Revista ‘O Espelho’: o assédio contra quem faz greve no BB

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Direção do Banco do Brasil lança mão de ameaças e descomissionamentos para punir os bancários que participam de greves e paralisações

Depois de 25 anos de trabalho dedicado ao Banco do Brasil, o bancário Rudimar Biermann da Luz, de Santo Ângelo (RS), foi parar na “geladeira”. Tudo porque, segundo ele, exerceu seu direito e participou ativamente das últimas greves. Resultado: foi transferido para o arquivo da agência, um cubículo de três por cinco metros, sem janelas, sem mesa, sem nenhum conforto. Lá, ficou isolado entre gavetas de aço e caixas de papel, em local insalubre e que funcionava apenas como corredor de passagem. “Sempre me achei forte, mas ser escorraçado desta forma foi um golpe”, conta.

Assim como Rudimar, centenas de bancários estão passando pela mesma situação. Ameaças de descomissionamento, ligações no meio da noite e pressão da gerência são que a direção do Banco do Brasil usa para esvaziar greves e mobilizações. Mas a retaliação, agora, ganhou uma proporção assustadora. Relatos e casos de discriminação contra bancários que participam da greve não faltam. Os sindicatos estão reagindo à altura, inclusive com ações na Justiça, mas a falta de democracia não pára.

“Simplesmente fizeram um sinal de ‘vai’ com a mão, para me indicar o arquivo, como se eu fosse um bicho”, lamenta Rudimar. Está não é a primeira vez que o funcionário sofre retaliações. Quando atuava no auto-atendimento, também passou por outras dificuldades. “Ali, queriam que eu abastecesse numerário sem ter comissionamento de caixa”, conta. A cobrança de responsabilidade era tamanha que os colegas o tratavam como chefe. “E eu tinha que dizer que era um colega, não um superior”, revela.

Para piorar a situação, Rudimar adquiriu uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER/DORT) e ficou afastado por trinta meses. Recebeu alta sob a condição de não fazer mais movimentos repetitivos, mas o BB realocou Rudimar na digitação. “Expliquei que não podia, por recomendação médica. Então me falaram que só sobrava o arquivo”, recorda. Ali não tinha nenhuma atribuição, passou a trabalhar por conta, organizando os documentos. Ficou afastados dos colegas e sofreu a perda de comissão. Após a interferência do Sindicato, Rudimar foi retirado do isolamento, mas não voltou à função de origem nem recuperou o comissionamento.

A chantagem com a comissão

O terrorismo contra os bancários é tamanho que dias antes do início da Campanha Nacional deste ano, o superintendente do BB no Rio Grande do Sul, Ary Joel de Abreu Lanzarin, mandou uma mensagem para quem exerce cargos comissionados: “Contamos com a colaboração de vocês, que são nossa linha de frente. Vocês se esforçaram muito para chegar aonde chegaram, e muitos gostariam de estar no lugar de vocês”. A sutileza e a elegância da mensagem ganharam o verdadeiro tom nas agências: “O banco vai descomissionar quem fizer greve”, era a ameaça constante que os bancários ouviam.

Quem participou das paralisações ouviu, sem meias palavras, que foi preterido para cargos comissionados. Foi o que aconteceu com um assistente que se candidatou a gerente de contas e soube que estava fora do processo por ter aderido à paralisação em Porto Alegre. Mesmo com a intervenção de seus superiores, a Superintendência barrou a tentativa.

A coação é tamanha que funcionários que estiveram em paralisações receberam telefonemas de gerentes pedindo que retirem seus nomes para que outros candidatos tenham condições de participar. Eles alegam que os grevistas não têm mesmo a menor chance de conseguir a comissão e que dêem oportunidade para os trabalhadores que realmente poderão ser promovidos. É uma clara fraude ao processo de concorrência.

Outro bancário de Porto Alegre, que também pede para não ser identificado, contra a retaliação que sofreu por participar de greve. Com 27 de banco, aderiu às paralisações da Campanha Nacional do ano passado e, por conta disso, ficou à margem do processo de comissionamento que criou cinco novos cargos com melhores remunerações.

“Eu estava inscrito e, no meio do caminho, mudaram as regras sem comunicação. Só fui informado de que era preciso me reinscrever quando o prazo já estava esgotado”, conta. A conseqüência foi uma depressão grave, que o levou a uma licença-saúde de três meses. “Sinto até hoje, mas não vou abrir mão do que eu penso e acredito”, desabafa.

O mesmo aconteceu com outro colega da região de Santa Maria. Em quatro oportunidades de comissionamento ele ficou de fora “Tenho dois cursos superiores e pós-graduação, e a escolha se deu por pessoas que sequer têm nível superior”, denuncia. O motivo, afirma, é claro. Ele é dirigente sindical e participou de movimentos de greve. “Todos os grevistas foram preteridos nas promoções”, completa.

Reação  

A reação do movimento sindical tem sido à altura dos ataques do Banco do Brasil. No Rio Grande do Sul, onde todos esses casos se passaram, está tramitando o processo 807/2007, na Procuradoria do Trabalho da 4ª Região, que reúne diversas denúncias de funcionários que são preteridos para cargos comissionados e promoções em função de terem participado de greve ou por outros tipos de perseguição.

Todos os funcionários que foram atingidos pelas atitudes discriminatórias no estado ainda podem relatar o ocorrido à Procuradoria, citando o número do processo. Os funcionários do interior também podem aderir. Basta procurar o Ministério Público do Trabalho de sua região e citar o número do processo (807/2007). O bancário também deve buscar auxílio no seu sindicato.

O problema é nacional

Os casos relatados nesta reportagem foram contados pelos bancários gaúchos, mas as retaliações do Banco do Brasil aos grevistas ocorrem em todo o Brasil. Em São Paulo, por exemplo, o Sindicato reuniu-se várias vezes com a Superintendência para denunciar o problema. No último encontro, em 18 de setembro, os representantes dos bancários falaram sobre a perseguição a funcionários que participam das atividades da categoria (como paralisações e greves) ao superintendente Valmir Rossi. Ele reafirmou que não há discriminação alguma, pois o sistema de comissionamento é baseado no ranking de pontuação existente no sistema do BB. Afirmou ainda que apenas uma “pequena parte” das nomeações é feita pela Super, o restante pelas próprias dependências. O fato é que as ameaças e perseguições persistem, justamente, nas dependências.

Fonte: O Espelho (edição nacional 248)