Os números da nova pesquisa do Sindicato dos Bancários de Brasília expõem uma realidade dolorosa na categoria: o trabalho nos bancos tem adoecido, física e emocionalmente, milhares de pessoas.
A pressão, o assédio, as metas abusivas e a desumanização das relações são hoje o pano de fundo da rotina de quem mantém viva a estrutura financeira do país.
Realizada entre setembro e outubro, com 910 bancários e bancárias do Distrito Federal, a pesquisa revela um cenário de sofrimento cotidiano e uma realidade que grita por mudança. O estudo foi conduzido por um instituto independente — a Acerte Pesquisa e Comunicação, que tem 34 anos de experiência e é filiada à ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).
Cerca de 8 em cada 10 trabalhadores (81%) acreditam que colegas têm adoecido por causa da pressão, das metas e do ambiente de trabalho. Nas agências, o quadro é ainda mais sombrio: 90% confirmam o adoecimento decorrente da sobrecarga e da cobrança por resultados. São números que traduzem não apenas o estresse, mas um processo coletivo de esgotamento, ansiedade e perda de sentido no trabalho.
Mesmo com a digitalização crescente, o modelo de gestão permanece centrado no controle e na vigilância. Quatro em cada dez bancários (40%) trabalham de forma totalmente presencial, enquanto apenas 4% estão no formato totalmente home office. O desejo por jornadas mais equilibradas e humanas não encontra espaço diante de estruturas rígidas e políticas internas distantes da realidade dos trabalhadores.
Também para cerca de 8 em cada 10 (76%), a percepção é de que “as metas estão cada vez mais abusivas” — um grito numérico que expressa o cansaço coletivo. Entre os caixas, símbolo do contato direto com o público e da pressão diária, 95% concordam com essa afirmação.
A cobrança por resultados, muitas vezes acompanhada de humilhações públicas e ameaças veladas, tem se tornado um método de gestão naturalizado, disfarçado de “motivação”. Nas agências, o assédio moral é rotina: 78% dos entrevistados afirmam que ele é prática diária.
As mulheres são as mais atingidas — 72% delas concordam que sofrem assédio de forma constante, frente a 59% dos homens.
Esses dados não são apenas números ou projeções estatísticas: são histórias de medo, vergonha, ansiedade e resistência. São pessoas que voltam para casa exaustas, que carregam na mente e no corpo o peso de um sistema que cobra cada vez mais e reconhece cada vez menos.
A consequência é clara: 60% dos bancários afirmam já ter adoecido ou estar em processo de adoecimento por causa do trabalho. Depressão, síndrome do pânico, insônia e crises de ansiedade tornaram-se parte invisível do expediente — sintomas de um ambiente em que a produtividade vale mais que a saúde.
A pesquisa também desmascara um mito histórico: o de que “pressão faz parte do trabalho bancário”. Aproximadamente 7 em cada 10 bancários e bancárias (65%) não concordam com essa ideia. Entre os que ainda concordam, prevalece a resignação de quem aprendeu a sobreviver em meio à exigência, mas não a naturaliza.
Há um cansaço profundo, mas também uma vontade crescente de ruptura com esse modelo de sofrimento. Essa realidade, contudo, não é apenas uma fotografia de dor — é também um chamado à ação.
O Sindicato, ao dar visibilidade a esses dados, reafirma seu papel de voz coletiva e agente de transformação. Falar de saúde mental não é apenas discutir sintomas: é denunciar as estruturas que produzem o adoecimento.É dizer, com clareza, que nenhum lucro justifica a perda de vidas, de sonhos ou de equilíbrio emocional.
Os bancários de Brasília mostraram, com coragem, o que há por trás dos números:
• o esgotamento de uma categoria que sempre foi sinônimo de estabilidade;
• a solidão de quem sente que precisa sorrir mesmo em meio à dor;
• e a esperança de que o trabalho possa voltar a ser um espaço de dignidade e não de medo.
O futuro do sistema financeiro precisa ser repensado. Não é possível falar em inovação, resultados ou eficiência sem colocar a vida no centro das relações de trabalho.
O desafio está lançado: humanizar o banco é o único caminho possível para reconstruir o sentido do trabalho.
Porque o que está em jogo não é apenas a saúde dos bancários — é a própria humanidade do trabalho.
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