Artigo de Rodrigo Britto, presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN)
Companheiros,
Esse meu relato, que tentarei fazer de forma sucinta, tem por objetivo situar o que ocorre neste momento no Banco do Brasil a partir da obrigação e do compromisso inarredável de um sindicalista com os interesses da categoria acima de qualquer outros.
* Jornada Legal de 6 horas. Artigo 224 da CLT: com a vitória da classe trabalhadora através da eleição do presidente Lula, em 2002, tivemos a oportunidade de fortalecer o movimento sindical CUTista, a organização bancária e, com estratégia, combater e corrigir as distorções e aberrações realizadas pelo governo neoliberal de FHC no Banco do Brasil.
Entre 2005, com as ações de interrupção da prescrição, e 2013, com ações coletivas, plúrimas e individuais de reconhecimento da jornada legal de 6 horas, conforme determina o artigo 224 da CLT, e pagamentos das 7ª e 8ª horas, conseguimos por meio de uma eficiente estratégia jurídico-sindical, construída dentro do Sindicato dos Bancários de Brasília, uma das principais vitórias deste século para o funcionalismo do BB: o efetivo enquadramento laboral como bancários e o cumprimento legal da nossa jornada de trabalho de 6 horas sem redução salarial.
Uma grande conquista do movimento sindical que a atual direção do Banco do Brasil coloca em risco com a reestruturação apresentada ao funcionalismo nesta sexta-feira, 3 de outubro de 2025.
* Golpe de 2016. Com o golpe jurídico-parlamentar que, entre outras coisas, resultou no processo ilegal de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, tivemos uma “onda” de retrocessos em nosso país que resultaram na reforma trabalhista, prisão do presidente Lula, reforma da previdência, entre várias outras medidas nefastas e verdadeiros crimes contra os trabalhadores e contra a população brasileira.
No Banco do Brasil, em 2016, menos de um mês após o afastamento de Dilma Rousseff, o então presidente do banco público, Paulo Caffarelli, mudou a estratégia e missão do BB, abandonando seu papel social, sua função de agente financeiro do governo federal e passando a ser “um banco de mercado com espírito público”.
* Eleição de Bolsonaro. Com a vitória, questionável, da extrema-direita nas eleições presidenciais de 2018, tendo como seu líder o golpista e genocida Jair Messias Bolsonaro, assim como outras empresas públicas, o Banco do Brasil é colocado na mira da privatização e sofre um criminoso desmonte.
Em 2019 é realizada consultoria externa no BB, que sepulta de uma vez por todas a política de pessoas que norteou a atuação de Luiz Oswaldo Sant’iago Moreira de Souza e sua equipe na vice-presidência de Gestão de Pessoas, durante os governos do Partido dos Trabalhadores.
A obsessão pelo Itaú e a implementação de uma Estratégia Corporativa no Banco do Brasil pautada pela gestão da “Intimidação, Medo e Ansiedade”, conforme comprova estudos da mestra em Psicologia Social no Trabalho Ana Magnólia Bezerra Mendes, causa na direção do BB uma busca insana pela superação dos resultados do Banco Itaú – e consequente desmonte da estrutura da empresa e da cultura “família BB”. O adoecimento mental no trabalho e o fortalecimento do individualismo são graves consequências dessa nova estratégia corporativa.
* Performa. Com o objetivo de enxugar a folha de pagamento do BB e facilitar qualquer iniciativa de privatização do banco público, seguindo orientações da política de Paulo Guedes, foi implementado em 2020 o Performa no Banco do Brasil.
O novo plano de cargos e salários implementado foi duramente criticado por reduzir os valores de referência salariais para novas funções de confiança, criando defasagens salariais e dificultando a progressão na carreira para novos funcionários. As distorções e aberrações no “Deforma” são tão absurdas que geram até quatro remunerações diferentes para a mesma função.
Naquele ano, o Sindicato dos Bancários de Brasília denunciou a direção do Banco do Brasil por descumprimento de Acordo Coletivo de Trabalho, procurou mediação do Ministério Público do Trabalho, realizou manifestações, paralisações e impetrou ação judicial contra o BB.
O Conselho Diretor do Banco do Brasil, não satisfeito com as arbitrárias medidas já executadas, continuou em 2021 com novas reestruturações que acarretaram fechamento de agências, aumento da precarização e fraude trabalhista por meio do atendimento realizado pelos correspondentes do Mais BB e a extinção do cargo de Caixa Executivo, que somente ainda existe, embora em número reduzido, em razão de ação judicial da Contraf-CUT e negociação coletiva realizada pelo movimento sindical via ACT BB em 2024.
