Dia Mundial do Refugiado é celebrado no Sindicato dos Bancários de Brasília

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Apoiadores de imigrantes africanos, juntamente com suas famílias e convidados, promoveram a 42ª edição da celebração do Dia Mundial do Refugiado, no dia 22 de junho, no Teatro do Sindicato dos Bancários de Brasília. O tema deste ano foi Refúgio e a Diversidade Cultural.

Para o coordenador do Projeto Agência de Segurança e Sustentabilidade de Imigrantes Refugiados (Assumir), Jonatas de Pina, “esta celebração significa dedicação, força e a coragem de lutar por milhares de pessoas que são obrigadas a deixar as suas casas, por conta dos duelos, conflitos, perseguições e violação dos Direitos Humanos”.

Jonatas considera a celebração um instrumento de luta para “não esquecermos das nossas origens, nossas raízes, por meio de diversas formas, como a culinária (alimentação), as roupas, a música, a dança. Verdadeiro intercâmbio cultural”.

Conscientização e solidariedade global

O Dia Mundial do Refugiado foi instituído há 23 anos, pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 20 de junho de 2001, com o intuito de aumentar a conscientização sobre a situação dos refugiados e refugiadas, promovendo a empatia e a solidariedade global.

“É uma data que contribui para que não esqueçamos das nossas origens, culturas, tradições raízes. Não saíamos de nossa realidade, mesmo morando, radicados, em outras nações. E agradecer sempre quem nos acolhe, como o Brasil”, pontua Jonatas, lembrando que a escolha deste tema “visou reforçar o nosso pertencimento, que não esqueçamos das nossas tradições, principalmente, de onde viemos”.

Parceria com Sindicato

As duas edições anteriores foram realizadas em Taguatinga. A terceira e a quarta, no Sindicato dos Bancários de Brasília. “Nosso grande apoiador, grande parceria que tem nos ajudado para que estes momentos se tornem realidade”, avalia Jonatas.

Este ano, a novidade foi a participação dos refugiados e refugiadas na organização do evento, como forma de aprendizado e comprometimento na continuidade, além da decoração do espaço até o prato típico de cada região, como dos países da Venezuela, Guiné-Bissau, entre outros.

Os convidados desta vez superaram as estimativas, 64 crianças e 100 adultos. “Ficamos muitos felizes e estimulados para as outras ações, como ocorreu nas edições anteriores, quando abordarmos os direitos, deveres e o empreendedorismo”, disse, emocionado, Jonatas.

Dificuldades enfrentadas pelos imigrantes

“Assunto muito delicado. O Brasil é o país que mais acolhe a pessoa refugiada. Menos burocracia. Entretanto, convivemos com o grande desafio que é a integração dos refugiados, pelos africanos e pelas pessoas brancas. Somos vistos e preparados para o trabalho informal. Não nos vêem como pessoas capacitadas. A nossa inserção no mercado de trabalho se dá por indicação. Não pelo mérito”, ressalta Jonatas.

E continua: “Eu trabalhei cinco anos numa escola de Brasília, como professor de inglês e de literatura. Saí há sete meses, por prática racista. Sofri racismo e a escola não se posicionou. E me demitiu”, desabou.

Atualmente, Jonatas está desempregado e vive do seguro-desemprego, com a esposa e dois filhos e, às vésperas, do terceiro. Ele formação superior em Teologia, pela Faculdade de Teologia, e Relações Internacionais, pelo Centro de Ensino Universitário (Ceub).

Instituto Social da Criança e do Adolescente (Isca)

Organização sem fins lucrativos, de cunho social, radicada em Brasília, criada há dois anos, o Isca funciona em Taguatinga. Mas tudo começou na África. Atende crianças e adolescentes, em sua maioria, pessoas em situação de vulnerabilidade social. A autoestima é oportunizada pelo trabalho da sra. Simira Augusto Djata de Pina, trancista e incentivadora do projeto, por meio do Instituto.

Dignidade e direitos humanos

Para o coordenador do Assumir, que leva o slogan “Assumir diferentes nações, um propósito”, trabalhar com refugiados é uma experiência profundamente enriquecedora e transformadora, tanto para os profissionais envolvidos quanto para os próprios refugiados. Segundo ele, o trabalho exige empatia, paciência e um compromisso genuíno com a dignidade e os direitos humanos. “Profissionais que atuam nesta área têm a oportunidade de ajudar indivíduos e famílias a reconstruírem suas vidas, fornecendo apoio essencial em áreas como assistência jurídica, saúde mental, educação e integração social. Além disso, promove a compreensão intercultural e fortalece a coesão social, contribuindo para comunidades mais inclusivas e resilientes”, avalia Jonatas.

Refúgio e a diversidade cultural

O palestrante Edson Leite falou sobre a importância da cultura na integração dos refugiados. Nascido em São Paulo, ele foi imigrante em Portugal. Sua história e vivência se encontram nestes lugares comuns destas realidades de sofrimento e exclusão que, por meio da solidariedade, se fortalecem para resistir.

Para Leite, eventos como esses “são importantes para a comunidade de refugiados, inclusive os imigrantes, que as pessoas esquecem que são de diferentes situações. O fortalecimento dessa comunidade faz com que a gente inclusive sofra menos, fique menos doentes e se acolha mais”.

E continua: “O processo de imigração para Portugal não foi algo simples. Sair da periferia de São Paulo, sem dinheiro, pagando passagem no cartão de crédito, tentando entender como e onde a gente ficaria. Achando que Portugal, por ser um país que fala português, estaria tudo certo. Mas, isso é uma falácia. Não tínhamos a real noção do que é viver num país com outra moeda, uma outra questão cultural, outra gastronomia, outra questão social. Ou seja, não foi um processo simples”.

Edson Leite destacou na palestra questões como a atenção e a conexão. “Quando você fala algo das pessoas, do que eles viveram ou estão vivendo, independentemente da língua, da comida. Quando a pessoa se identifica com que você está falando é uma conexão. Considero que este foi o destaque real, na minha Palestra.

A situação das pessoas que vivem como imigrantes no Brasil, além da questão humanitária e de solidariedade, na avaliação de Edson, podem e precisam ser apoiadas, é uma questão de direitos humanos. “O papel do Estado brasileiro é a garantia de direitos, inclusive, com o apoio da sociedade organizada”.

O palestrante destacou que a imigração veio com os primórdios da terra. “Imigrante não é só turismo. Na verdade, é assim, a imigração veio dos primórdios da terra. O ser humano é um sujeito de imigração. Vem de invasões, de guerras, estar imigrante é sempre sair de onde nasceu”.

O papel do Estado brasileiro nesta questão, de acordo com Edson, é a garantia de direitos, por isso é fundamental o papel da sociedade lutar por esta garantia de direitos. Ele enfatiza: “Nós não estamos falando de direitos só para brasileiros, e sim, qualquer pessoa independente de que lugar ela venha, toda pessoa é um sujeito de direito. Então a sociedade pode contribuir na garantia destes direitos”.

Entrega de cestas básicas

No final do evento, foram entregues 100 cestas básicas para os participantes, resultado da parceria com o Sindicato dos Bancários de Brasília, além do apoio da mídia e do empréstimo do local do evento.

Jacira da Silva
Colaboração para o Seeb Brasília