Revisão do equacionamento: uma questão de humanidade

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Fabiana Matheus *

Reduzir o equacionamento é, em primeiro lugar, uma questão de humanidade. É uma questão de humanidade no momento extremo em que o país vive. É uma questão de humanidade porque os aposentados e ativos da Caixa estão endividados e doentes. É uma questão de humanidade porque quem fez a Funcef virar o terceiro maior fundo do país merece um aceno de que a vida pode seguir com mais esperança, com menos dor.

Só por esse fator, o humano, a Funcef já deveria fazer a redução. A legislação permite – o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) publicou a resolução nº 30, dando aos fundos de pensão a opção de ampliar o período e o número de parcelas das contribuições extraordinárias -, e os resultados ruins da fundação já deixaram claro que o problema é a política de investimentos, que insiste em não promover a diversificação dos investimentos.

A Fenae trouxe dados concretos para mostrar que o caso é sério e necessita urgentemente de uma solução. A pesquisa Realidade dos Trabalhadores da Caixa – Ativos e Aposentados, realizada em 2019, revelou dados alarmantes que podem nos dar uma ideia do porquê os bancários estão doentes e deprimidos.

Apenas 10,6% de todos os trabalhadores afirmam ter mais dinheiro do que precisam para sobreviver. Dos aposentados, aqueles que já deveriam estar descansando sem grandes preocupações, 66% se dizem endividados. E as contribuições extraordinárias do equacionamento, que consomem em média 20% dos recursos deles, se soma às dívidas, que consomem outros 40% dos rendimentos. Cerca de 97% dos aposentados e 22% dos ativos estão pagando equacionamento e gastam, em média, R$ 1,6 mil por mês com isso.

Sobram 40% que são insuficientes para pagar por moradia, alimentação, remédios, gastos com dependentes etc. A dívida e a falta de perspectiva acabam corroendo física e mentalmente os aposentados, causando graves doenças psicológicas. O drama não termina aí. Com a crise econômica e o desemprego, vários deles acabam sendo obrigados a ajudar familiares. No caso dos da Caixa, 61,2% ajudam, principalmente, familiares, filhos, pais e irmãos. O resultado é um grande número de aposentados voltando ao mercado de trabalho. Cerca de 60% dos aposentados que voltaram a trabalhar afirmam que o motivo foi a necessidade financeira.

O resultado de tanto problema financeiro acaba sendo sentido na saúde. A pesquisa revelou que quatro em cada 10 aposentados têm uma doença crônica e 74,5% deles utilizam remédio de uso contínuo. Dos ativos, 32,6% usam remédio de forma contínua. Entre os ativos que utilizam remédio de uso contínuo, 11,1% usam antidepressivo, ansiolítico e remédio para tratamento de transtorno obsessivo compulsivo (TOC). No caso dos aposentados, 6% usam antidepressivos ou ansiolíticos. Cerca de 50% dos aposentados fazem algum tratamento de saúde. Desses, 10,7% fazem tratamento psiquiátrico, tratamento com psicólogo ou tratamento com neurologista.

Essa questão não tem ou não deveria ter conotação política. O quadro está claro e a Funcef sabe disso. Passou da hora da fundação sair do palanque e tomar uma atitude efetiva para aliviar a pressão sobre esses seres humanos, que dedicaram suas vidas ao trabalho e à construção de uma Caixa Econômica e de uma Funcef que foram grandes responsáveis por fazer do Brasil um país melhor para milhões de brasileiros. Funcef, reduza o equacionamento, é uma questão de humanidade!

Fabiana Matheus é diretora de Saúde e Previdência da Fenae.