Mais de 100 mil mulheres do campo e da cidade dão seu recado na Marcha das Margaridas em defesa de seus direitos e de dignidade

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Brasília ficou ainda mais bonita e colorida, em tom de lilás, na manhã desta quarta-feira (14). E o trânsito parou para dar passagem à 6ª Marcha das Margaridas, que reuniu mais de 100 mil mulheres que, em uníssono, cantavam “Olha Brasília, está florida. Estão chegando as decididas”. Num percurso de cerca de 4 km, milhares de camponesas, das águas e das florestas, indígenas e quilombolas se juntaram às mulheres da cidade em defesa dos seus direitos e de dignidade.

As margaridas saíram do Parque da Cidade, às 7h, e caminharam até a Esplanada dos Ministérios, empunhando bandeiras, com seus chapéus, faixas, camisetas e, principalmente, com muita paixão e orgulho para fazer a maior manifestação de mulheres da América Latina.

Para a secretária de Mulheres do Sindicato, Zezé Furtado, a Marcha foi um sucesso. “Este ato é das mulheres que estão em busca de mais dignidade, de dias melhores. Nós temos o poder para mudar a triste realidade de exclusão e de retrocesso que ainda hoje é imposta à mulher brasileira. E nada vai nos impedir de continuar a luta e de dizer não à retirada de nossos direitos, ao feminicídio e à violência e mostrar a realidade que queremos”, ressalta Zezé.

A categoria bancária se fez presente como faixas com dizeres “Bancárias margaridas por igualdade, democracia e soberania popular”. O presidente do Sindicato, Kleytton Morais, se juntou ao ato e destacou que “a Marcha das Margaridas surge como um caminho de civilidade, de luta, de integração e de resistência de todo o povo brasileiro e sulamericano”.

E acrescentou: “As bancárias e os bancários estão nesse processo por entenderem que a transformação precisa encontrar as ruas, precisa dialogar com os movimentos sociais. E, nós, do movimento sindical, como parte integrante dos movimentos sociais, estamos cerrando fileiras com este evento que faz parte, não só do calendário brasileiro de luta e resistência, mas é um símbolo de esperança num país de desalento”.

“Semeando esperanças”

Este ano o tema do protesto foi “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, de democracia, justiça, igualdade e livre de violência”. Na pauta também esteve o combate à pobreza e o enfrentamento aos casos de feminicídios. “Estamos semeando esperanças em busca de dias melhores para o nosso povo, que só quer saúde, educação, trabalho e casas dignas”, comentou a agricultora familiar, Francisca da Silva, que veio de Alto da Parnaíba (MA), para participar do evento.

De acordo com a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais), entidade organizadora do evento, essas mulheres vieram depois de um profundo processo de formação política, no qual o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares debateu o projeto de desenvolvimento que elas querem, com inclusão social, soberania, igualdade, oportunidades para todas e todos.

E mais do que isso, as questões específicas enfrentadas pelas mulheres rurais, como os diversos tipos de violência, o preconceito, a falta de reconhecimento do trabalho produtivo e doméstico, entre outros.

Homenagem

O nome da Marcha presta homenagem à Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Ela foi assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários da região. Por mais de dez anos à frente do sindicato, Margarida lutou pelo fim da violência no campo, por direitos trabalhistas como respeito aos horários de trabalho, carteira assinada, 13º salário, férias remuneradas.

“Hoje as mulheres mais uma vez mostraram a sua força. Foram 100 mil mulheres de todos os cantos do país, que enfrentaram até dias de estrada, meses de preparação, passaram a noite acampadas e marcharam com alegria. E é assim que resistimos e dizemos a esse desgoverno que queremos respeito, igualdade, justiça social, democracia, e o fim da violência contra mulher. Margarida Alves vive em cada uma de nós. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, afirmou a diretora do Sindicato Vanessa Sobreira.

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília