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1 de Abril de 2016 às 14:31

Mais de 200 mil vozes gritam Não Vai Ter Golpe

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Colorida pela diversidade das cerca de 200 mil pessoas que vieram de todas as partes do país, especialmente de Brasília e entorno, para gritar “Não vai ter golpe” ao conservador Congresso Nacional, a capital federal foi palco de uma das maiores manifestações de defesa da democracia na tarde dessa quinta-feira (31).

Dirigentes e militantes da CUT, trabalhadores, artistas, sindicalistas das mais de 100 entidades CUTistas de Brasília, de outras seis centrais, mulheres, sem terras e sem teto do MST, FNL e MTST, estudantes, negros, índios, LGBT’s e vários outros segmentos da sociedade civil deixaram claro que o povo brasileiro não permitirá que o Brasil repita o dia 31 de março de 1964, quando uma conspiração da elite econômica e social estava sendo concluída para afastar um presidente democraticamente eleito do poder por meio de um golpe de Estado que desencadearia 21 anos de ditadura militar.

Não foi só em Brasília que o povo gritou pela democracia. Atos políticos e culturais reuniram mais de 850 mil pessoas em mais de 50 cidades brasileiras. Fora do país, brasileiros e movimentos sociais de 16 países também se manifestaram contra o golpe em curso no estado brasileiro e enviaram mensagens de apoio ao governo federal nas redes sociais.

“Sabemos que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff não se trata de uma luta contra a corrupção, como dizem os grandes meios de comunicação de massa e a direita desse país. Senão a investigação atingiria a todos os partidos e as empresas corruptoras. Trata-se sim de um golpe de Estado das elites derrotadas nas urnas, que visa tomar o poder ilegitimamente e, na sequência, retirar direitos duramente conquistados por todos os brasileiros, sobretudo a classe trabalhadora, e entregar riquezas e patrimônio do povo brasileiro às empresas multinacionais. Lutaremos para manter e aprimorar a democracia no nosso país e também por uma nova política econômica, com taxação das grandes fortunas, pelo fim da reforma da previdência e contra todos os projetos que prejudiquem a classe trabalhadora e a população menos favorecida desse país”, afirma o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto.

Os vários movimentos sociais organizados começaram a chegar de todos os cantos do Brasil no estádio Mané Garrincha por volta das 14h, trazendo na bagagem um pouco de sua cultura e enriquecendo o ato político com cartazes, faixas, adesivos e camisetas com mensagens de apoio ao estado democrático de direito e lembranças tenebrosas da época da ditadura militar. Vários movimentos de juventude homenagearam estudantes mortos durante o período, como Edson Luíz e Honestino Guimarães. “Eu acredito que nós não podemos esquecer o que acontece com um país quando a ordem democrática é descumprida, que foi o que aconteceu quando o presidente João Goulart foi deposto e declararam vaga a presidência da República. Estamos diante de um golpe diferente, é claro. Não acredito que as forças armadas  assumiriam o poder agora; está claro que quem quer tomar o poder é parte do PMDB e o PSDB. Mas a democracia é a nossa única garantia que os direitos não serão atropelados. Isso é muito sério e as pessoas precisam começar a se atentar que a luta não é por um partido ou por uma presidenta, mas pelos nossos direitos, liberdades e pela democracia”, afirma o estudante de Relações Internacionais, Eliezer Justo.

Das 14 às 17h, os militantes se concentraram no estacionamento do estádio, a espera dos ônibus que chegaram de várias partes do país para se somar a Brasília e descer o Eixo Monumental em direção a Esplanada dos Ministérios, fazendo com que o grito pela democracia ecoasse no epicentro de poder da capital federal até chegar ao Congresso. Ao longo do percurso, porém, numa atitude que foi considerada como “golpista” pela maioria dos movimentos que realizaram falações, a Polícia Militar de Brasília atrasou a entrada de vários ônibus que chegavam à cidade pelo Núcleo Bandeirante, fazendo uma vistoria e causando um enorme engarrafamento. Revistaram os ônibus, procurando irregularidades a fim de  barrar a chegada de centenas de militantes.

Apesar de ter tido uma interrupção técnica entre a saída da marcha do estádio e a chegada ao Congresso Nacional, a manifestação pela democracia e contra o golpe foi transmitida ao vivo durante 4 horas e meia pelos sites e rede social da CUT e pela página do Comitê em Defesa da Democracia e Contra o Golpe no facebook, fazendo com que os shows e o ato político pudessem ser acompanhados integralmente.

Impeachment sem crime é golpe

Encabeçado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção, lavagem de dinheiro e ocultação de contas no exterior,  o  processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff que se encontra no Congresso não possui justificativa legal, uma vez que, para a Constituição Federal, o chefe do poder Executivo só pode ser afastado de seu cargo caso haja comprovação de crime de responsabilidade no mandato em curso. “Não há nenhuma comprovação de ato ilícito cometido pela presidenta, nem no atual mandato e nem no mandato anterior. Portanto, se não há crime, o impeachment é golpe”, afirma Rodrigo Rodrigues, secretário-geral da CUT Brasília, parecer que é reafirmado por juristas e apoiado por todas as entidades sindicais e sociais e os partidos que formam as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que organizam as manifestações Não Vai Ter Golpe.

