Enquanto a Câmara Legislativa do DF aprovava a compra do Banco Master pelo BRB, novas denúncias contra a instituição vinham à tona, reforçando os questionamentos em torno da operação de R$ 2 bilhões. Na última terça-feira (19), os deputados distritais aprovaram em dois turnos, por 14 votos a 7, o projeto de lei que permite ao BRB adquirir 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Master, em uma transação avaliada em R$ 2 bilhões.
Agora, uma apuração da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) traz indícios de crimes financeiros que colocam em xeque a solidez do banco e ampliam a pressão por mais transparência. O caso mais emblemático envolve um aporte de R$ 361 milhões na Clínica Mais Médicos S.A., em Contagem (MG), empresa que declarou receita anual de apenas R$ 54 mil e não possui estrutura compatível com o valor recebido.
Entre 2022 e 2025, o Master destinou aproximadamente R$ 2,1 bilhões a dez empresas, várias delas com vínculos familiares e societários próximos ao controlador Daniel Vorcaro. Uma dessas companhias, ligada à irmã do banqueiro, teria recebido sozinha mais de R$ 1,2 bilhão. A CVM aponta que as notas comerciais emitidas por essas empresas foram adquiridas quase exclusivamente pelo próprio Master, inflando artificialmente o patrimônio líquido, que saltou de R$ 2,38 bilhões em 2023 para R$ 4,74 bilhões em 2024.
As práticas investigadas podem configurar gestão fraudulenta, crime previsto na Lei nº 7.492/86, com pena de até 12 anos de prisão. Parlamentares já haviam manifestado preocupação, durante a própria votação na CLDF, sobre a falta de informações claras na negociação. Agora, diante de novas denúncias, cresce a percepção de que a compra pelo BRB avança em meio a uma sucessão de fragilidades e riscos, exigindo maior rigor de fiscalização.
Procurado, o Master afirmou que os créditos mencionados pela CVM foram “integralmente quitados” e que não há exposição financeira pendente. O banco, no entanto, não respondeu às suspeitas sobre vínculos familiares e manipulação contábil. Daniel Vorcaro manteve silêncio.
Para o movimento sindical, diante da reincidência de problemas e escândalos em torno do Banco Master, não se trata apenas de exigir supervisão criteriosa. O Banco Central deve agir com firmeza e proibir uma operação que pode comprometer o patrimônio público representado pelo BRB, prejudicar seus trabalhadores e colocar em risco a sociedade.
Victor Queiroz
Colaboração para o Sindicato