Vitor Barros Rego*
A greve que se iniciou neste mês de setembro de 2009 marca uma constante reclamação nas relações de trabalho: o salário e gratificações não compensam o trabalho bancário. Atualmente, trabalhar em banco é tão arriscado quanto trabalhar na construção civil. Estes segmentos são reconhecidos pelo Ministério da Previdência Social com grau três de risco no trabalho, o grau máximo. Parece difícil de conceber, pois bancário não tem que carregar sacos de cimento, arriscar-se nas alturas ou lidar com máquinas perigosas. No entanto, o bancário tem que lidar com ritmo excessivo de trabalho, metas (muitas vezes inatingíveis), horas extras (comuns ao cotidiano), pressão de chefias pouco preparadas para gerir pessoas (e sim, para gerir números e lucros), falta de solidariedade e cooperação no ambiente de trabalho, assédios morais e sexuais, riscos de assaltos, ausência de pausas, clientes mal humorados, dentre outras pequenas violências que, acontecendo diariamente, levam a diversos adoecimentos no trabalho.
A LER/DORT – doença que acomete tendões, músculos e tecidos – representa o imperativo de um ritmo acelerado de trabalho sem pausas para descanso dos braços, e ainda traz consigo um ambiente de trabalho adoecido onde os colegas de trabalho e chefes podem até perceber o processo de adoecimento do colega, mas preferem ignorar e pensar que ele está fazendo corpo mole, levando ao isolamento do lesionado. As metas praticadas são contraditórias: prescreve-se um número “x” de metas, mas é desejável (se não, obrigatório) que se alcance x+10, +100, +200, pois parece ser arriscado demais fazer somente o “x”. O risco que se corre é o de sofrer retaliações, humilhações e estagnação profissional. Desta forma, é espantoso o número de bancários que estão sofrendo por depressão, síndrome do pânico e/ou vem tentando ou idealizando o suicídio. O circo de horror se completa quando se percebe que a reação dos colegas e chefias é não reagir. É a banalização das injustiças e sofrimentos no trabalho. Talvez, fazer greve seja mais uma violência que o bancário sofrerá (por meio de retaliações) no seu trabalho. Porém, estará negando a si o próprio o sofrimento e as contradições do seu cotidiano de trabalho.
Fazer greve, então, é não estar mais submisso aos imperativos implícitos do trabalho bancário, mesmo que o desempenho esteja além das metas. É reconhecer que este trabalho também pode adoecer e que está ficando “caro” e arriscado trabalhar desta forma. Ressalto, então: “trabalhar não é somente produzir, mas também transformar-se a si mesmo” (Christophe Dejours). Sendo assim, que transformações o seu trabalho vem lhe trazendo?
*Vitor Barros Rego é psicólogo, Mestre em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações e acompanha no Sindicato dos Bancários grupos de apoio para bancários lesionados por LER/DORT e afastados por transtornos psíquicos.