O Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC) aprovou nesta terça-feira, 29 de setembro, proposta do governo (Ministério da Previdência Social e Secretaria da Previdência Complementar) para regulamentar o uso de superávit e cobertura de déficit dos planos de previdência administrados pelos fundos de pensão. O CGPC é composto por cinco membros do governo, um indicado pelos patrocinadores, um indicado pelos fundos de pensão e um indicado pelos participantes e assistidos este, de indicação da Anapar, é o diretor eleito da Previ José Ricardo Sasseron.
A proposta do governo faz lembrar os tempos de Fernando Henrique Cardoso, quando houve até intervenção na Previ na tentativa de transferir recursos para o Banco do Brasil. Sob o pretexto de regular uso de superávit, os representantes do governo criaram regras que afrontam a legislação.
A Secretaria de Previdência Complementar, via Conselho de Gestão, deixou o papel de fiscalizadora para exercer o de gestora dos fundos de pensão ao definir, sem nenhuma análise dos ativos, de suas rentabilidades e os compromissos com os participantes, que os fundos com superávit têm de reduzir a taxa atuarial para 5%, antes de qualquer alteração de benefícios.
A portaria estabelece regra absurda para que se desconte do superávit o volume de renda variável que superar os limites de enquadramento de 50% para renda fixa e 50% para renda variável. O governo passado obrigou os fundos a comprarem as empresas, e é por isso que a Previ tem mais de 50% do patrimônio aplicados em renda variável. E o atual governo determina que esses recursos não sejam considerados parte do superávit. Ou seja, os donos do patrimônio não podem transformá-lo em benefícios, já que em último caso quem decide é o governo, uma vez que as diretorias, via de regra, são indicadas pelo patrocinador. E quando isso não acontece quem pode decidir também é o patrocinador, com voto de minerva no Conselho Deliberativo.
Além disso, a resolução introduz a possibilidade de devolução de contribuições aos patrocinadores. O Banco do Brasil e outros patrocinadores poderão receber de volta parte das contribuições, caso o superávit ultrapasse os 25% da reserva de contingência, (caso exista reserva de contingência e caso sejam atendidas algumas condicionantes). Essa devolução aprovada pelo CGPC é ilegal e devemos combatê-la com toda energia. A lei se limita a prever que, se houver reserva especial, estes excedentes sejam utilizados para revisão do plano de benefícios ou redução de contribuições. O CGPC ultrapassou a lei e, por isso, vamos combater a sua decisão, inclusive através de medidas judiciais. Esse dispositivo faz o mais empedernido dos tucanos se sentir diminuído frente a esse ataque que tentam fazer ao patrimônio dos associados.
O diretor eleito da Previ, José Ricardo Sasseron, questionou e pediu vistas do processo durante a reunião do CGPC, para melhor análise e debate com os participantes de vários fundos de pensão. O pedido de vistas foi negado de forma autoritária, ficando claro que o Secretário da Previdência Complementar e demais membros do Conselho queriam votar a toque de caixa uma minuta de resolução que havia sido disponibilizada cinco dias úteis antes da reunião. Ante ao desrespeito e falta de sensibilidade, restou a Sasseron retirar-se da reunião para não compactuar com tal decisão.
Permitir que recursos dos fundos retornem para o patrocinador significa colocar os planos de previdência em risco e abrir a possibilidade de um atentado contra os recursos dos associados, pois muitos fundos poderão, no futuro, gerar superávits fictícios para possibilitar que o patrocinador ponha a mão em recursos da previdência de seus empregados.
A norma estabelece também como condicionante para a utilização da reserva especial a aplicação de nova tábua de mortalidade (AT2000).
Enfim, uma resolução que atende aos interesses do banco e de outros patrocinadores, concedendo-lhe a possibilidade de buscar, na boca do caixa da Previ, um cheque. Coisa que nunca aconteceu na história da Previ e dos demais fundos de pensão brasileiros e que, hoje, num governo eleito pelos trabalhadores, se procura permitir.
A nossa resistência a essa resolução e seus efeitos começam desde já. Nossos sindicatos, entidades do funcionalismo e associações de aposentados devem se manifestar e incorporar as lutas contra a apropriação de parte do superávit pelo banco.
Francisco Alexandre Diretor de administração eleito da Previ
José Ricardo Sasseron Diretor de Seguridade eleito da Previ
Mirian Fochi Conselheira Deliberativa eleita da Previ
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