Negociadora da Caixa finge surpresa ao receber dossiê sobre caos nas agências

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Veja também reportagem da TV Bancários.

A superintendente nacional da Caixa, Ana Telma, fez “ar de espanto” e se disse “surpresa” em relação às denúncias de sobrecarga de trabalho, fraude no ponto, extrapolação de jornada e problemas de logística, como inadequação e falta de mobiliário, nas agências do banco no DF. 

Qualquer incauto que estivesse na mesa de discussão até poderia acreditar nessa cena. Mas o “ar de espanto” era, nada mais nada menos, da representante da Caixa que costuma negociar com o Sindicato e com a Comissão Executiva dos Empregados. Portanto, é antiga conhecedora da recorrente reivindicação por mais contratações, que está baseada nas mesmas denúncias de péssimas condições de trabalho.

A cena descarada ocorreu nesta quarta (2), quando o dossiê foi levado à Superintendência Regional do Trabalho, denunciando os abusos que vêm sendo praticados nas agências do banco. Junto foi apresentado um abaixo assinado que, em apenas três dias, recolheu cerca de 2.900 assinaturas de clientes e usuários descontentes com o mau atendimento recebido por falta de funcionários. O documento aponta que nas agências da Caixa há exemplos de funcionários que têm trabalhado ilegalmente quatro horas extras por dia, em média, totalizando 12 horas de jornada. 

O dossiê é resultado de um estudo técnico feito a pedido da própria Superintendência, a fim de embasar as denúncias levadas ao superintendente Regional do Trabalho, Jackson Luiz Pires Machado, no último dia 30 de julho.  Os representantes da Caixa presentes à reunião não tiveram acesso ao material. O Sindicato protegeu os funcionários de possíveis represálias por parte do banco. Entretanto, a pedido da Superintendência, o documento será reestruturado para apontar apenas os dados, sem nomes de funcionários, e encaminhado à direção do banco.

Esta situação mostrada no dossiê é resultado da falta de contratações pois, desde o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado em 2005 para demitir os terceirizados, a direção da Caixa já exonerou 9.239 empregados, convocando apenas 5.429 funcionários concursados. Nesta relação desigual, um contratado substitui quase dois terceirizados afastados. 

Para o secretário de Saúde do Sindicato, Alexandre Severo, o resultado da reunião “foi ruim, pois, mesmo que a iniciativa da Superintendência Regional do Trabalho tenha sido boa, o fato de a Caixa dizer que desconhece a situação dos bancários mostra que não há preocupação com os funcionários”. 

O presidente do Sindicato, Rodrigo Britto, fez questão de ressaltar no encontro que a entidade sempre defendeu a Caixa como banco público e como instrumento de desenvolvimento econômico e social. A atual situação afeta não só os funcionários, como também os clientes e usuários que necessitam dos importantes programas sociais do governo. “É preciso que a direção da Caixa valorize seu maior ativo, que são seus empregados”, disse ele. 

Nova reunião foi marcada para o dia 23 de setembro, quando a Caixa se comprometeu a apresentar dados se contrapondo às denúncias do Sindicato. “Ao invés de apenas levar dados, a direção da Caixa deveria apresentar uma solução para a falta de empregados e a proposta de PCC, além de resolver definitivamente a pendência da CI 107 (relativa ao desconto de dias parados) e valorizar seus aposentados que tanto contribuíram para a construção da instituição financeira mais importante para os programas sociais do país. Caso não faça isso, corre o risco de, na próxima mesa redonda, estar com seu corpo funcional em plena greve”, disse o presidente do Sindicato, Rodrigo Britto.