Discriminação entre negros e brancos ainda persiste nos bancos após 125 anos da Lei Áurea

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O dia 13 de maio é marcado no Brasil pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu formalmente a escravidão de negros e negras no país em 1888. Apesar do fim da escravidão, há 125 anos, ainda é gritante a desigualdade entre brancos e negros no mercado de trabalho, incluindo-se aí o sistema financeiro, que se manifesta já na contratação e tem reflexos no processo de ascensão profissional. O Sindicato, em conjunto com as demais entidades que representam os trabalhadores, tem atuado firmemente para acabar com esse quadro de discriminação, mas ainda é preciso avançar muito.  

Dentro dos bancos, a discriminação é bastante visível quando se observa, por exemplo, a composição dos cargos do alto escalão, como diretorias, conselhos de administração e superintendências, bem como dos demais níveis hierárquicos e do quadro de funcionários, como operacional, técnico gerencial e administrativo.

Um exemplo é o conselho do Banco do Brasil. São 35 homens, dos quais 31 são brancos, um é amarelo, um é pardo e duas pessoas não informaram sua raça, conforme relatório de sustentabilidade do banco. E detalhe: não há nenhuma mulher.

Há 2.623 pessoas negras no BB, o que representa apenas 2,3% dos funcionários. Quando se somam negros, pardos e índios, o número é de 22.862 trabalhadores, significando 20,08% do quadro, o que expressa uma baixa participação ao considerarmos o total de 113.810 trabalhadores da instituição.  

“Muitos negros conseguem ser contratados nos bancos, mas a dificuldade de promoção na carreira ainda é uma barreira. São raros os casos de negros nos cargos de gerência. Diante dessa desigualdade, temos que continuar na luta para que todos tenham as mesmas oportunidades”, frisa o diretor do Sindicato Wadson Boaventura, que também é representante da Federação dos Trabalhadores em Crédito do Centro Norte (Fetec-CN/CUT) na Comissão de Gênero, Raça e Orientação Sexual da Contraf-CUT (CGROS).

O preconceito em números

Segundo estudo da subseção do Dieese na Contraf-CUT, com base em dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) de 2011, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), apenas 19,75% dos admitidos pelos bancos entre janeiro e setembro deste ano são afrodescendentes, sendo 2,74% negros e 17,01% pardos. Por outro lado, 73,49% se declaram brancos.

Os números relativos ao salário de ingresso médio dos contratados no período também são graves. Os negros entraram nos bancos recebendo um salário médio de R$ 1.685,83, pouco mais baixo que o dos pardos, de R$ 1.752,65. Enquanto isso, os brancos começam sua carreira ganhando R$ 2.743,91, um valor 62% maior. Os amarelos tiveram um salário ainda maior, de R$ 3.155,32.

O Mapa da Diversidade, divulgado em 2009, também confirma a realidade do racismo no sistema bancário. O estudo, realizado com o apoio dos sindicatos e da Contraf-CUT objetivando a obtenção de dados que ilustrassem a discriminação das minorias dentro dos bancos, revela que apenas 19% dos bancários são negros ante 77,4% de brancos. Os demais são índios e amarelos.

A pesquisa também mostra que apenas 4,8% dos cargos de diretoria e superintendência são ocupados por negros. Já as funções de gerência contam com 14,9% deles; 17% estão alocados em funções de supervisão, chefia e coordenação e 20,6% em atividades funcionais.

2º Censo da Diversidade

Na última reunião da Mesa Temática de Igualdade de Oportunidades com a Fenaban, ocorrida no dia 27 de março, em São Paulo, ficou definido o planejamento do 2º Censo da Diversidade, que deverá ser executado em 2014, conforme foi conquistado na Campanha Nacional dos Bancários de 2012.

Da Redação com informações da Contraf-CUT