CI continua sendo usada como instrumento de retaliação a quem fez greve na Caixa

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O aditivo à cláusula que trata no acordo coletivo de compensação de horas não-trabalhadas durante a greve, assinado em 13 de novembro entre a Caixa e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), está sendo solenemente desconsiderado por parte dos gestores em Brasília. Muitos chegam a dizer aos dirigentes sindicais que sequer tomaram conhecimento do que foi acertado entre a empresa e as representações dos empregados. O que está valendo para alguns subordinados imediatos à diretoria é a CI 107, em sua integralidade.

O desrespeito ao que foi negociado é expresso não só em palavras como também em atos. São exigidas compensações absolutamente desnecessárias, com custos significativos em insumos e em suporte para a extensão da jornada e para o comparecimento ao local de trabalho aos sábados, numa evidência de que o propósito é punir quem participou da greve.

Há inclusive casos de empregados que sofreram forte assédio para cancelar férias já marcadas e ficar na empresa durante o período de compensação (até 15 de dezembro). Esse tipo de determinação está sendo dada independentemente de qualquer outra coisa. Não interessa se há acúmulo de trabalho que justifique minimamente a mudança do período de férias (que já havia sido aceito pela empresa) e nem eventuais prejuízos financeiros ou transtornos familiares a serem enfrentados pelo empregado. O que prevalece é o intuito de retaliação contido na famigerada CI 107/08.

O Sindicato considera grave a alegação de gestores de que estão aplicando à risca a CI 107 por não terem recebido orientação para tratar a compensação dos dias da greve pelos termos do aditivo assinado em 13 de novembro. De duas, uma: esses gestores estão mentindo ou então a direção da empresa não levou a sério o que foi negociado com a Contraf/CUT e optou por não reorientar seus gestores, deixando-os à vontade para praticar os mesmos abusos que já vinham cometendo.

 A direção da Caixa pode até dizer que determinou sim o cumprimento do aditivo e que eventuais problemas decorrem de ruídos na comunicação interna. O que ela não tem condições de afirmar é que desconhece completamente as arbitrariedades que estão sendo praticadas à revelia do que foi negociado.  Todos no prédio Matriz sabem que estão acontecendo problemas em áreas comandadas por pessoas diretamente ligadas ao escalão superior.

Há abusos, por exemplo, na própria Gerência Nacional de Gestão de Pessoas, onde empregados que já haviam marcado férias com prévia anuência das chefias foram obrigados a permanecer no trabalho. Quem não quis ver seus planos irem por água abaixo, com prejuízos financeiros e transtornos na família por conta de cancelamento de viagem, teve que assinar documento concordando com o desconto dos dias não-trabalhados durante a greve. A Gerência Nacional de Gestão de Pessoas é subordinada à superintendência responsável por conduzir as negociações com as representações sindicais dos empregados.

Essa permissão para gozo de férias mediante concordância com o desconto mostra que, na realidade, o cancelamento não se dá em função de trabalhos pendentes que precisam ser colocados em dia, porque bastou o empregado assinar o documento para ser liberado. Fica então evidente que o gestor está buscando exclusivamente punir o trabalhador que fez greve.

Os diretores do Sindicato têm visitado unidades e conversado bastante com os gestores. Segundo o secretário de Finanças, Raimundo Félix, os que ignoram o que foi negociado e mantêm a CI 107 no bolso do colete são minoria, mas suas atitudes acabam tendo repercussão em todas as unidades. “Fica no ar a sensação de insegurança e o sentimento de revolta pelos colegas que lutaram em benefício de todos e estão sendo covardemente punidos”. 

Já o diretor Alexandre Severo observa que a maioria dos gestores está agindo de forma sensata, com tranqüilidade e respeito aos empregados que lideram. “Esse time do bem deixa claro que não há a menor razão para conflito, porque o trabalho está sendo normalizado de forma totalmente satisfatória e não tem havido má-vontade entre os trabalhadores em seguir o que é planejando em termos de compensação”.

Sindicato na ofensiva

O Sindicato combate as arbitrariedades com atuação junto aos órgãos trabalhistas e se dedica também à via judicial. Nas unidades com gestores-problema, a ação será à altura dos desmandos praticados, com denúncias, atos de protesto e paralisações. É importante que o empregado que vier a sofrer perseguições busque o amparo da sua entidade. Não deixe de denunciar qualquer tipo de ataque ao seu legítimo direito de greve e continue apostando na luta coletiva.