Caixa como agente de políticas públicas é destaque em debates no Conecef

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O 25º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef), que acontece em Brasília, no Hotel Nacional, entrou hoje no seu segundo dia com o painel "A Caixa frente à crise mundial", tendo como debatedores Márcio Percival, vice-presidente de Finanças da Caixa, e Clóvis Scherer, supervisor técnico do Escritório Regional do Dieese/DF. O terceiro convidado, Ângelo Arruda, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), cancelou sua participação por problemas de saúde.

Márcio Percival iniciou sua exposição lembrando que "o Brasil não é uma ilha" no cenário mundial, mas que aqui as condições para enfrentamento à crise são inegavelmente melhores. Ele atribui a essa situação diferenciada as mudanças implementadas ao longo dos últimos anos na política macroeconômica e no "jeito de fazer política social", que libertaram o país do modelo focado nos juros e na recessão. "Temos hoje condições de adotar postura mais ativa no enfrentamento da crise", destacou Percival.

Para o vice de Finanças da Caixa, as instituições públicas têm sido fundamentais para a implementação das políticas de enfrentamento aos impactos da crise global. No caso da Caixa, a capacidade de intervenção é atribuída por Percival ao processo de "reconstituição de sua identidade de banco público" desde 2002. "Ainda bem que a condução das empresas públicas deu-se de outra forma, porque se não fosse isso não estaríamos aqui para conversar", ressaltou.

Como exemplo do grande potencial da Caixa como instrumento de políticas públicas, Marcio Percival ressaltou a expansão da oferta de crédito, iniciativa em que a empresa tem sido destaque. O crédito no Brasil subiu no último ano do patamar de 35% do PIB para 45%, puxado exclusivamente por instituições públicas – no setor privado houve, inclusive, redução.

Sobre os desafios da Caixa no cumprimento das demandas que estão sendo postas, Percival disse que a dificuldade operacional, sobretudo no que se refere à carência de pessoal, está presente no dia-a-dia da direção da empresa e deve ser discutida dentro do projeto de fortalecimento das atribuições de banco público, se possível, em um contrato de gestão. "Temos que tratar a nossa complexidade com a consciência de que estamos dentro de um banco público que tem potencialidades e também limitações", reforçou.

O Supervisor técnico do Dieese Clóvis Scherer fez uma avaliação positiva para a economia do país neste cenário de crise financeira global e reforçou a importância do papel do Estado e dos bancos públicos. Para ele, é necessário aumentar o crédito e criar contrapartidas sociais para as empresas, evitando demissões e perda de direitos.

Scherer destacou que, apesar de haver setores menos atingidos, a crise não é apenas invenção dos empregados. "Existe um fundamento muito evidente para a crise, que passa pela escassez de crédito, principalmente nos países desenvolvidos. "As perdas são generalizadas, mas são perdas que não podem ser colocadas na conta dos trabalhadores, que não são responsáveis por sua criação", afirma Clóvis Scherer.

Para o supervisor técnico do Dieese, muitos setores não têm sofrido o mesmo impacto com a crise. "O setor de serviços e manutenção continua crescendo, não recebe o mesmo impacto de outros setores", diz. "Existem empresas que vislumbraram um cenário futuro negativo e começaram já um ajuste na folha de pessoal fazendo demissões preventivas. Mas, é um cenário que pode não se confirmar", disse.

Ele afirmou ainda que o Brasil tem condições de melhor resistir à crise. "Mesmo com cortes no emprego formal, a inadimplência teve um acréscimo de apenas 0,9%, o que demonstra que o país tem condições de fazer frente ampliando o crédito", afirmou. "É preciso discutir qual o papel do Estado e o modelo de desenvolvimento que precisamos para este momento. E isso deve passar necessariamente por melhores condições de trabalho e salários maiores. A resistência dos trabalhadores que vem desde a década de 90 deve se intensificar agora", concluiu.

Confira, a seguir, a íntegra da programação do Conecef:

Primeiro dia – 23 de abril
14h – Abertura dos trabalhos – CEE/Caixa.
14h30 – Debate e aprovação do regimento interno.
15h – Apresentação de propostas de modelo do Plano de Cargos Comissionados (PCC), elaboradas pelo GT/PCC com participação de Roberto Sugiyama – Dieese e assessor técnico do GT.
16h – Debate em plenária e aprovação da proposta final dos empregados para o modelo do PCC.
18h – Jantar no Hotel Nacional.
19h – Abertura solene com a palavra dos convidados.
20h – Comemoração de "25º Conecefs".
21h – Apresentação das teses.
22h – Encerramento dos trabalhos do primeiro dia.

Segundo dia – 24 de abril
9h – Painel "A Caixa frente à crise mundial". A conjuntura nacional e internacional: Clóvis Scherer (supervisor técnico do Escritório Regional do Dieese/DF). Políticas públicas da habitação popular: Ângelo Arruda (presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas/FNA). Ações da Caixa para enfrentamento da crise: Márcio Percival (vice-presidente de Finanças da Caixa).
10h30 – Debate entre os expositores e plenária.
12h – Almoço no Hotel Nacional.
13h – Início dos trabalhos em grupo.
17h – Final dos trabalhos em grupo e sistematização dos debates dos grupos.
18h – Encerramento do segundo dia.

Terceiro dia – 25 de abril
9h – Plenária – apresentação e votação dos relatórios dos grupos.
13h – Encerramento do 25º Conecef, com almoço no Hotel Nacional.