O 13º ConCUT, Lula Livre: Esperança e desafios aos trabalhadores

0
Delegação de Brasília ao 13º ConCUT

Trabalhadores da cidade e do campo, oriundos de todos os pontos do país, onde travam suas lutas, estão de volta ao cenário original da 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, a CONCLAT, realizada em agosto de 1981, na cidade de Praia Grande, litoral paulista.

De 7 a 10 de outubro de 2019, após 38 anos daquele que foi o maior encontro de militantes sindicais do país, Praia Grande é palco do 13º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (ConCUT). Criada dois anos depois daquela memorável CONCLAT que lançou as bases da organização nacional dos trabalhadores para o enfrentamento direto à ditadura militar então vigente no Brasil, a CUT agora debate estratégias para o combate ao governo de extrema direita instalado no país em 1º de janeiro deste ano.

O 13º ConCUT prepara a luta contra os ataques sistemáticos do governo fascista de Jair Bolsonaro aos direitos sociais e trabalhistas, contra a censura e a intolerância e pelo restabelecimento da democracia.

Conforme destaca Sérgio Nobre, Secretário Geral da CUT, “a realização do congresso se dá em uma conjuntura extremamente difícil e desafiadora, mas é em momentos assim que a classe trabalhadora dá seus grandes saltos e esse congresso ficará marcado na história”.

Às representações de trabalhadores das diversas regiões brasileiras – mais de dois mil delegados e delegadas, urbanos e rurais -, somam-se 50 delegações internacionais, num esforço concentrado para a reflexão sobre futuro do trabalho, alternativas de organização dos trabalhadores, desafios ao sindicalismo frente aos avanços das novas tecnologias, desregulamentação e precarização do trabalho.

Para o presidente do Sindicato, Kleytton Morais, que participa dos debates como delegado ao congresso, um dos primeiros e fundamentais desafios para o sindicalismo é superar a barreira da comunicação e engajar trabalhadores e trabalhadoras na luta. “O capital, com suas estruturas de pensamento – ‘think tanks’ ideológicas – tenta a todo custo romper o paradigma do que se entende por classe trabalhadora”, diz o dirigente.

Kleytton destaca a disseminação pelo capital de conceitos como colaboradores, em vez de trabalhadores, com o intuito de normalizar institutos como negociação individual, direta entre “colaboradores” e patrões, entre outras figuras recentes incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro pós reforma trabalhista como, por exemplo, os hipersuficientes (trabalhadores com curso superior e salários acima de dois tetos do INSS). “O sindicalismo contemporâneo precisa entender bem essa disputa, que claramente busca destruir a noção da classe trabalhadora”, frisa o presidente do Sindicato.

Confira, a seguir, outras questões abordadas pelo presidente do Sindicato na entrevista concedida durante o 13º ConCUT:

Concentração da riqueza

O que efetivamente traduz essa investida do capital nessa nova roupagem é a superexploração, resultando no aumento de produtividade, quando comparada com a década de 1980, num acréscimo de mais de 3000%, concentrando ainda mais a riqueza nas mãos de poucos – apenas 0,8% da população mundial controla mais de 40% da riqueza produzida – e o empobrecimento abrupto da classe trabalhadora.

Essa apropriação se acentua com a crescente retirada de direitos dos trabalhadores brasileiros, com substituição e crescimento dos contratos precários, com a informalidades, e com o alarmante e crescente nível de desemprego e desalento. O resultado é a queda da participação dos salários e de recebimentos dos trabalhadores na equação geral da riqueza nacional, o PIB.

Atuação sindical

O sindicalismo contemporâneo precisa entender bem essa disputa e na trincheira ser o ator fundamental da mudança. Para isso, a atuação precisa ser ampla, menos atomizada e pulverizada na representação. É preciso fortalecer, debater, criar grupo permanente de reflexão da atuação sindical, numa construção de atuação Continental e assim combater as proposições do capital que são globais.

Os desafios são enormes. E precisamos de ter clareza de que o terreno fértil para vencê-los carece ser o da democracia. Defender a democracia implica, antes de tudo, em defender aqueles que são violentados e injustiçados por iniciativas “fascistolitárias”. Temos que ter a clareza de que essa é a nossa grande tarefa. Tendo esse discernimento, torna-se crível a pauta da esperança para nós trabalhadora e trabalhadores.

Troca de experiências

As experiências internacionais que compartilhamos ao longo do primeiro dia de atividades aqui em Praia Grande, no âmbito do Seminário Internacional, revelam um momento de grandes dificuldades para os trabalhadores, sobretudo os do Sul. Porém, apontam outras possibilidades, por exemplo, a experiência alemã da IG Metal, onde se construiu acordo entre empresariado e sindicato no que se refere ao desenvolvimento de perfis modernos de aprimoramento do trabalho, numa tentativa de estabelecer transição e minorar os efeitos do desemprego com as inovações tecnológicas.

No campo das construções democráticas, constata-se a necessidade de se avançar em proposições sustentáveis, para que o empresariado brasileiro se convença das suas responsabilidades, de que a empresa tem papel social, e adira ao pacto com os trabalhadores. Neste sentido, a experiência da concertação alemã sobre flexibilização da jornada de trabalho, por exemplo, é um bom norteador dessa corresponsabilidade. É este o conceito que devemos apreender, para que possamos expressar o que os trabalhadores esperam das mudanças no mundo do trabalho, a começar por qualidade de vida com mais horas disponíveis ao lazer e ao entretenimento, inclusive para se dedicar à formação intelectual, na medida em que adequa as novas formas de trabalho à sua vida.

Protagonismo dos trabalhadores

Temos um bom caminho de luta a percorrer. É nosso papel propor e aprofundar temas como segurança do trabalho, digitalização, segurança de dados e outros que precisam ser matéria de interveniência dos sindicatos, para que os trabalhadores disputem e naturalizem a participação na tomada de decisões e, inclusive, nos planejamentos das empresas.

As expectativas e esperanças das trabalhadoras e trabalhadores da Sul América e Caribe para com as resoluções do 13º ConCUT são enormes e representam um motor articulado na luta contra esta má lógica hegemônica do capital.

Da Redação