Sindicato abre novos grupos para a Clínica do Trabalho

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A clínica é um espaço coletivo de fala e de escuta do sofrimento no trabalho realizado em sessões coletivas semanais conduzido por dois clínicos do trabalho com o objetivo de, a partir do compartilhamento de vivência dos trabalhadores envolvidos, (re)construir e ressignificar o sofrimento e mobilizar para a ação e o prazer no trabalho”, explica o secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Wadson Boaventura.
 
Cerca de 40% dos bancários e bancárias do Distrito Federal estão em risco de adoecimento. É o que revela a pesquisa ‘Riscos Psicossociais do Trabalho Bancário’, divulgada no último dia 22 de julho, no Teatro dos Bancários. O estudo, realizado entre os meses de novembro de 2013 e abril de 2014, é fruto de uma parceria entre o Sindicato, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde do Trabalhador e o Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), sob a coordenação da professora doutora Ana Magnólia Mendes.
 
O objetivo da pesquisa foi caracterizar a organização do trabalho bancário, assim como a lógica de gestão adotada pelas instituições, seus antecedentes e impactos na relação entre trabalhador-trabalho, além de mapear os riscos psicossociais que podem provocar vivências de sofrimento patológico, conduzindo ao adoecimento.
 
No total, 2.111 bancários foram entrevistados. Eles tinham, em média, 38 anos de idade e 13 de trabalho bancário. Setenta e oito por cento afirmaram ser sindicalizados e 77% deles trabalham em Brasília. Quanto ao banco, 60,4% são de economia mista; 29% são de bancos públicos; 10%, de banco privado. Os cinco cargos mais citados foram assistentes (10,9%); gerentes (8,7%); assessores plenos (8,5%); escriturários (7,2%) e assessores seniores (7,1%).
 
Os números chamam a atenção: 78,2% dos participantes da pesquisa já pensaram em sair do banco e 58,5% deles gostariam de mudar de emprego. Quando o tema é adoecimento e trabalho, 88% dos bancários afirmam que conhecem colegas que se afastaram por doença relativa ao trabalho. Os dados mostram que 58,8% desses trabalhadores já sofreram assédio moral no ambiente de trabalho. Além disso, 70% vivenciam a indignidade no trabalho. Entre as principais causas para os dados negativos estão a falta de participação nas decisões, os prazos inflexíveis e o excesso de normas.
 
“Os bancários vivem um dilema entre buscar um reconhecimento, não conseguir atender às normas e ter que apresentar resultado. Trata-se de um fenômeno chamado de mentira organizacional, pois os trabalhadores acabam infringindo as normas para terem resultado”, afirma a coordenadora da pesquisa, Ana Magnólia.
 
Dificuldades

Os bancários e bancárias listaram cinco itens que revelam as principais dificuldades vividas pela categoria: gestão, natureza do trabalho, carreira, ambiente de trabalho e danos físicos e psicológicos, sendo as dificuldades de gestão as principais apontadas, sobretudo no que tange à desvalorização. Os gestores do tipo ‘individualistas’ e ‘normativos’ são os que mais incomodam a categoria.
 
“Os gestores estão despreparados e o modelo de organização do trabalho estimula o bancário a praticar o autoritarismo. Nosso papel é negociar com as empresas condições para uma mudança de postura na gestão, além da criação de cláusulas que estabeleçam novos padrões na relação entre as pessoas, combatendo o individualismo e encaminhando para um processo mais coletivista”, avalia o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo.
 
Clínicas do trabalho
O relatório da pesquisa recomenda que os dados sejam amplamente debatidos com os trabalhadores. Além disso, sugere o fortalecimento de ações voltadas para o assédio moral e a criação de clínicas do trabalho para prestar apoio às vítimas tanto de assédio quanto de adoecimento.
 
Interessados em participar da Clínica do Trabalho devem entrar em contato com a equipe de Psicologia do Sindicato, de segunda a sexta, das 9h às 13h. Para participar do programa ligue 3262-9009. A partir do dia 16 de setembro de 2014, os bancários serão beneficiados com a Clínica do Trabalho, no Sindicato dos Bancários. Toda terça-feira serão realizados encontros, com 1h30 de duração por sessão. Cada grupo terá até 12 pessoas, que poderão participar de até 15 encontros.
 
Será agendado horário para triagem e esclarecimento acerca da proposta do grupo. Caso haja mais inscritos com demanda que se qualifica para a participação nos grupos de clínica do trabalho, será gerada uma lista de espera com os interessados em fazer parte do grupo seguinte, a iniciar após o fim desse primeiro.
 
Ações de impacto
Em curto prazo, será feita a manutenção do acolhimento de bancários pela equipe de Psicologia, prestando a primeira assistência psicológica, assim como esclarecimentos sobre os tipos de serviços em Psicologia que podem ser mais adequados às demandas individuais apresentadas. Esse tipo de serviço possibilita o primeiro atendimento, qualificando-se como uma atividade de apoio ao trabalhador muitas vezes em situação de solidão e vulnerabilidade.
 
Em médio prazo, haverá a divulgação dos resultados da pesquisa: impresso, via website, via e-mail, presencialmente na base com palestras de sensibilização juntos aos bancários, realizadas pela equipe de Psicologia dentro das atividades da Secretaria de Saúde.
 
Da Redação