* Gestão Tarciana Medeiros no BB. Com a vitória da frente ampla e democrática contra o projeto golpista e fascista liderado por Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, a esperança por dias melhores voltou a fazer parte da vida de milhares de brasileiras e brasileiros liderados pelo presidente Luíz Inácio Lula da Silva.
O Governo Lula III, mesmo enfrentando constantes ataques antidemocráticos da extrema-direita, contra nossa soberania e precisando dialogar com um Congresso Nacional conservador e, em grande parte, inimigo do povo, apresenta resultados fantásticos com crescimento da economia, redução da desigualdade social, retirada do Brasil do Mapa da Fome, crescimento dos empregos e aprovação de importantes pautas como a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos super-ricos. Vale salientar que algumas dessas vitórias somente foram possíveis devido à indignação e mobilização popular, com apoio de setores culturais e dos movimentos sociais, que fizeram várias pessoas se manifestarem nas ruas e nas redes.
No Banco do Brasil, no início de 2023 essa mesma esperança fazia parte do coração do funcionalismo. O presidente Lula confiou o comando do principal banco público brasileiro a uma mulher negra, nordestina, lésbica e com uma história de superação e competência. Parecia um casamento perfeito que resultaria em dias melhores na gestão do BB e para seu funcionalismo.
Logo no início várias promessas foram feitas, empolgando todo corpo funcional em eventos presenciais e virtuais, inclusive prometendo corrigir as distorções e o passivo trabalhista gerado pelo Performa. Porém, com o tempo, junto com vice-presidentes como Carla Nesi e Geovanne Tobias, as promessas de dias melhores foram esquecidas e o direcionamento do atual Conselho Diretor virou todo para o deus “Mercado”.
Todas as mensagens divulgadas pelo Banco do Brasil eram voltadas aos acionistas privados, deixando de lado o acionista controlador, a União, que inclusive sofreu fortes críticas do banco no item 4 do Formulário de Referência 2025, que trata dos Fatores de Risco.
* Apunhalada pelas costas. Em um momento onde o movimento sindical brasileiro resiste aos ataques do setor patronal, a uma legislação antissindical com revisão das súmulas e OJs pelo TST por causa da reforma trabalhista de Temer; com ataques à competência constitucional da Justiça do Trabalho pelo STF; com a aprovação da terceirização da atividade-fim das empresas e risco da liberação geral das pejotizações, a categoria bancária ainda resiste mantendo os direitos de seus trabalhadores e sua estrutura sindical, por causa da sua unidade nacional organizada através dos sindicatos, das federações e da Contraf-CUT, por sua Convenção Coletiva de Trabalho e pelo artigo 224 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Neste momento, em que observamos várias tentativas de precarizar as formas de contratação, práticas de terceirizações fraudulentas, desrespeito às leis de Defesa do Consumidor, práticas de fraudes tributárias e outras ilicitudes sendo cometidas pelas instituições financeiras privadas, somos surpreendidos pela reestruturação apresentada pelo Conselho Diretor do Banco do Brasil, que é uma verdadeira “apunhalada nas costas” dos bancários e bancárias de todas as instituições públicas e privadas.
Tal medida, se não for revogada, em relação à alteração da jornada de trabalho de 25% dos assessores I e II de 6 horas para 8 horas, reabre um precedente que já havia sido “enterrado” com a luta pela jornada legal de 6 horas nas últimas duas décadas. O que coloca em risco nossa Convenção Coletiva de Trabalho, que voltará a ser negociada em 2026, todos os direitos conquistados pelos instrumentos de luta dos bancários, que são os sindicatos, e nosso atual enquadramento como categoria profissional.
A atual direção do Banco do Brasil conseguiu dar um belo e estratégico presente para os sanguessugas capitalistas da Faria Lima, em uma semana em que conseguimos impor a eles uma histórica derrota na Câmara Federal. Deu uma verdadeira “apunhalada nas costas” dos funcionários do banco, na categoria bancária e nos trabalhadores do ramo financeiro neste momento de reorganização sindical e aglutinação de forças.
Obrigado a cada membro do Conselho Diretor do Banco do Brasil, presidenta e todos vice-presidentes, pelo vergonhoso “presente de grego”. Repensem sua decisão ou assumam as suas consequências.
Rodrigo Britto,
Presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN)
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