‘Movimento sindical é essencial para o mundo do trabalho’, diz o sociólogo Emir Sader durante o Brasília Debate

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O sociólogo Emir Sader e o diretor do Sindicato Eduardo Araújo em mais uma edição do Brasília Debate 

 

Em uma análise detalhada sobre a relação capital versus trabalho, o professor e sociólogo Emir Sader afirmou, na noite desta terça-feira (30), durante o Brasília Debate, que o movimento sindical é essencial para o mundo do trabalho. “O trabalhador sabe que ele melhora de vida na coletividade, na solidariedade”, disse ele no evento, cujo tema foi ‘O pensamento de esquerda e o papel dos sindicatos, hoje’. Sader observou também que as entidades sindicais devem atentar para a disputa da hegemonia com o capital, para a exploração das diversas categorias e para a necessidade de renovação do movimento. Atentou ainda para a importância da juventude nesse processo. 

 

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Segundo o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), é preciso batalhar pela visibilidade do mundo do trabalho. “Temos que batalhar pelo mundo do trabalho e por sua visibilidade na cultura. É preciso encontrar formas para explorar a vida dos jovens trabalhadores, hoje interessados em temas como legalização do aborto, descriminalização das drogas, esporte e lazer”, frisou, ao lembrar que eles não estão interessados nos assuntos da classe trabalhadora. Nesse sentido, Emir Sader salientou a necessidade de se fazer um contraponto ao estilo de vida norte-americano. “Os jovens brasileiros ambicionam o estilo de vida dos jovens americanos: a roupa, a comida, o cinema”.


‘É preciso atrair os jovens’

Para Emir Sader, que é autor dos livros A vingança da história (2003) e A nova toupeira (2009), ambos pela editora Boitempo, é essencial “criar um festival de cinema, investir na música e em outras formas para atrair a juventude. Sem isso, não podemos construir uma sociedade anticapitalista”, salientou. “Precisamos fazer uma investigação empírica para isso”, acrescentou.

Ao fazer uma análise sobre a atividade laboral ao longo da história, Emir Sader lembrou que o trabalho produziu praticamente todas as coisas. “O trabalho é o que diferencia o homem dos outros animais”, afirmou, citando Karl Marx, intelectual alemão fundador da doutrina comunista moderna. “É aquilo através do qual o homem transforma a natureza”, observou Sader.

Apesar do caráter transformador e revolucionário do trabalho, Emir Sader citou que é o que menos o homem gosta de fazer. Isso porque, “como não tem capacidade de domínio sob seu trabalho e não é dono das empresas, o trabalhador prefere outras atividades. A única coisa que gosta é de receber o salário”, ponderou o sociólogo. De acordo com ele, o trabalhador não se reconhece nas mercadorias que produz. “Alienado, ele é explorado e dominado”.

Segundo o sociólogo, do momento que acorda até a hora que dorme o trabalhador respira trabalho. “É uma vida animalesca, repetitiva, monótona. É a atividade mais importante para todos nós. Todo mundo vive do trabalho e para o trabalho”, afirmou, ao destacar que apenas 1% da população mundial controla o capital.

Nesse contexto, o movimento sindical ajudou a construir a identidade dos trabalhadores. “Os sindicatos europeus tiveram papel importante na consolidação do movimento sindical na vida das categorias”.

Emir Sader também lembrou as crises financeiras e os ataques sofridos pelos trabalhadores nos últimos tempos. Em relação ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo frisou a alta taxa de desemprego e o enfraquecimento do movimento sindical.

Em sua avaliação, os sindicatos precisam aproveitar que o país está sob o comando de um governo democrático para fortalecer suas bases e avançar. “Essencial para o mundo do trabalho, o movimento sindical precisa renovar seus quadros”, defendeu.

Bancada dos trabalhadores

Na opinião de Sader, outro tema importante é a eleição de trabalhadores para as câmaras municipais, prefeituras, assembleias legislativas, governos do Estado e Câmara dos Deputados e Senado. “Não existe uma bancada dos trabalhadores. E o movimento sindical tem capacidade para ampliar o número de quadros no Legislativo e Executivo”.

O Brasília Debate contou com grande participação dos trabalhadores, sindicalistas, estudantes, aposentados e profissionais liberais, que fizeram perguntas e comentários durante o evento.

“O Brasília Debate trouxe um tema importante para a visibilidade do trabalho numa sociedade onde os meios de comunicação não dão nenhuma importância para o trabalhador, que é apenas um consumidor. Debateu ainda uma série de outras questões importantes que o Sindicato deve atentar para disputar a hegemonia com o capital. Vivemos num sistema onde o trabalhador é apenas explorado e a gente precisa ‘dar consciência’ tanto para a juventude quanto para os trabalhadores. Foi um debate bastante produtivo e concorrido. Agradecemos a todos que participaram”, afirmou o diretor do Sindicato Eduardo Araújo, que conduziu as discussões.

O debate foi transmitido ao vivo via webtv pelo site do Sindicato. Em tempo real, internautas acompanharam e enviaram perguntas ao sociólogo.

Lançamento

Ao final, Emir Sader lançou o livro “As armas da crítica: Antologia do pensamento de esquerda” (Boitempo). Ele é co-autor, ao lado de Ivana Jinkings, da publicação. Uma grande fila se formou no foyer do Teatro dos Bancários para o autógrafo do livro.

“As armas da crítica: Antologia do pensamento de esquerda” inaugura um projeto planejado para três volumes, divididos entre os autores clássicos, os do chamado marxismo ocidental, e os contemporâneos. Neste primeiro volume estão escritos dos fundadores do marxismo, Marx e Engels. Além desses, Lenin, Trotski, Rosa Luxemburgo e Gramsci também estão incluídos no primeiro livro – o dos clássicos.

Ivana Jinkings e Emir Sader reuniram alguns dos grandes textos do pensamento marxista nesta bela antologia, que constitui sem dúvida uma excelente ferramenta não só para entender, mas também para transformar o mundo, como bem diz a famosa Tese 11 de Karl Marx sobre Ludwig Feuerbach.

Emir Sader deve retornar ao Sindicato dos Bancários no próximo ano para o lançamento de seu novo livro, ainda em fase de produção.

O projeto

O Brasília Debate é um espaço que o Sindicato coloca à disposição da categoria bancária e dos brasilienses para a discussão de ideias sobre os temas relevantes da contemporaneidade. É realizado na sede do Sindicato, sempre com a participação de intelectuais e personalidades de destaque da vida cultural, política, econômica e social do país.

Rodrigo Couto
Do Seeb Brasília