Estudo do Dieese projeta perdas bilionárias e risco a empregos com tarifas dos EUA

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As tarifas impostas pelos Estados Unidos contra as exportações brasileiras a partir de julho de 2025 já se desenham como uma das maiores ameaças recentes à economia nacional. De acordo com estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os impactos podem ser devastadores: até 726 mil postos de trabalho estão em risco, entre diretos, indiretos e induzidos, além de perdas bilionárias em massa salarial, arrecadação de impostos e contribuições para a Previdência e o FGTS. O levantamento projeta uma redução de R$ 38,8 bilhões no valor adicionado à economia e um impacto negativo de 0,357% no PIB, caso não haja redirecionamento das exportações brasileiras para outros mercados.

As medidas norte-americanas atingem em cheio setores estratégicos. O aço e o alumínio, por exemplo, foram taxados em até 50%, prejudicando um segmento que exportou 3,4 milhões de toneladas em 2024. Autopeças e veículos também sofrem com tarifas de até 25% para leves e 50% para caminhões pesados. A agropecuária não escapa: a carne bovina pode enfrentar tarifas de até 76,4%, com perdas de cerca de US$ 1 bilhão já em 2025. Produtos tradicionais como café, frutas e químicos enfrentam concorrência desigual no mercado americano, enquanto máquinas, equipamentos e eletroeletrônicos, dos quais os EUA são destino relevante, terão mais dificuldade para encontrar novos compradores no curto prazo.

O Dieese alerta que a indústria de transformação será a mais impactada, com perda estimada de 241 mil vagas, seguida pelos setores de serviços, comércio e agricultura. No Nordeste, o risco é particularmente grave, com ameaça a mais de 43 mil postos de trabalho, sobretudo na fruticultura, carnes e calçados. A pesquisa também aponta que mais de 3 mil empresas brasileiras exportadoras com acordos coletivos de trabalho podem ser diretamente atingidas, pressionando negociações salariais e condições de trabalho.

Diante desse cenário, é inevitável reconhecer o caráter nocivo das tarifas americanas, que representam uma postura protecionista e unilateral, em descompasso com o discurso de livre comércio que os próprios Estados Unidos costumam defender. Trata-se de uma medida que fere o equilíbrio do comércio internacional, ameaça conquistas sociais e coloca em risco setores inteiros da economia brasileira.

O governo brasileiro tem buscado agir com firmeza e responsabilidade diante dessa crise. Ao mesmo tempo em que aciona organismos multilaterais como a OMC e recorre a instrumentos legais de reciprocidade, também procura abrir novos mercados e apoiar empresas e trabalhadores afetados. A postura firme do Brasil é fundamental para proteger a economia e o emprego, demonstrando que não aceitará passivamente medidas arbitrárias que prejudicam o desenvolvimento nacional.

Mais do que uma disputa comercial, o tarifaço expõe uma tentativa de impor chantagens políticas por meio de barreiras econômicas. O desafio do Brasil será transformar essa adversidade em oportunidade: diversificar mercados, fortalecer cadeias produtivas locais, consolidar alianças no Mercosul e no BRICS e, sobretudo, defender com vigor o direito ao desenvolvimento soberano. Nesse embate, não se trata apenas de proteger números e estatísticas, mas de garantir dignidade, renda e futuro para milhões de brasileiros.