Incêndio destrói acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro

0

Com 20 milhões de peças e documentos, tratava-se do quinto maior museu do mundo em acervo. Falta água nos hidrantes contribuiu para alastramento de fogo. Museu vinha sofrendo corte de verbas desde 2016

Um incêndio de grandes proporções atingiu, desde a noite de domingo (2), o prédio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro. A maior parte do acervo foi atingida e o fogo só foi controlado por volta das 3h da manhã desta segunda-feira, mas continuam os trabalhos de rescaldo e de combate a outros focos de fogo. As informações são do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

Mais antiga instituição histórica do país, o Museu Nacional do Rio foi fundado por D.João VI, em 1818. É vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com perfil acadêmico e científico. Tem nota elevada por reunir pesquisas raras, como esqueletos de animais pré-históricos e múmias.

O local foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso de museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Sem água

O comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Roberto Robadey, afirmou que um problema no funcionamento dos hidrantes contribuiu para o fogo se alastrar na região do parque, na Quinta da Boa Vista onde está o Museu Nacional.

Segundo o coronel, foi preciso pedir apoio à Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae) para ceder carros-pipa. Também foi utilizada água do lago da Quinta da Boa Vista.

“Pedimos apoio a eles [da Cedae] de carros-pipa e também trouxemos os nossos carros da Baixada Fluminense. Os dois hidrantes mais próximos estavam sem carga”, disse o militar.

Ele lembrou que, ao chegar ao local do incêndio, o fogo estava de média para grande proporção. O comandante não confirmou as primeiras informações de que o fogo teria começado no primeiro andar.

De acordo com o comandante, a operação contou com 80 militares e 21 viaturas de 12 quartéis da capital e de municípios vizinhos. Robadey descartou a possibilidade de desabamento.

“As paredes são muito grossas. O prédio é muito antigo. Os pavimentos internos desabaram”, disse o militar.

Perdas

Com 20 milhões de peças e documentos, tratava-se do quinto maior museu do mundo em acervo. Suas obras contavam uma parte importante da história antropológica e científica da humanidade. Talvez o exemplo mais emblemático seja o fóssil com mais de 11 mil anos de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, cuja descoberta nos anos 1970 reorientou todas as pesquisas sobre a ocupação da região.

Ali também estava a reconstrução do esqueleto do Angaturama Limai, o maior dinossauro carnívoro brasileiro, com quase todas as peças originais, algumas com 110 milhões de anos. O sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-em-su, mumificada há 2.700 anos e presenteada a Dom Pedro 2º em 1876, nunca tinha sido aberto. A coleção de múmias egípcias e a de vasos gregos e etruscos evidenciam o perfil transfronteiriço do acervo, que também abrigava o maior conjunto de meteoritos da América Latina.

Menos de 1% dessas obras estava exposta ao público. Centro de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional é uma referência para pesquisadores das mais diversas áreas, como etnobiologia, paleontologia, mineralogia, antropologia, entre outras.

“Todos que por aqui passem, protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir seu próprio futuro.” Após o incêndio que destruiu o Museu Nacional neste domingo, a frase inscrita em lápide na entrada do local soa como um grito de socorro.

Fonte: Rede Brasil Atual com Agência Brasil, DW Brasil e Folha de S.Paulo