Livro sobre a trajetória política da mulher é tema de debate no Sindicato

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Um resgate da participação e da presença das mulheres no âmbito da política – um espaço de poder historicamente ocupado por homens. Esta é a síntese do livro Mulheres no Poder: trajetória na política a partir da luta das sufragistas, tema do debate realizado nesta quarta-feira (17), no Teatro dos Bancários. A publicação é resultado do trabalho de sete anos das pesquisadoras e pedagogas Schuma Schumaher e Antonia Ceva.

De iniciativa da Secretaria das Mulheres do Sindicato, o evento teve por objetivo provocar uma discussão sobre a discriminação de gênero que atinge significativa parcela da sociedade, inclusive as instituições financeiras.

“É necessário retomarmos o discurso e estimularmos a luta das mulheres na conquista de empoderamento nas decisões políticas de nosso país”, ressaltou a secretária das Mulheres, Helenilda Cândido, observando que é imprescindível reverter a falta da presença feminina nos altos cargos de gestão dos bancos públicos e privados.

O presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, reforçou a importância de se promover debates que contribuam para acabar com a discriminação de gênero que, “infelizmente, ainda prevalece de forma gritante em nossa sociedade e nas empresas”. Segundo ele, a consequência disso se reflete na diferença de remuneração e de encarreiramento das mulheres.  

Araújo colocou o Sindicato à disposição, garantindo que as portas da entidade  estarão sempre abertas para eventos dessa natureza, “que visam fortalecer as mulheres nessa busca difícil de ocupar um lugar de destaque”.

Representatividade feminina

Segundo as autoras, o livro visa “promover uma mudança de mentalidade arraigada na sociedade e na cultura brasileiras, valorizar e estimular uma maior representatividade das mulheres nos espaços de poder, superando preconceitos e atitudes discriminatórias”.

É uma obra de referência, que apresenta a trajetória de mulheres brasileiras pela conquista do voto, que ousaram se candidatar e que ocuparam cargos no âmbito do Legislativo federal, no Executivo e Judiciário. Bertha Lutz, Natércia da Silva, Almerinda Gama, Alzira Soriano e Carmem Portinho são algumas  sufragistas e feministas lembradas na obra. Elas fizeram história rompendo barreiras de gênero e étnico-raciais bem delineadas na sociedade da época. 

O livro, que é fruto de uma parceria entre a Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), Fundação Banco do Brasil e Edições de Janeiro, também traz biografias de deputadas federais, senadoras, governadoras, prefeitas das capitais, ministras de Estado e do Judiciário.

“Estamos lançando o livro no Brasil inteiro, mas é a primeira vez que temos a oportunidade de realizar um debate, uma conversa com os convidados. A publicação tem este propósito de provocar a discussão, de sensibilizar as pessoas, de desconstruir esse machismo que existe na sociedade de que política é lugar de homem”, destacou Schuma.  E acrescentou: “Mas é isso que queremos desconstruir para dizer que lugar de mulher é onde ela quiser”.

Schuma também manifestou temor com o atual momento vivido no país, “em que a sociedade se encontra completamente despolitizada”, o que ela considera bastante grave. E destacou a necessidade de um enfrentamento do racismo que continua forte e cruel no país.

Joluzia Batista, socióloga do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), que participou do debate, falou da importância de discutir um livro “tão consistente e emblemático”. Ela apresentou dados estatísticos que mostram a pequena participação feminina no Parlamento, especialmente das mulheres negras que ocupam o 104º lugar neste ranking. E lamentou que ainda deve levar um bom tempo para que as mulheres conquistem condições de igualdade com os homens, pondo fim à cultura machista.

“É o momento de fazer essa reflexão, da dificuldade das mulheres em ocupar espaços de poder, cargos, em nosso país. É uma luta coletiva. Precisamos instalar mecanismos de participação de ampliação desses espaços”, alertou a socióloga, lembrando que o livro aponta que apenas 10% das mulheres ocupam esses lugares.

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília