Sindicato realiza o sarau ‘Poesias do Cárcere’ no dia 29 de maio, às 21h

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Atividade da Comissão da Verdade do Sindicato, o sarau ‘Poesias do Cárcere’ será realizado na sexta-feira (29), às 21h, na sede do Sindicato (EQS 314/315 – bloco A).

O objetivo da Comissão da Verdade do Sindicato é resgatar a memória de bancários e seus familiares que foram vítimas do golpe militar de 1964 e dos 21 anos de chumbo que jogaram sombra sobre a história recente do País.

Baseado nas obras de Alex Polari, Gilney Viana e Pedro Tierra – presos e perseguidos políticos da ditadura – e com trilha sonora de monstros da MPB da estirpe de Chico Buarque, Raul Seixas e Taiguara, o espetáculo narra, pelas mãos da literatura e da música, experiências traumáticas de quem ousou desafiar a ditadura em nome da democracia.

“Os nomes nos quais o conteúdo do sarau é baseado são de expoentes que trouxeram a público o que ocorria nos porões da ditadura. Por meio da poesia e de composições que expressam de algum modo o que de fato foi o regime militar (daí a ideia do sarau), o público entra em contato com histórias de perseguição, prisão e tortura”, adianta o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo.

Três atores e oito músicos se revezam no palco, entre apresentações do repertório e encenações na declamação de poesias, que também contarão com fundo musical.

Violência contra os trabalhadores

A truculência do Estado à resistência dos trabalhadores foi uma das marcas do regime militar. Durante este período os trabalhadores sofreram grandes derrotas, o Sindicato dos Bancários de Brasília sofreu intervenção, a diretoria foi cassada e lideranças foram presas.

Em 1966 é iniciado clandestinamente um processo de reorganização dos trabalhadores, e em 1968 são retomadas mobilizações de estudantes, trabalhadores e também de parte da Igreja Católica. Porém, após as chamadas greves de Contagem e Osasco – quando, pela violenta ação policial e militar, fábricas foram desocupadas — o governo militar decretou, em dezembro, o Ato Institucional nº 5 (AI-5), expressão mais acabada da ditadura, que autorizou um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados.

Somente após a revogação do AI-5, o que não aconteceu “de graça”, os trabalhadores começaram a se mobilizar. Em 1978 foram realizadas 118 greves e, em 1979, os bancários realizaram a Greve Proibida, iniciada em Porto Alegre.

Luta contra a ditadura

Médico e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Gilney Viana foi bancário do extinto Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e coordenador do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Participou, durante o regime militar, da resistência armada ao lado de Carlos Marighella e foi preso em dois momentos diferentes, num total de 13 anos. É autor de Poemas (quebrados) do Cárcere.

Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira, que nasceu em Porto Nacional (TO), em 1948. Viveu em seminários e prisões durante a ditadura, período em que começou a escrever os primeiros versos a lápis em papel de maços de cigarros, e longe das vistas dos militares. Por sua militância na Ação Libertadora Nacional (ALN), cumpriu cinco anos de prisão (1972/77) em Goiânia, Brasília e São Paulo, sofrendo tortura.

Alex Polari de Alverga nasceu em João Pessoa, em 1951, e participou da luta armada contra a ditadura militar na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) que realizava ações armadas contra o regime e lutava pela libertação de presos políticos. Em 1978, ainda preso, lançou seu primeiro livro de poesia: “Inventário de Cicatrizes”.

Renato Alves
Do Seeb Brasília