Sistema de pagamentos da chinesa UnionPay, que tem 40% do mercado mundial, não passa pelo SWIFT, dos bancos baseados nos EUA. Clientes ainda poderão escolher movimentos sociais para destinarem parte dos lucros com as transações feitas
A guerra financeira desencadeada por Donald Trump contra o Brasil, que prevê uma investigação contra o Pix, ganhará um novo capítulo em breve com a chegada ao Brasil da Union Pay, gigante chinesa dos cartões de crédito que desembarca no país com uma proposta progressista para fazer frente às bandeiras transnacionais estadunidenses Visa, Mastercard e American Express (Amex).
O anúncio foi feito pelo professor e financista José Kobori, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), em entrevista a Carla Castanho, no site GGN, de Luis Nassif.
Kobori, que deixou os grandes players do mercado financeiro após sofrer uma “injustiça incomensurável”, assumiu na última semana uma vaga no conselho da Left, Liberdade Econômica em Fintech, empresa que viabilizando a chegada da UnionPay ao Brasil.
“Apesar da minha experiência, eu nunca quis voltar a atuar no mercado financeiro. Já tinha atingido o auge da minha carreira profissional quando sofri uma injustiça incomensurável que me fez repensar os valores das pessoas que atuam no mercado financeiro, nada mais me motivava nesse meio. Mas quando fui conhecer o trabalho da fintech Left, percebi que havia ali um verdadeiro propósito, uma intenção real de construir um banco progressista, um banco de esquerda”, disse Kodori.
Segundo ele, a UnionPay detém 40% do mercado global de transações com cartões e faz parte de um sistema de transações chinês, que não passa pelos players do sistema financeiro baseado nos EUA, que tem sido usado na guerra financeira desencadeada por Donald Trump.
Uma das sanções buscadas por Eduardo Bolsonaro (PL) contra autoridades brasileiras, principalmente Alexandre de Moraes, diz respeito à Lei Magnitsky, que está atrelado aos grandes players globais e proíbe, por exemplo, que o sancionado tenha cartão de crédito de bandeiras como Visa e Mastercard.
A UnionPay está ligada a um sistema chinês chamado CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), que é uma alternativa ao SWIFT, o sistema usado hoje no mundo todo para transferências bancárias internacionais – e que está atrelado ao financismo global dos bancos que são usados pela ultradireita neofascista para aplicar as sanções.
“Esse ataque ao Pix é, na verdade, uma tentativa clara de manter o domínio do capitalismo financeiro americano dentro do Brasil. Visa, Mastercard e American Express faturam bilhões com essas transações por aqui, e não querem abrir mão dessa hegemonia”, diz.
Kobori conta ainda que o sistema de cartões chinês chegará ao Brasil alinhado a movimentos sociais, como o MST, permitindo que os clientes possam direcionar para onde quer direcionar parte dos lucros que o banco terá com as transações feitas por ele.
“Quando alguém se cadastra no banco, pode escolher quem quer ajudar, por exemplo, o MST ou outro movimento popular. A receita gerada por transações como o Pix ou o uso de cartão é parcialmente revertida para essas entidades. É uma estrutura pensada para apoiar, de fato, quem constrói transformação social”, disse o financista.
A Left, que trará o sistema ao Brasil, vai passar a operar já no segundo semestre com bancos, maquininhas e sistemas de pagamento. A função crédito deve ser lançada no final do ano.
Fonte: Revista Fórum