“A CUT sempre esteve nas ruas na luta pela democracia ao longo de sua história. Para nós, defender a democracia é defender os direitos da classe trabalhadora. Entendemos que a partir do momento que o nosso atual regime democrático for rompido, não haverá garantia de direitos para os trabalhadores desse país e esse é um movimento vital para todos nós, que continuaremos nas ruas do Brasil lutando bravamente contra qualquer tentativa de golpismo”, afirma a vice-presidenta nacional da CUT, Carmém Foro.

Para a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), a história está exigindo que a população tome uma postura pelo Brasil. “Temos absoluta convicção de que o movimento golpista rompe o terreno democrático e faz emergir uma série de vozes fascistas que estavam silenciadas pela democracia. Esse país carrega muitas marcas no corpo e na alma dos porões da tortura que silenciaram e inviabilizaram muitos direitos. Os direitos dos negros, das mulheres, das crianças, dos LGBT’s. Estamos aqui com as nossas histórias, carregando os nossos meninos no colo, as nossas crianças não estão sendo carregadas por criadas em carrinhos, estão sendo carregadas no nosso colo porque é a responsabilidade por esse país que nos faz lutar pela democracia”, afirma a deputada federal.

Érika Kokay acredita que o acirramento da luta de classes é um dos fatores que contribuem para o golpismo: “Eles (as elites) buscam chegar ao poder porque querem os trabalhadores na senzala, querem as universidades exclusivas para os seus filhos e filhas, buscam chegar ao poder porque não querem compartilhar os aviões com a população de baixa renda, buscam chegar ao poder porque não suportam que a classe trabalhadora tenha seus direitos e estamos lutando em defesa desse país, da democracia, de uma sociedade justa”, discursou a deputada.

Luta unificada

O apoio à democracia, legalidade e ao projeto democrático popular dos últimos treze anos reuniu várias bandeiras na Capital Federal. A grande maioria dos manifestantes mostravam repúdio a parlamentares como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Michel Temer (PMDB-SP), José Serra (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG). A rede Globo de televisão, centralizando as críticas à grande mídia golpista, foi citada pelos manifestantes como “manipuladora”, “rede esgoto”, “fascista e sensacionalista”. Episódios históricos envolvendo a emissora de TV foram relembrados, como o apoio do grupo Globo à ditadura militar e a perseguição aos partidos e personalidades da esquerda brasileira.

Um dos grandes perseguidos pela emissora de TV, o ex presidente Lula, não pôde comparecer ao ato político que finalizou a marcha. Mas divulgou vídeo sobre as manifestações, onde afirma que o povo brasileiro está dividido, mas anima a militância a continuar lutando pela democracia. A mensagem foi reproduzida durante o ato à noite em frente ao Congresso.

Defesa de direitos conquistados

“Os movimentos sociais aqui presentes na marcha reafirmam o compromisso com a defesa da democracia, do estado laico, das liberdades individuais e coletivas. É o momento de ir pra rua e exigir que a nossa carta magna que é a Constituição Federal seja respeitada. Reconhecemos que primeiro o governo da Dilma e depois o governo Lula foram os primeiros que têm o compromisso com um projeto democrático popular de enfrentar as desigualdades, vencer os preconceitos e incluir mulheres, homens, a população LGBT, a população negra, povos e comunidades tradicionais, a população de rua, a juventude, porque a gente pauta pelas igualdades sociais”, afirmou o presidente da União Nacional LGBT, Andrey Lemos.

Para o militante social, um deputado como Eduardo Cunha envolvido em vários processos de corrupção não tem legitimidade para presidir uma Casa no Legislativo e nem para coordenar uma comissão de impeachment. “A população LGBT reconhece que esse projeto tem o compromisso com o povo brasileiro, por causa disso e pelas 32 milhões de pessoas que saíram da miséria, estamos vendo rearticulação da direita conservadora de querer tomar o poder e destituir um governo democraticamente eleito por 54 milhões de brasileiros. Então estamos nas ruas pra dizer que não vamos aceitar o rompimento da democracia e que enfrentaremos até o último minuto o golpismo da direita e da elite conservadora”, garante  Andrey Lemos.

Como barrar o golpe

Para a dirigente nacional da CUT, Maria das Graças Costa, a Câmara dos Deputados não vai ficar indiferente ao brado pela democracia que ecoou na capital federal e nas principais cidades do país nessa quinta-feira (31). “Acredito que estamos virando o jogo. Essa manifestação nacional, com tanta força aqui em Brasília mostra que a população não vai aceitar o golpismo. O povo está começando a entender que existe algo muito estranho por trás desse impeachment e não acredita na legitimidade de Eduardo Cunha e nem da comissão que vai julgar o processo”, avalia a sindicalista.

Para Graça, o que está por trás do processo de impeachment são os patrimônios nacionais e os benefícios para os grandes empresários, representados pelos parlamentares que perseguem a presidenta Dilma.

“Apesar de toda composição conservadora e retrógrada do Congresso, não existe unanimidade quanto ao impeachment. A voz das ruas será ouvida, mas precisamos também aumentar a pressão sobre os parlamentares e exigir que se comprometam com a democracia. Vamos conversar com os nossos deputados e lotar as caixas de e-mail. Dentro e fora do Congresso haverão manifestações e esse povo vai continuar ocupando as ruas. Não vai ter golpe!”, completa a dirigente nacional da CUT.

Fonte: CUT Brasília

Fotos: Heitor Lopes, Rick Oliveira e Allen Garcia

 

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