Delegados sindicais unificam coro contra assédios nos bancos

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Reunidos no Teatro dos Bancários na quinta-feira (25), delegados e delegadas sindicais do Banco do Brasil, da Caixa e do BRB discutiram relações de trabalho, saúde da categoria e balanço dos bancos. O encontro, convocado pelo Sindicato, pavimenta a luta para o próximo período e organiza a partir da base as discussões dos acordos coletivos em 2023. Uníssonos, bancários e bancárias cobram dos bancos políticas pelo fim dos assédios.

A atividade teve início com a exposição do vice-presidente do Departamento Intersindical Assessoria Parlamentar (Diap) e bancário do BB, Rodrigo Britto, contextualizando o cenário político dos últimos governos e na atual legislatura. Apesar de o Executivo federal ter composição de coalizão, sendo considerado de centro-esquerda, o cenário no Congresso Nacional é mais expressivo no campo da extrema direita e do centrão, cujos interesses não são alinhados ao que demanda a classe trabalhadora.

“Na contramão dessa tendência de supressão de direitos, a agenda legislativa da classe trabalhadora a que o Diap fomenta conta com 91 projetos no Congresso que atendem demandas em três frentes: defesa dos bancos públicos, ações contra os assédios e as doenças ocupacionais e agendas para resguardar os direitos duramente conquistados, como jornada de trabalho e os acordos e a convenção coletivos”, conta Britto. “Nos períodos anteriores, os bancários deram seu recado de que não aceitarão o roubo de direitos. Seguimos empunhando essa bandeira”, finalizou.

Participou de forma remota a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Nádia Vieira. Ao apresentar uma análise dos resultados dos bancos no primeiro trimestre de 2023, a economista apontou uma mudança no perfil das ocupações nos bancos, com mais contratações nas áreas de TI e investimentos.

Quanto ao número de trabalhadores, o BB registrou redução de 1.009 postos de trabalho. Na Caixa, a redução foi de 109 trabalhadores. O BRB não tem divulgado o número de bancários em seu quadro. Sobre os locais de trabalho, houve redução de 4 agências físicas tradicionais do BB ao passo que se somam 808 as agências digitais e especializadas. A Caixa não alterou o número de unidades físicas, enquanto o BRB ampliou em 18 as agências físicas. A expansão do banco pelo país pode justificar este aumento.

Adoecimento e INSS

Advogada que assessora o Sindicato na área de saúde, Janaina Barcelos falou sobre a relação entre o adoecimento da categoria bancária e a cobrança abusiva por metas, os assédios e a redução do número de trabalhadores. Apesar de representar 1% do emprego formal no Brasil, a categoria bancária representa 24% dos afastamentos acidentários por doenças mentais e comportamentais no país. Em 2012, esse percentual era de 12%.

“Anos atrás, o afastamento laboral de bancários e bancárias era muito vinculado às LER/Dort, mas hoje outro fator tem impactado sobremaneira a categoria. O adoecimento psíquico impacta a produtividade e extrapola o local de trabalho, atingindo também a vida social e pessoal dos trabalhadores. A emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho, a CAT, é obrigação do banco, porém, no mundo real, os sindicatos assumem esse papel para auxíliar os trabalhadores tanto junto ao INSS quanto para o momento do retorno ao trabalho”.

O Sindicato disponibiliza atendimento jurídico na área de saúde. Para acessar esse serviço, entre em contato pelo e-mail saude@bancariosdf.com.br ou pelo telefone (61) 9 9801.1141.

“Bancários precisam resgatar a dignidade”, avalia professora da UnB

“É necessário resgatar a dignidade e a consciência de classe para enfrentarmos a violência do capital que desestrutura o trabalho, desumaniza as relações e adoece os trabalhadores”, enfatizou Ana Magnólia, doutora e professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da UnB, na sequência do encontro com os delegados e delegadas sindicais.

Coordenadora da Clínica do Trabalho do Sindicato, Ana Magnólia observou que os massacres que estão acontecendo com os trabalhadores das instituições financeiras após o retorno ao trabalho presencial têm como consequências as patologias — medo, normopatia (indiferença) e melancolização –, que levam ao adoecimento. “Portanto, é preciso mudar o modelo de gestão”.

De acordo com a professora, o suicídio, outra dessas consequências, é a patologia da solidão e o limite em termos de sofrimento. Ela comentou que atualmente os bancários são submetidos a disputas entre os colegas, individualismo, levando os laços de solidariedade a se afrouxarem. E alertou: “É necessário reagir ao canto da sereia (promessas sedutoras incumpríveis)”.

Ana reiterou: “Bancários e bancárias, vocês não estão sozinhos. A Clínica do Trabalho do Sindicato é um espaço de fala e escuta, que está à disposição dos trabalhadores”. Informações na Secretaria de Saúde: (61) 9 9801.1141.

Aumento do assédio

Os bancários presentes no encontro relataram a intensificação da prática de assédio moral, das pressões e das práticas abusivas no ambiente de trabalho. Destacaram que o perfil dos gestores está cada vez mais agressivo e que as disputas entre os próprios colegas estão mais acirradas.

Escuta qualitativa

Wadson Boaventura, diretor da Fetec-CUT/CN, falou da necessidade de construir uma saída para as condições perversas vivenciadas e narradas pelos bancários. “Vamos tentar viabilizar uma escuta qualitativa com os trabalhadores, por meio da Clínica do Trabalho”, disse, esclarecendo que esse trabalho, que será levado à mesa de negociação, será realizado o mais rápido possível.



Joanna Alves e Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília