Dez anos após ocuparem Brasília pela primeira vez, mulheres negras de todas as regiões do país retornam à capital federal nesta terça-feira (25) para a 2ª Marcha das Mulheres Negras – Por Reparação e Bem Viver. A mobilização, que reúne movimentos feministas negros, coletivos de mulheres e entidades como a CUT, volta para cobrar respostas do Estado às desigualdades históricas que ainda estruturam a vida da população negra.
A concentração está marcada para as 9h, no Museu Nacional da República, de onde as participantes seguem em caminhada até a Esplanada dos Ministérios. O percurso simboliza, mais uma vez, a pressão direta sobre os poderes institucionais para a adoção de políticas de Estado voltadas à população negra.
“Dez anos depois da primeira marcha, em 2015, as mulheres do Brasil inteiro se mobilizam e se organizam para participar da segunda marcha. Essa marcha é fundamental para chamar a atenção sobre questões históricas da luta dessas mulheres oprimidas. É pelo bem viver que as mulheres vão marchar em Brasília”, afirma Maria Júlia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT.
A primeira edição da marcha ocorreu em 18 de novembro de 2015. Na época, o país vivia uma forte crise política, e a iniciativa surgiu para denunciar o racismo e o sexismo sofrido por mulheres negras. A ação reuniu mais de 100 mil participantes em todas as regiões do país.
Júlia reforça que o objetivo central é visibilizar a realidade enfrentada cotidianamente pela população negra: “Queremos destacar a importância de as mulheres organizadas chamarem a atenção e fazerem a sociedade brasileira olhar para a situação em que nós vivemos”.
Mulheres negras buscam reparação histórica
A mobilização deste ano destaca a necessidade de medidas concretas que promovam mobilidade social, diante dos danos acumulados por séculos de escravidão, racismo estrutural e exclusão econômica. A herança desses processos ainda determina índices desiguais de renda, acesso à educação, saúde, habitação, segurança e oportunidades de trabalho.
A marcha, portanto, reivindica que o Estado brasileiro reconheça esses impactos como responsabilidades históricas, e que políticas públicas sejam implementadas para corrigir distorções que persistem no presente.
Em uma década de história, houve avanços, mas ainda existem muitos desafios. "A expectativa está enorme. Já que as mulheres negras ocupam os postos mais precarizados no país, essa é a situação que nós queremos denunciar. São as mulheres que são maioria nos trabalhos informais e também quando se trata do desemprego”, completa a dirigente.
Lançamento de manifesto
As organizações de mulheres negras divulgaram o Manifesto das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, documento construído coletivamente e que reúne propostas distribuídas em sete eixos centrais. Leia o manifesto.
Os sete eixos constituem um caminho concreto para reparar danos passados e construir um futuro baseado no bem viver — conceito que integra justiça social, equilíbrio ambiental, dignidade e autonomia comunitária.
Dez anos depois
Para as mulheres negras que marcham pela segunda vez na capital federal, a presença nas ruas reafirma a continuidade de um projeto político forjado na resistência cotidiana. A pauta da reparação — reforçada na edição de 2025 — é apresentada como um compromisso não apenas com o presente, mas também com as próximas gerações.
A expectativa das organizações é que a marcha pressione por mais avanços institucionais e mantenha viva a memória da luta por igualdade racial no país. Em Brasília, as vozes e os corpos das mulheres negras ocupam novamente o centro do poder, ecoando um chamado que atravessa o tempo: reparação já, para que o bem viver seja possível.
Fonte: CUT
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