As bancárias de Brasília juntaram-se às milhares de mulheres negras vindas de todas as regiões do Brasil, incluindo representantes de outros países, e ocuparam a Esplanada na manhã desta terça-feira (25), durante a 2ª Marcha das Mulheres Negras por “Reparação e Bem-Viver”. A mobilização, fruto de uma construção coletiva entre diversos movimentos sociais, combinou força política e expressão cultural em uma demonstração de visibilidade e poder. As participantes levaram bandeiras, cartazes, faixas, turbantes, instrumentos musicais, com muita percussão, e reafirmaram sua identidade e ancestralidade.
A concentração começou no Museu da República, onde as mulheres dançaram ao som da cultura afro-brasileira e assistiram à cerimônia de abertura. A marcha percorreu a Esplanada até a Praça dos Três Poderes, onde parlamentares e representantes de entidades negras e feministas deram voz às demandas históricas do movimento.
A diversidade foi uma das marcas da mobilização: participaram jovens e idosas, trabalhadoras urbanas e rurais, mulheres negras, transexuais, lésbicas, com deficiência, feministas, sindicalistas, artistas, artesãs — mostrando a pluralidade de vozes do movimento.
Pautas e reivindicações
A marcha leva ao centro do poder político nacional uma agenda ampla de reparação histórica e bem-viver — que vai além da simples sobrevivência. Entre os pedidos, estão:

Segundo as organizadoras, a reparação precede o bem-viver: trata-se de reconhecer historicamente os danos causados pela escravidão e o racismo estrutural, e agir para corrigir as desigualdades socioeconômicas.
O manifesto econômico reafirma que as mulheres negras não podem ser apenas beneficiárias de políticas públicas — elas exigem ser formuladoras, participando de decisões que moldam a economia e as políticas sociais do país.
Um movimento de muitos territórios
A 2ª edição da Marcha das Mulheres Negras acontece dez anos depois da histórica primeira mobilização, em 2015 — quando cerca de 100 mil mulheres marcharam com o lema “Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver”.
Desta vez, caravanas saíram de todos os estados brasileiros. Só de São Paulo partiram pelo menos 13 delegações com cerca de 350 mulheres. Além disso, o movimento ultrapassou fronteiras: mulheres de países da América Latina, do Caribe e de outros países estiveram em Brasília para se somar à luta, fortalecendo a articulação regional e internacional.
Estiveram presentes, por exemplo, mulheres da Confederação Comarca Afro-equatoriana do Norte de Esmeraldas (CANE), que defendem os direitos coletivos de seus territórios ancestrais.
Entre as participantes está Melina de Lima, neta da antropóloga e feminista negra Lélia Gonzalez — referência fundamental para o feminismo negro no Brasil.
Ato político – audiência no STF e show cultural
A mobilização não se limitou à passeata. No fim da tarde, a programação incluia shows gratuitos com artistas negras de todo o país e à noite, uma comitiva da Marcha se reuniu com o presidente do Supremo Tribunal Federal.
O encontro com Edson Fachin teve o objetivo de apresentar as demandas do movimento, especialmente no que diz respeito à política de segurança pública e à recente chacina na Penha, no Rio de Janeiro.

“Um novo capítulo” na história de lutas das mulheres negras
Para Ana Cristina Machado, secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF, a mobilização marca um momento definidor:
“Estou certa de que a Marcha inicia um novo capítulo na história de lutas das mulheres negras no Brasil. A atividade mostrou a nossa capacidade de mobilização e articulação, além de apontar para o futuro que precisamos e queremos. As mulheres negras conseguiram trazer a sua pauta para o centro político e para a imprensa tradicional. Com esse ato, rompemos barreiras, estreitamos laços e reafirmamos a necessidade de sermos ouvidas.”
Nesta 2ª edição, o movimento não apenas celebra a caminhada de uma década e reafirma que suas causas são contemporâneas, urgentes e transformadoras: reparação, justiça econômica, dignidade, visibilidade e vida plena.
Da Redação com CUT-DF, Sinpro-DF e Agência Brasil
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