Pandemia consolidou e acelerou digitalização nos bancos, destaca economista em palestra sobre tecnologia

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O mundo não é mais o mesmo. E se antes da pandemia do novo coronavírus as tecnologias já ocupavam papel de destaque na vida das pessoas, hoje são tidas como imprescindíveis. Durante palestra promovida pela Secretaria de Formação do Sindicato nesta quarta-feira (28) sobre o tema, o economista do Dieese Gustavo Cavarzan frisou que as inovações tecnológicas têm mudado intensamente, interferindo no setor financeiro tanto na prestação do serviço bancário como na força de trabalho no setor.

Com a participação de bancárias, trabalhadores do ramo financeiro e dirigentes sindicais, a palestra “Tendências recentes de inovação tecnológica e fragmentação do emprego no ramo financeiro” detalhou as ondas tecnológicas por que passaram os bancos no Brasil, como o setor financeiro lidou com as inovações e o impacto dessas transformações no trabalho bancário.

Secretária de Formação do Sindicato e bancária do Bradesco, Raíssa Fraga comentou que “a transformação digital veio para ficar,  por isso é cada vez mais urgente e necessário trazer essa discussão à tona e não apenas trazer a discussão, como também trazer a inclusão. Nem todo mundo tem a mesma facilidade e operacionalidade com tantos avanços tecnológicos, com tantas ferramentas e recursos digitais. Nossa proposta é destrinchar ainda mais esse tema, já que o assunto é muito amplo e atinge diretamente a vida de todos os bancários e bancárias”.

Gustavo Cavarzan, doutorando em Economia Social e do Trabalho pela Unicamp, começou sua exposição lembrando que o sistema financeiro é, de longe, o setor da economia que mais investe em inovações tecnológicas historicamente. Só em 2019, os bancos no Brasil investiram R$ 24,6 bilhões em tecnologia. No ano anterior, foram R$ 19,8 bilhões. Entre as razões para este alto investimento, estão a grande capacidade de aporte financeiro e a concentração de mercado, dominado pelos cinco maiores bancos.

Digitalização das transações financeiras e das áreas de apoio dos bancos; inteligência artificial; expansão das fintechs; novos modelos de negócio, como o PIX; novos modelos de trabalho, amplificados pela pandemia, como o home office e agências digitais, são tendências fortemente aplicadas nas instituições financeiros no Brasil.

“Há uma mudança muito rápida em relação às transações financeiras por canal de realização de transação. Durante a pandemia, o percentual de transações bancárias feitas por canais virtuais chegou a 74% em abril de 2020. Em 2012, essa opção equivalia a apenas 1%. Essa mudança tem impacto em segmentos do trabalho bancário, como é o caso dos caixas”, pontuou Gustavo.

De acordo com o economista, a pandemia veio para consolidar e acelerar o processo de digitalização. “Por conta do isolamento, aquelas pessoas que tinham resistência ao uso das tecnologias para realizar transações tiveram que se render e migrar para esses canais digitais. Para os bancos, essa migração é vantajosa porque os custos são menores do que as transações feitas nas agências físicas. E é por isso que os bancos investem tanto em inovação”, complementa o economista.

Outro grupo que foi afetado pela modernização no setor bancário são os trabalhadores do telemarketing. De janeiro a abril de 2020, houve um aumento de 78% na interação com robôs via chatbot. 

Impactos no trabalho bancário

Sim, as inovações impactaram a categoria bancária. Mas, de acordo com o economista do Dieese, este não é o único fator que reduziu consideravelmente o volume de trabalhadores no setor. Para Cavarzan, a flexibilização trabalhista, a crise econômica e o sucateamento dos bancos públicos são alguns dos processos que têm gerado a diminuição do emprego bancário ao passo que expandiu o emprego financeiro em outros segmentos periféricos.

“De 2013 para cá, quando as inovações começam a acelerar no país, a categoria bancária teve redução de quase 83 mil postos de trabalho e uma mudança significativa no perfil ocupacional deste grupo. Além de reduzir o número de trabalhadores da base da pirâmide ocupacional e salarial, o sistema financeiro aumentou a quantidade de trabalhadores de segmentos gerenciais”, ressaltou o palestrante.  

“Do ponto de vista político organizativo, estão colocados dois grandes desafios: primeiro, a redução dos postos de trabalho bancário e de agências, com impacto na representação sindical, e o aumento brutal de trabalhadores pulverizados em outros segmentos do ramo financeiro que não têm sindicato para defendê-los”, ponderou o consultor de formação do Sindicato, Jeter Gomes.

Joanna Alves
Do Seeb Brasília