o ex-presidente do Sindicato de São Paulo, é que hoje muitas regiões do país deixaram de ser assistidas pelo sistema bancário. "Os pequenos municípios, ao perderem as agências bancárias de bancos públicos porque não eram rentáveis aos bancos privados, perdem também a atividade comercial, que é transferida para os municípios maiores que têm banco."

Vaccari previu problemas na fusão que está ocorrendo do Santander com o Real, por causa da mudança de cultura, e destacou o processo de conglomeração do Banco do Brasil, com a aquisição de bancos estaduais (Besc, BRB e Nossa Caixa).

"É preciso máximo de alerta e de prevenção", chamou a atenção Vaccari, "para se garantir tanto os direitos dos trabalhadores como os da população".

O seminário continua nesta quinta-feira, com análise de conjuntura.

Fonte:Contraf/CUT